27 de fevereiro de 2010

Sai de cena Walter Alfaiate, estilista do samba

Internado desde dezembro, o sambista Walter Alfaiate (1930 - 2010) saiu de cena na tarde deste sábado, 27 de fevereiro de 2010, vítima de falência múltipla dos órgãos. Estilista do samba carioca, Alfaiate - visto acima em foto de Márcia Moreira, feita para o último CD do artista, Tributo a Mauro Duarte (2005) - iria completar 80 anos em 7 de junho. Natural de Botafogo, bairro que também viu o artista nascer como compositor ao fornecer repertório para blocos carnavalescos como o Foliões de Botafogo, Walter Nunes - que incorporou o Alfaiate ao sobrenome artístico por ter se exercido o ofício desde os 13 anos - debutou nos palcos como cantor da noite, integrando como músico e vocalista os conjuntos Os Autênticos, Reais do Samba e Samba Fogo. Alfaiate somente ganharia (alguma) visibilidade fora do circuito carioca quando, em 1971, Paulinho da Viola gravou Cuidado, Teu Orgulho te Mata (parceria de Alfaiate com Mauro Duarte) num dos dois álbuns que lançou naquele ano. Em 1979, Paulinho repetiu a dose ao registrar Coração Oprimido (parceria de Alfaiate com Zorba Devagar) no álbum Zumbido. Dois anos depois, em 1981, o mesmo Paulinho gravou A.M.O.R. Amor, outro samba de Alfaiate com Mauro Duarte. Apesar desses sucessivos avais, o artista iria debutar no mercado fonográfico somente em 1998, aos 68 anos, com o CD Olha Aí (Alma). Em 2002, gravou o segundo disco, Samba na Medida (CPC-Umes). Já o último álbum, Tributo a Mauro Duarte (Fina Flor), saiu em 2005. O quarto trabalho já vinha sendo planejado por Alfaiate. Seria um disco de intérprete!!!

RoRo repete números (e piadas) em 'Escândalo'

Resenha de Show
Título: Escândalo
Artista: Ângela RoRo (em foto de Marcelo Fróes)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 25 de fevereiro de 2010
Cotação: * * *

Com exceção dos shows em que priorizou o repertório de inéditas de seu álbum Compasso (2006), Ângela RoRo vem repetindo piadas e números em suas apresentações, quase sempre divididas solitariamente com o tecladista Ricardo Mac Cord. Escândalo - o show que RoRo fez nesta última semana de fevereiro de 2010, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ) - se enquadrou dentro desse estilo. O pretexto das duas apresentações foi promover a edição do CD também intitulado Escândalo, produzido por Marcelo Fróes e lançado no fim de 2009 com a reunião das gravações feitas pela artista em 2005 para a temporada de seu programa Escândalo, exibido pelo Canal Brasil. O formato econômico do show esteve em sintonia com o tom íntimo dos registros do disco.

Escândalo, o show, foi igual a tantos outros feitos por RoRo nos últimos anos. A maior novidade foi o jogo de luz que preencheu o palco do Teatro Rival. Poucas vezes, RoRo cantou sob iluminação tão bonita. Contudo, mesmo déjà-vu, o show foi bom e contentou o público. Se as piadas podem soar velhas para os frequentadores habituais dos shows de RoRo, elas continuam sendo garantia de riso. A artista tem humor rápido e irônico. Já as interpretações nem sempre estão à altura de sua voz. Alguns números iniciais - Loucura Maior, Bater Não Doi (momento politizado, com direito a improvisados versos falados sobre o terremoto que devastou o Haiti) e Sim, Dói (com sintetizados sons orquestrais) - fizeram supor um show mais apático. A partir de Senza Fine, no entanto, RoRo foi oferecendo interpretações mais condizentes com suas possibilidades de intérprete, embora sem o rigor estilístico de outrora. As Time Goes by, All the Way e Ne me Quite Pas - três standards estrangeiros recorrentes nos shows de Ângela há quase 20 anos - jogaram para cima um show que, na apresentação de 25 de fevereiro, teve sua temperatura elevada com a participação calorosa de Ana Carolina. No fim, Simples Carinho e Amor, meu Grande Amor reiteraram o êxito possível deste show Escândalo.

CD agrega sentimentos de Senise e Peranzzetta

Resenha de CD
Título: Melodia
Sentimental
Artista: Gilson Peranzzetta e Mauro Senise
Convidada: Silvia Braga
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Num dos textos publicados no encarte de Melodia Sentimental, CD que celebra os 20 anos da parceria fonográfica de Mauro Senise com Gilson Peranzzetta, Edu Lobo se refere ao termo Third Stream - criado pelo compositor e músico norte-americano Gunther Schuller para caracterizar a abordagem jazzística de peças do cancioneiro erudito - para explicar o som do álbum em que Senise e Peranzzetta recebem a harpista Silvia Braga como convidada. De fato, imersos nessa Terceira Corrente, Senise e Peranzzetta embaralham os conceitos de popular e erudito ao tocar um repertório que irmana temas de Johann Sebastian Bach (1685 - 1750) e Claude Debussy (1862 - 1918) com músicas de Tom Jobim (1927 - 1994) e Ary Barroso (1887 - 1959), passando por Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), o compositor brasileiro cuja obra em si já derrubou em alguns momentos a tênue fronteira entre clássico e popular. De Villa-Lobos, a dupla toca Melodia Sentimental - a faixa-título no qual se sobressai a harpa de Braga - e Lenda do Caboclo, peça adornada com citações dos temas folclóricos Prenda Minha e Peixe Vivo. A dose de improviso às vezes é (acertadamente) baixa, como em Amparo, o tema inicialmente instrumental de Jobim que passou a se chamar Olha Maria quando ganhou os versos de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) e Chico Buarque. O registro de Senise e Peranzzetta tem arranjo de Eumir Deodato. Em contrapartida, a dupla põe novos ingredientes No Tabuleiro da Baiana (Ary Barroso) com a liberdade concedida aos músicos que transitam pelo universo do jazz. Acima de qualquer rótulo ou corrente, o sentimento parece ser a mola propulsora das onze gravações contidas neste álbum que reafirma a interação entre o piano de Peranzzetta (autor da maioria dos arranjos) e a flauta e o sax de Senise. Sentimento perceptível, por exemplo, em Teresa, tema feito por Peranzzetta em homenagem a Maria Teresa Senise, irmã de Mauro. Como sugere Edu Lobo ao fim de seu texto tão preciso quanto sucinto, o disco poderia se chamar Melodias Sentimentais.

