11 de setembro de 2010

'Segredo' de Leila ganha cor e urgência no palco

Resenha de Show
Título: Meu Segredo Mais Sincero
- Músicas de Renato Russo e Legião Urbana
Artista: Leila Pinheiro (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 10 de setembro de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz até 11 de setembro de 2010 no Teatro Rival (RJ)
Disco em que Leila Pinheiro aborda a obra de Renato Russo (1960 - 1996), Meu Segredo Mais Sincero (2010) resultou quase monocromático. Faltou ao CD recém-editado pela gravadora Biscoito Fino as cores que dão o tom pop do show inspirado no álbum. Sob a direção da atriz e escritora Denise Bandeira, autora do roteiro construído com climas variados, a cantora se permite interpretações mais ensolaradas e exteriorizadas. Como visto na feliz estreia carioca de Meu Segredo Mais Sincero - Músicas de Renato Russo e Legião Urbana, no Teatro Rival em 10 de setembro de 2010, Leila faz o show quase sempre de pé e, em alguns números, empunha até uma guitarra. O preto e o branco dão o tom apenas em algumas projeções de filmes e fotos que expressam o universo artístico e pessoal de Renato Russo, cuja voz abre e fecha o show através da reprodução de sua gravação de Let's Face the Music and Dance (Irving Berlin, 1936) extraída do primeiro disco solo do cantor, The Stonewall Celebration Concert (1994) - de cujo repertório, aliás, Leila também pinçou Cherish (1989), hit de Madonna, iluminado instante pop de show que peca somente pelo tom artificial do primeiro texto da cantora.
É com a vinheta a capella de Perfeição (1993) que Leila entra em cena. Já nos primeiros números, Ainda É Cedo (1985) e Quase sem Querer (1986), já se percebe que a intérprete está cantando para fora. A habitual segurança vocal permite a cantora encarar bem tanto o dueto virtual com Russo em La Solitudine - sucesso da cantora italiana Laura Pausini que o cantor regravou em seu segundo disco solo, Equilíbrio Distante (1995) - quanto os versos quilométricos de Índios (1986). Dentro dessa atmosfera solar, Leila ainda apresenta Daniel na Cova dos Leões (1986) antes de se dirigir ao piano para entoar O Teatro dos Vampiros (1991) e, extrapolando a seleção do disco, Mais uma Vez. Sozinha com seu piano, Leila realça com sua voz e sua alma toda a beleza melódica e poética desta única parceria de Renato com o mineiro Flávio Venturini, (mal) gravada pelo 14 Bis em seu álbum Sete (1987). Na sequência, Leila sublinha - nos tons mais urgentes de registro nervoso - o inconformismo elétrico de Conexão Amazônica (1980 - 1987), tema de Renato e Fê Lemos que pertencia ao cancioneiro da banda Aborto Elétrico. É ainda nesse clima que Leila revive os anseios da Geração Coca-Cola (1985) e que mergulha em Angra dos Reis (1987), tema em que o diretor musical do show, Cláudio Faria, consegue fazer um bom uso dos teclados e programações. Abundantes no disco, os teclados têm sua onipresença diluída no show pela guitarra de Webster Santos, especialmente notável em Tempo Perdido (1986), outro grande momento do roteiro que tangencia o rock com a mesma naturalidade com que esboça leve clima bossa-novista para Leila narrar a saga de Eduardo e Mônica (1986) em dueto de vozes e violões com Maurício Oliveira, cujo baixo largo pontua Por Enquanto (1985), outra boa surpresa do repertório. Em seguida, o hit Pais e Filhos (1989) chega à cena extremamente sedutor, reiterando a supremacia do show sobre o disco. O perfeito equilíbrio de climas do roteiro faz com que o show nunca fique linear. Se Boomerang Blues (1986) pega rota estradeira para evocar um blues primitivo, quase rural, Música Urbana 2 (1986) capta a efervescência urgente das metrópoles. E, já no fim, a bateria de João Viana sublinha o peso do medley que costura a citação de Que País É Este? (1978 - 1987) com Será (1985). Aos 50 anos de vida e 30 anos de carreira sincera, Leila Pinheiro ainda tem segredos para revelar ao seu público no palco.

7 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Disco em que Leila Pinheiro aborda a obra de Renato Russo (1960 - 1996), Meu Segredo Mais Sincero (2010) resultou quase monocromático. Faltou ao CD recém-editado pela gravadora Biscoito Fino as cores que dão o tom pop do show inspirado no álbum. Sob a direção da atriz e escritora Denise Bandeira, autora do roteiro construído com climas variados, a cantora se permite interpretações mais ensolaradas e exteriorizadas. Como visto na feliz estreia carioca de Meu Segredo Mais Sincero