'Refill' não altera o tom de 'Relapse', de Eminem

Resenha de CD
Título: Refill
Artista: Eminem
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * *

Lançada nos Estados Unidos em 21 de dezembro de 2009 e recém-editada no Brasil neste mês de fevereiro de 2010, Refill - a versão turbinada de Relapse, quinto álbum de Eminem - não tem cacife (com suas sete faixas-bônus) para alterar o status do álbum original. As sete faixas-bônus chegaram ao mercado fonográfico apenas sete meses após a edição de Relapse, em maio de 2009. Em Relapse, que até vendeu bem nos Estados Unidos mesmo sem ser um arrasa-quarteirão como outros discos do rapper, Eminem encarou seus vícios e demônios sem reeditar as ousadias estilísticas do anterior Encore (2004). Refill transita pelo mesmo trilho. Das sete faixas-bônus, somente cinco são inéditas, já que Forever e Taking my Ball foram apresentadas na trilha sonora de More Than a Game e de um game de DJ Hero, respectivamente. Do material de fato novo, Bufallo Bill, Elevator e Music Box são os destaques, sendo que a terceira exibe a batida e a introdução mais fora do comum. Já Hell Breaks Loose - faixa em que figura Dr. Dre - decepciona pelo histórico do colaborador. No fim, em Drop the Bomb on 'Em, Eminem destila sua ira sobre uma batida mais dura, sem reeditar o impacto de hits anteriores. No todo, Refill mantém - como já dito - a pegada de Relapse. E é só!!

DVD reconta a história influente do Roxy Music

Recém-lançado no Brasil, o DVD The Story of Roxy Music - More Than This conta, como já exposto no título, a história do Roxy Music, ótimo grupo de art rock formado na Inglaterra, em 1972, que se tornou um dos mais influentes de uma era que o rock hibernava antes de ser despertado pelo punk. Através de imagens de arquivo e de entrevistas recentes e inéditas, o documentário refaz os passos da banda que projetou Brian Ferry (voz e teclados) e Brian Eno (sintetizadores). Eno acabaria deixando o Roxy Music após a gravação do segundo álbum, For Your Pleasure (1973), por se sentir incomodado com a liderança de Ferry na condução do grupo. Além do documentário, o DVD exibe três números - Both Ends Burning, Editions of You e Do the Strand - captados em 2006 na reunião do Roxy Music, cuja criação ainda reverbera. Vale ver!

26 de fevereiro de 2010

'Exile on Main Street', dos Stones, ganha bônus

Um dos (maiores) clássicos da discografia dos Rolling Stones, o album duplo Exile on Main Street, lançado em 1972, ganha reedição especial com dez faixas-bônus. Entre os tais bônus, há músicas inéditas - casos de Plundered my Soul, Dancing in the Light, Pass the Wine e Following the River (produzidas por Jimmy Miller, Glimmer Twins e Don Was) - e versões alternativas das faixas Soul Survivor e Loving Cup. A reedição especial vai chegar às lojas a partir de 17 de maio de 2010, em escala mundial, via Universal Music. O material de arquivo ganhou adição de guitarra (posta por Keith Richard), percussões e vocais (a cargo de Mick Jagger), mas, de acordo com declarações de Jagger, permanece fiel ao formato original. Juntamente com a reedição está programada a estreia do documentário Stones in Exile, dirigido por Stephen Kijak. O filme flagra a banda na gravação do álbum duplo, que volta às lojas em três formatos: o original, o especial (com as faixas-bônus) e em luxuoso box que embala vinil, livro e DVD com um outro documentário sobre os Stones. Este box não deverá sair no Brasil.

RoRo e Ana voltam unir vozes quentes no palco

Em 3 de dezembro de 2008, ao fazer show no Canecão (RJ), Ângela RoRo recebeu Ana Carolina como convidada. Juntas, as cantoras uniram suas gargantas intensas em quatro números (clique aqui para ler a resenha desse show). Encontro bisado no recém-lançado projeto de duetos da intérprete de Garganta - Ana Car9lina + Um, editado em CD e DVD dentro da série Multishow Registro - e na segunda das duas apresentações do show Escândalo, feitas por RoRo esta semana no Teatro Rival (RJ). No show de ontem, 25 de fevereiro de 2010, RoRo reeditou com Ana dois dos quatro duetos feitos no Canecão. De início, RoRo e Ana - vistas acima em fotos cedidas por Marcelo Fróes - cantaram o tango pop Homens e Mulheres em dueto caloroso e vibrante, ainda que eventualmente desentrosado. À vontade, as cantoras forjaram toda uma atmosfera de sedução que valorizou o número. No fim, Compasso - uma das poucas músicas realmente boas do homônimo álbum de inéditas que RoRo lançou em 2006 - pulsou quente nas vozes das cantoras. Entusiasmado, o público aplaudiu o encontro, "uma brincadeira entre artistas", na definição sincera de RoRo. Escândalo, o show, ganhou tal título porque RoRo quis badalar o recente lançamento do CD do mesmo nome, produzido por Marcelo Fróes com a reunião de gravações feitas pela intérprete para a temporada de 2005 do programa - também intitulado Escândalo - que a cantora apresentou no Canal Brasil.

Ice Cube lança álbum 'I Am the West' em julho

Um dos rappers norte-americanos mais bem-sucedidos do estilo gangsta, Ice Cube - visto acima em foto extraída de sua página no portal MySpace - está finalizando seu décimo álbum de estúdio, já intitulado I Am the West. O sucessor de Raw Footage (2008) segue a linha gangsta e já tem edição prevista para julho de 2010.

Thom Yorke divulga o nome de sua nova banda

Atoms for Peace. Este é o nome da nova banda de Thom Yorke. Formada no fim de 2009 pelo cantor do Radiohead, a banda agrega Flea (baixista do Red Hot Chili Peppers), Joey Waronker (baterista do R.E.M.), o produtor Nigel Godrich e um músico brasileiro, Mauro Refosco. Percussionista nascido em Joaçaba (SC), mas já radicado há anos nos Estados Unidos, Refosco ficou conhecido na cena pop estrangeira ao tocar no Forro in the Dark, grupo norte-americano cultuado por nomes como Bebel Gilberto e David Byrne. Quanto ao nome da banda capitaneada por Yorke, vale lembra que Atoms for Peace é também o título de uma das músicas de The Eraser (2006), álbum solo do artista. A partir de março de 2010, a nova banda cai na estrada - com série de shows pelos Estados Unidos. Nada foi revelado, por ora, sobre um disco.

25 de fevereiro de 2010

Saem os vinis de Pitty, Takai, Nação e Cachorro

Em operação desde o início de 2010, a Polysom - única fábrica de vinil da América Latina, desativada em outubro de 2007 e comprada pela Deckdisc em abril de 2009 - vai atender a demanda de todos os selos e gravadoras do Brasil e dos países vizinhos. Fabricados para a própria Deckdisc, os quatro títulos inaugurais dessa retomada são as edições em vinil de álbuns de Pitty (Chiaroscuro, 2009 - veja capa acima), Fernanda Takai (Onde Brilhem os Olhos Seus, 2007), Nação Zumbi (Fome de Tudo, 2007) e Cachorro Grande (Cinema, 2009). Os quatro LPs vão estar nas lojas em março - à espera de consumidores em potencial.

Biscoito Fino edita CD ao vivo de Duke Ellington

Segundo título do selo Biscoito Internacional, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino para editar no Brasil discos estrangeiros, Live in Zurich, Switzerland 2.5.1950 traz o registro de um show feito na Suíça pela orquestra liderada pelo pianista e maestro Duke Ellington (1899 - 1974), um dos pioneiros gênios do jazz. A maioria dos 14 temas registrados no disco é de autoria do próprio Ellington. Entre eles, há Suddenly It Jumped, Creole Love Call, Paradise, Ring Them Bells, Air Conditioned Jungle, Rockin' in Rhythm e Frankie and Johnny.

Xerox de Gaga, Ke$ha faz electro-pop estéril

Resenha de CD
Título: Animal
Artista: Ke$ha
Gravadora: Sony Music
Cotação: * *

Ao colocar um cifrão em seu nome artístico, Ke$ha - na certidão de nascimento Kesha Rose Sebert - parece usar ao mesmo tempo de ironia e de sinceridade para denunciar suas intenções. Lançado no exterior em janeiro de 2010, no rastro do sucesso digital do single TiK ToK, o previsível primeiro álbum da cantora e compositora norte-americana, Animal, acaba de ganhar edição brasileira. Ke$ha faz um electro-pop de letras sinceras que, sim, tem tudo para fazer sucesso nas pistas. Em especial, Take It Off e Ki$$ N Tell. O grande problema do CD - formatado dentro dos padrões do gênero por Dr. Luke (nome já requisitado por Britney Spears, Katy Parry e Kelly Clarkson) - é que o som de Ke$ha parece fabricado numa linha de montagem. Até a sinceridade das letras dá a impressão de ser pura jogada de marketing. Por mais que este Animal ofereça munição certeira para pistas, Ke$ha parece ser cópia barata de Lady Gaga...

Reinicia filmagem de longa sobre Frank Aguiar

A foto de Stefanie Chasseraux flagra o encontro do ator Gustavo Leão com o cantor de forró Frank Aguiar numa locação do longa-metragem Sonhos de um Sonhador - A História de Frank Aguiar, cujas filmagens foram retomadas nesta última semana de fevereiro de 2010, em São Paulo. Leão aproveitou o encontro com o Cãozinho dos Teclados para aprender mais algumas músicas do repertório do artista, já que está pondo sua própria voz em alguns temas que figuram na trilha sonora do filme. Piauiense radicado em São Paulo (SP), Frank Aguiar viveu sua fase áurea nos anos 90.

24 de fevereiro de 2010

Cordel anuncia fim e edição de registro ao vivo

Grupo musical formado em 1999 por integrantes de Arcoverde (PE) e Morro da Conceição (Recife, PE), a partir de experiência teatral que já se desenvolvia há três anos, o Cordel do Fogo Encantado anunciou seu fim nesta quinta-feira, 24 de fevereiro de 2010. O fim da banda foi motivado pela saída de Lirinha. Vocalista e mentor do grupo, José Paes de Lira explicou por meio de comunicado - postado no site oficial da banda e replicado via Twitter - que deixou o Cordel pela "vital necessidade de trilhar novos caminhos". Em outro comunicado, o produtor do grupo, Antonio Gutierrez, anunciou que a última apresentação do Cordel - realizada e gravada ao vivo no Marco Zero, no Centro Histórico de Recife (PE), em 14 de fevereiro, ou seja, há dez dias - vai ser editada em breve nos formatos de CD e DVD. Gutierrez informou ainda que o grupo também pretende lançar material de arquivo, selecionado entre registros realizados ao longo dos seus onze anos de existência. A discografia do Cordel inclui três discos de estúdio.

Covers de Gabriel ficam entre o épico e o trivial

Resenha de CD
Título: Scratch
my Back
Artista: Peter Gabriel
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Peter Gabriel oscila entre o épico e o banal em seu CD de covers Scratch my Back, tido como primeiro título de um projeto amplo de intercâmbio entre compositores. No toque orquestral do mentor do Genesis, Mirrorball - música da lavra do Elbow - mais parece um grandiloquente tema orquestral de trilha sonora de filme. Produzido por Bob Ezrin e arranjado por John Metcalfe, o primeiro disco de Gabriel em oito anos se caracteriza pela ausência de bateria e guitarra. Cordas e sopros criam a cama orquestral na qual o artista se deita - confortável com seu piano - para abordar repertório recolhido entre dinossauros do pop rock (David Bowie, Paul Simon, Lou Reed, Neil Young) e nomes da volátil cena indie (Arcade Fire, Regina Spektor, o citado Elbow). Entre um e outro estágio, situa-se o Radiohead, representado pelo arrojado cover de Street Spirit (Fade Out). O formato orquestral engessa, de certa forma, as doze releituras. Mas é inegável a classe do projeto. Quando Gabriel acerta, como em Heroes (de Bowie) e em The Boy in the Bubble (de Simon), o resultado roça o sublime. The Power of your Heart - balada de romantismo bissexto na obra de Lou Reed, à qual Gabriel adicionou refrão com aprovação do autor - tem quase seis minutos de crescente beleza e intensidade. Contudo, à medida que avançam as 12 faixas do CD, Scratch my Back vai perdendo impacto pela uniformidade do formato (como uma trilha sonora de filme que soa repetitiva no CD-player). E o fato é que há momentos realmente banais, como Philadelphia, a canção de Neil Young pela qual Gabriel nada faz. Acima de erros e acertos, no entanto, paira o talento criador deste inquieto músico, que acaba de completar 60 anos em 13 de fevereiro de 2010. O CD Scratch my Back está em sintonia com a maturidade do artista.

Canto de Celso se beneficia com boa intimidade

Resenha de CD e DVD
Título: Voz e Violão
Artista: Celso Fonseca
Gravadora: RWR
/ Universal Music
Cotação: * * *

Nos últimos anos, Celso Fonseca andou tentando se firmar como cantor. Para tal, buscou repertório mais popular. Mas nem lançar mão de uma (bela) balada dos ex-hitmakers Michael Sullivan & Paulo Massadas - Um Dia de Domingo (1985), regravada em estratégico dueto com Ana Carolina - fez com que o canto de Celso ficasse de fato popular. Voz e Violão - o registro ao vivo que ora lançado neste mês de fevereiro de 2010, em CD e DVD captados em show feito em setembro de 2009 na casa Estrela da Lapa (RJ) - apaga a má impressão do anterior Celso Fonseca ao Vivo (2008). Não, a voz de Celso não o credencia a figurar na lista dos intérpretes expressivos, mas é justo reconhecer que o intimismo beneficia o canto do artista nesta agradável gravação. Sozinho com seu violão esperto, Celso faz sua voz calma revelar o lado oculto de algumas canções. Caso do samba-reggae Beleza Rara (1996), lançado pela Banda Eva. Sem ressaltar a batida típica do gênero, o artista expõe a beleza melódica da música de Edmilson Teles de Souza, o Ed Grandão. Mais um na Multidão - a parceria de Erasmo Carlos com Marisa Monte e Carlinhos Brown, lançada pelo Tremendão em 2000 - também ressurge com nova pegada, dez anos depois do (excelente) registro original. Silêncios dão outras nuances a Tudo Bem (1985), uma das grandes canções de Lulu Santos. Na voz e no violão de Celso, até Conquista (1996) - sucesso funkeiro da dupla Claudinho & Buchecha - se harmoniza no roteiro com canção de Roberto e Erasmo Carlos (Olha, 1975, bem ajustada ao formato do show) e bossa nova (Ela É Carioca, 1963). À medida que o show avança, as programações eletrônicas de Walter Costa se fazem ouvir com mais intensidade sem prejuízo da intimidade que rege Voz e Violão. Que se revela quase sempre interessante, mas seria ainda mais sedutor se Celso procurasse evitar a obra de Gilberto Gil, de quem regrava Tempo Rei (1984) como se fosse um clone do compositor, cujo DNA autoral também parece clonado em Febre, tema da lavra de Fonseca. Tal semelhança é até natural pelo fato de Fonseca ter tocado durante anos com Gil, mas prejudica um trabalho que, no todo, é bem bacana. Escute. Sem (pré)conceito...

CD de Villeroy agrega Teresa, Gadú e Lupicínio

Embora tenha anunciado em 2008 a gravação de dois discos, Antonio Villeroy vai lançar - por ora - apenas um CD, o sétimo de sua carreira fonográfica (baseada inicialmente no Sul). Previsto para abril, pela gravadora Biscoito Fino, o sucessor de Sinal dos Tempos (2006) tem produção de Torcuato Mariano e conta com a participação de Teresa Cristina - vista acima com Villeroy, no estúdio, na foto de Fabiane Pereira - no samba-canção A Flor que Eu te Dei. Já a bossa Recomeço tem intervenções vocais de Maria Gadú (ao alto). Incluída no disco, entre parcerias de Villeroy com Francisco Bosco e Jorge Vercillo, a milonga El Guión traz na co-autoria Bebeto Alves e o pianista norte-americano Don Grusin (com quem Villeroy ficou de gravar o outro disco). Exceção no repertório autoral é Felicidade, canção do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), autor conterrâneo de Villeroy.

Stone Temple Pilots vai lançar álbum em maio

Reativado em 2008, após cinco anos de separação, o grupo Stone Temple Pilots vai retornar ao disco este ano. Previsto para maio de 2010, o sucessor de Shangri-La-Dee-Da (2001) acabou de ser masterizado. Produzido pelos irmãos Robert DeLeo (baixo) e Dean DeLeo (guitarra), o CD inclui no repertório - inédito e autoral - músicas como Huckleberry Crumble e Between the Lines.

23 de fevereiro de 2010

Warner vende álbum digital para ajudar o Haiti

Numa parceria com a instituição Music for Relief, mantida sem fins lucrativos pelo grupo Linkin Park, a Warner Music começou a comercializar nesta terça-feira, 23 de fevereiro de 2010, álbum digital cuja renda vai ser integralmente revertida para as vítimas do terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro. Puxado por gravação inédita do próprio Linkin Park, Not Alone, o CD reúne 13 fonogramas exclusivos de artistas como Alanis Morissette e Jack Johnson. O disco pode ser adquirido na loja virtual da Warner e nos portais de seus principais parceiros digitais (UOL, Terra, Tim, Nokia, iMusica, Baixa Hits, Vivo). Eis as 13 faixas do álbum Haiti:
1. Not Alone - Linkin Park
2. Mother Maria (com Beth Hart) - Slash
3. Butterfly - Weezer (com Allison Allport na harpa)
4. Never Let me Down - Kenna
5. Still (Acoustic, Vancouver Sessions) - Alanis Morissette
6. Slipstream (Slimmed Down Mix) - The Crystal Method (com
Jason Lytle)
7. Gold Guns Girls (Mike Shinoda Remix) - Metric
8. Resurrection - Lupe Fiasco and Kenna
9. We Are One - Hoobastank
10. Times Like These (Live from Red Rocks) - Jack Johnson
11. The Wind Blows (Skillrex Remix) - The All-American Rejects
12. It Must Be Love - Enrique Iglesias
13. Typical Situation (live) - Dave Matthews Band

Devota do samba, Luiza estreia segura em disco

Resenha de CD
Título: Devoção
Artista: Luiza Dionizio
Gravadora: CCC Discos
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

"Você não pode cantar meu samba assim sem alma / Ter que ter calma pra poder compreender / ... / Que o samba não é só um momento", manda recado - através dos versos escritos por Ratinho para o samba Alma - Luiza Dionizio, cantora carioca que debuta bem em disco com Devoção. Luiza é do ramo. E é também da Vila da Penha, bairro do subúrbio carioca retratado com romantismo idealizado em Vila do meu Coração, parceria de dois compositores criados no mesmo bairro, Luiz Carlos Máximo e Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008). Do baú deste grande compositor que saiu precocemente de cena, Luiza pesca o inédito samba Braços de Lã, aquecido com a poesia positivista do autor. Cantora de voz quente, Luiza estreia com segurança no mercado fonográfico, sem recorrer ao óbvio ou ao fácil para montar o repertório do CD produzido por Paulão Sete Cordas. Repertório que adquire contornos afros em Preceito (Toninho Geraes e Roque Ferreira), em Conceição da Praia (Luiz Carlos Máximo) - que celebra as águas com a mesma devoção religiosa que banha Mar de Jangada (Evandro Lima e Toninho Nascimento) - e no ijexá Oxum Ololá, que fecha Devoção em grande estilo. De estilo mais tradicional e melodioso, o samba Tempos Depois (Wanderley Monteiro e Nelson Rufino) se impõe no repertório ao lado do supra-citado Alma (Ratinho) e de Jardim das Oliveiras (Délcio Carvalho), tributo reverente à escola de samba Império Serrano, encorpado pelas vozes da Velha Guarda da tradicional agremiação do Carnaval do Rio de Janeiro (RJ). Contudo, é preciso ressaltar o faro da intérprete para garimpar repertório. Antes Assim (samba de quadra de Wilson Moreira), Pensando Bem - parceria de Martinho da Vila e João de Aquino, gravada por Martinho no lado B de LP, Verso e Reverso (1982), ignorado pelas rádios - e Último Verso (dolente samba de Elton Medeiros e Clóviz Bezno, gravado por Elton em 1980 e pontuado pelo acordeom de Kiko Horta no registro de Luiza Dionizio) bem poderiam passar como temas inéditos, posto que desconhecidos até pelo devotos mais fervorosos do samba. Enfim, Devoção marca a estreia segura de cantora para quem o samba nunca foi mero momento ou trampolim para a mídia. Luiza veio para ficar...

Sutil, Drexler evoca o Brasil em 'Amar la Trama'

Resenha de CD
Título: Amar la Trama
Artista: Jorge Drexler
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

Ouvem-se palmas ao fim de Telón, última música oficial do álbum que Jorge Drexler lança em março de 2010 pela Warner Music (após Telón, há a faixa-bônus Críticas). A rigor, Amar la Trama não é um álbum ao vivo, mas é como se fosse. Satisfeito com o resultado obtido por seu disco duplo anterior, Cara B (2008), gravado ao vivo, o cantautor uruguaio registrou este novo bom álbum em estúdio, em takes diretos, com toda a banda disposta em círculo - como mostra a foto reproduzida no CD - na presença de pequenas plateias que, não fossem pelas palmas ouvidas após Telón (as únicas do álbum), não teriam sua participação detectada pelo ouvinte. Drexler buscou espontaneidade, frescor e interação para Amar la Trama. A pulsação dos metais pontua faixas como Tres Mil Millons de Latidos e La Trama y el Desenlace. Metais que - como o artista vem revelando nas entrevistas promocionais agendadas pela Warner - têm forte influência de discos de artistas brasileiros como Marcelo Camelo, Kassin e Rodrigo Amarante. De fato, há ecos das orquestrações do álbum solo de Camelo (Sou, 2008), por exemplo, na forma como os metais estão dispostos em Aquiles, por su Talón Es Aquiles, balada de textura densa, dedicada por Drexler a Paulinho Moska. Assim como tem uma pitada de Brasil no molho da percussão de Las Transeúntes, faixa na qual José Miguel Carmona figura (na guitarra espanhola) como convidado. Destaque do repertório autoral, La Nieve en la Bola de Nieve é faixa bem mais climática, de tom quase jazzy. Amar la Trama, a propósito, é álbum de experimentações e climas variados. Se Una Canción me Trajo Hasta Aquí é pop vivaz e redondo, I Don't Worry About a Thing é cover arrojado (com longas passagens instrumentais) do tema de Mose Allison, cantor e pianista norte-americano de jazz e blues. Em qualquer clima, todavia, a interação entre a banda fica evidente - a exemplo do que pode ser percebido nas faixas Mundo Abisal e Toque de Queda (esta com adesão da atriz e cantora espanhola Leonor Watling). Por mais que Drexler já tenha apresentado safras de inéditas mais inspiradas, a pulsação que rege Amar la Trama valoriza este álbum dentro da discografia deste artista hábil nas conexões (ora bem sutis, ora mais explícitas) com o som do Brasil.

Álbum de Zélia tem sabor estendido para DVD

Um dos melhores álbuns de 2009, Pelo Sabor do Gesto - o nono disco solo de Zélia Duncan - ganha Deluxe Edition com DVD. O DVD-bônus exibe documentário inédito sobre a gravação do CD e oito clipes. Um - feito sob direção da atriz Ana Beatriz Nogueira - é o da faixa Aberto. Um outro vídeo mostra a cantora recitando os versos de Felicidade, o tema de Luiz Tatit que Zélia incluiu no roteiro do show de lançamento do disco. Os demais seis clipes são versões acústicas gravadas em abril de 2009, em São Paulo, para a sessão Música de Bolso (Iô Iô Filmes). Das seis músicas, uma - Quem Viu, Quem Vê (parceria de Zélia com Alice Ruiz e Marcelo Jeneci) - não entrou no CD original. A luxuosa reedição dupla de Pelo Sabor do Gesto está na loja via gravadora Universal Music.

'Rei' fica entre emoções sertanejas e hispânicas

Sob a batuta de produtor que foi recrutado em Miami (EUA), Roberto Carlos começou - em pleno Carnaval - a gravar novo disco em espanhol em seu estúdio na Urca, no Rio de Janeiro (RJ). Paralelamente, o Rei já se ocupa do próximo show especial do ciclo de eventos ItaúBrasil, idealizado para festejar os 50 anos de carreira completados pelo artista em 2009. O espetáculo Emoções Sertanejas está agendado para 17 de março de 2010, no Ginásio Ibirapuera, em São Paulo (SP). Estranha no ninho sertanejo, Elba Ramalho é a surpresa do elenco formado por duplas (Bruno & Marrone, Chitãozinho & Xororó, César Menotti & Fabiano, Gian & Giovani, Milionário & Zé Rico, Rionegro & Solimões, Victor & Leo, Zezé Di Camargo & Luciano) e cantores (Daniel, Leonardo, Martinha, Nalva Aguiar, Sérgio Reis) associados ao gênero. O show será gravado ao vivo para CD e DVD.

22 de fevereiro de 2010

Warner distribui primeiro CD do DJ Jesus Luz

Modelo e DJ, Jesus Luz assinou contrato com a Warner Music nesta segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010. Caberá à gravadora lançar o primeiro disco do namorado de Madonna, From the Light. A informação foi divulgada pelo próprio Jesus, via twitter.

Bethânia grava 'Amor, Festa, Devoção' em DVD

Maria Bethânia vai aproveitar o retorno do show Amor, Festa, Devoção ao Rio de Janeiro (RJ) - em três únicas apresentações agendadas na casa Vivo Rio para 12, 13 e 14 de março de 2010 - para gravar o DVD do show dirigido por Bia Lessa. O DVD sai até o fim do ano. O roteiro - que tem se mantido inalterado ao longo da turnê nacional do espetáculo - inclui músicas até então inéditas na voz da intérprete (vista em número do show na foto de Mauro Ferreira). Casos de Balada de Gisberta (Pedro Abrunhosa), Dama do Cassino (Caetano Veloso) e Queixa (outra de Caetano Veloso).

'Elba', de 1981, ganha a primeira edição em CD

Chega enfim ao formato digital em fevereiro de 2010 Elba, o único título da discografia de Elba Ramalho que ainda não havia sido (re)editado em CD. Lançado em 1981, o terceiro álbum da cantora foi o último de sua passagem pela CBS (hoje Sony Music), gravadora pela qual a intérprete já havia lançado Ave de Prata (1979) e Capim do Vale (1980). Elba é o título menos inspirado da trilogia, mas tem seu valor. A intérprete pôs sua voz - então ainda rascante e agreste - em músicas de Caetano Veloso (Cajuína), Bráulio Tavares (Temporal, uma parceria com Fubá), Humberto Teixeira (Dono dos teus Olhos, com arranjo de cordas), Elomar (O Pedido), Lula Côrtes (Lua Viva) e Rosil Cavalcanti (Aquarela Nordestina), entre outros compositores. Elba sai via Sony Music.

Strike lança 'Hiperativo' em março via Deckdisc

Já radicado em São Paulo (SP), o grupo mineiro Strike se prepara para lançar em março de 2010, via Deckdisc, seu segundo álbum, Hiperativo. A foto acima foi clicada por Luringa para a capa do CD, gravado desde 2009 no estúdio paulista Midas com produção de Rick Bonadio. O sucessor de Desvio de Conduta (2007) contabiliza onze músicas autorais. Entre elas, A Tendência (faixa eleita para o primeiro single), Dogtown Style e Com ou Sem Você.

Letuce grava versão francesa de balada de Rita

Versão em francês de Caso Sério, balada abolerada de Rita Lee e Roberto Carvalho lançada pela dupla em 1980, Sérieuse Affaire é a curiosidade do primeiro disco de Letuce, o duo criado em 2008, no Rio de Janeiro (RJ), pelos namorados Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos. Intitulado Plano de Fuga pra Cima dos Outros e de mim, o CD está sendo editado pelo selo Bolacha Discos. O repertório é essencialmente autoral, mas, além da versão francesa de Caso Sério, inclui releitura de Acontecimentos, balada de Marina Lima e Antonio Cícero, lançada por Marina Lima em 1991. Detalhe: a letra de Ballet da Centopéia cita verso de Cabecinha no Ombro (1958), um clássico sertanejo de autoria de Paulo Borges, gravado pelos principais artistas do gênero. Som de Letuce é cool.

21 de fevereiro de 2010

Luciana e Jair cantam samba sem um conceito

Resenha de CD e DVD
Título: O Samba me
Cantou
Artista: Jair Oliveira
& Luciana Mello
Gravadora: RWR
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2

O Samba me Cantou - o trivial registro ao vivo do homônimo e inédito show que reuniu Jair Oliveira e Luciana Mello, no palco do Auditório Ibirapuera (SP), em setembro de 2009 - é retrocesso nas irregulares discografias dos irmãos. Os filhos de Jair Rodrigues - convidado de Alguém me Avisou e A Felicidade, números alocados apenas nos extras do DVD - já tinha dado passos mais inspirados no mercado fonográfico. Ele já se confirmou bom compositor em Simples... (2006), bom álbum que o aproximou do samba e de onde vem inclusive a gostosa faixa que batiza este DVD e CD ao vivo editados pelo selo RWR, dirigido por Roberto de Oliveira. Ela passeou com bom gosto por levadas de black music no disco Nêga (2007), que alternou samba, soul e funk (o dos anos 70). Existia nesses dois trabalhos um conceito. O conceito que não há em O Samba me Cantou. Antes de cantar Dor de Ressaca, samba que lançou no álbum Outro (2002), Jair diz ao público que ele e a irmã estão cantando "um pouco da nossa raiz", numa alusão ao fato real de, ainda crianças, já ouvirem na casa do pai muitos dos sambas ora regravados neste DVD e CD ao vivo. Faltou, no entanto, imprimir a identidade deles aos sambas que entoam. Cantor que parece mais à vontade ao interpretar temas próprios, Jair nada faz de especial por Coração Leviano (Paulinho da Viola, 1977) e (Tom Zé e Elton Medeiros, 1976). De seus solos, o melhor é Gente Humilde (1969), pois traz para o universo do samba a parceria póstuma de Garoto (1915 - 1955) com Chico Buarque, Vinicius de Moraes (1913 - 1980), sem o tom lacrimoso habitualmente imposto à sentimental composição. Embora sempre afinada e com suingue, Luciana nada faz de especial por Serrado (Djavan, 1979), Rosa (Pixiguinha, valsa de 1917) e Tristeza Pé no Chão (Armando Fernandes Aguiar, 1973). Efeito talvez de a seleção de repertório priorizar temas já bem conhecidos. A única pérola rara do baú é Ninguém Tem que Achar Ruim, samba de Ismael Silva (1905 - 1978), revivido por Jair. Em dueto, além da faixa-título, os irmãos cantam Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso, 1993) e Esperanças Perdidas (Nelson Custódio e Davi Moreira, 1972), imprimindo grande vivacidade à alegre Casa de Bamba (Martinho da Vila, 1969), o número final que evoca o estilo esfuziante das interpretações de Jair Rodrigues. Quanto aos convidados, Luciana canta Orgulho de um Sambista (Gilson de Souza, 1973 - um hit do pai Jair) com Claudio Lins num tom cool que esquenta no refrão. Já Jair entoa o samba-choro A Vida em Sonho com Anna Ratto. Pena que a boa ideia de convidar Skowa e Mariene de Castro para encarnar com eles os casais trocados do samba A Nível de... (João Bosco e Aldir Blanc, 1982) não resulte com toda a graça que poderia ter. Enfim, Jair Oliveira e Luciana Mello têm todo o direito de cantar samba, mas o ideal é que houvesse um conceito que amarrasse um repertório - de preferência, menos óbvio e batido...

Livro trata em imagens batida polêmica do funk

Em ensaio escrito para o livro Funk - Que Batida É Essa?, recém-lançado pela editora Aeroplano, uma antropóloga, Adriana Facina, afirma - com sagacidade e certa razão - que os atuais combatentes do funk carioca são, de certa forma, seguidores dos opressores do samba, vítima de preconceito nos anos 20 e 30, décadas em que portar um violão ou um pandeiro pela rua podia ser passaporte para a cadeia. O texto de Facina, que historia e defende o batidão carioca, é um dos pontos altos do livro, mas, a rigor, Funk - Que Batida É Essa? é um livro de arte que expõe em imagens a catarse provocada pelo som de preto e de favelado nos bailes da pesada. A matéria-prima do livro são fotos feitas nos bailes do Cantagalo e Castelo das Pedras pelos autores André Castro e Julia Haiad, ambos recém-formados em Desenho Industrial pela PUC, uma das faculdades mais elitistas do Rio de Janeiro (RJ). Além das imagens, tratadas graficamente como pinturas pelos autores, o livro traz entrevistas com nomes associados ao funk, casos da atriz Regina Casé e do DJ Sany Pitbull.

João Parahyba capta bem a pisada do Cabruêra

Resenha de CD
Título: Visagem
Artista: Cabruêra
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * *

Logo na primeira das 12 faixas de Visagem, o sedutor tema instrumental que dá título ao quinto álbum do Cabruêra, fica claro que o lendário baterista João Parahyba (paulista, apesar do sobrenome) - escalado pelo grupo paraibano para produzir o disco - soube captar bem no estúdio a pisada do som dos cabras. Com carreira fonográfica iniciada em 2000, no embalo da onda regionalista que fez emergir nos anos 90 o pop made in Nordeste, o Cabruêra completa uma década no mundo do disco fiel à ideia de abordar os ritmos nordestinos com atitude pop e pegada eventualmente roqueira. Em Visagem, o tema instrumental que abre o primeiro álbum da banda em cinco anos, a interação da guitarra de Leo Marinho com os metais (alguns pilotados por Spok) e com as percussões de Pablo Ramires cria tensão arretada. Que nem sempre permanece ao longo do disco, inclusive porque a safra de inéditas nem sempre resulta à altura do histórico do Cabruêra. Vale destacar Pisa Morena (em que o canto do vocalista Arthur Pessoa remete eventualmente a Alceu Valença), Doce de Coco - cujo sabor é o do gostoso coco de embolada - e Passarada. Xangô esboça link afro que resulta frouxo enquanto Sina de Violeiro evoca sem pegada o canto dos repentistas. Entre os temas instrumentais, A Pisada soa como simulacro da latinidade metaleira dos Paralamas do Sucesso. Já Feira de Prata mostra que traz o DNA do samba em sua célula rítmica. Nada que chegue a surpreender em discografia que conta com álbum intitulado O Samba da Minha Terra (2004). No todo, Visagem - sucessor de Sons da Paraíba (2005) - deixa boa impressão e reitera o capricho do Cabruêra com o projeto gráfico de seus discos. O de Visagem foi criado por Roberto Matos com base em fotos (expressivas) feitas por Augusto Pessoa - irmão de Arthur - para o projeto homônimo do disco. Precedido por EP com seis faixas, Visagem - o álbum - foi gravado com patrocínio da Petrobrás e merece distribuição nacional, mesmo que pela internet. A pisada do Cabruêra tem lá seu peso (e valor).

Lisboa vai do samba ao blues no álbum 'Arteiro'

Cantor e compositor natural de Sergipe, Rubens Lisboa vai lançar em março de 2010 seu quarto álbum, Arteiro, com distribuição da Fonomatic e Tratore. O repertório autoral vai do samba (Doce Salgado e Chamego) ao blues (Um a Zero), passando também por xote (Coração Tambor) e até ciranda (Três Flores). A origem sergipana do artista inspira tanto o Maracatu do Brejão - tributo ao folclore do Estado, ignorado pelo Brasil - quanto Talento Serigy, tema de tom mais crítico que alfineta os artistas fakes. Fim do Mundo - cantiga à moda antiga, arranjada com o piano de Diogo Montalvão e o violoncelo de Thiago Silvino - é um dos destaques da safra de inéditas de ritmos bem variados que compõem o mosaico autoral do álbum Arteiro.

Duo eletrônico de Cavallera, MixHell lança disco

Dupla de música eletrônica formada por Iggor Cavalera (o ex-baterista do Sepultura) e a artista plástica Laima Leyton, MixHell lança o primeiro disco em março de 2010, seis anos após a sua criação, em 2004. Batizado com o nome do duo, o álbum MixHell tem edição viabilizada por parceria da 3Plus Music com a gravadora ST2. As faixas mixadas foram inspiradas nos sets ao vivo do duo.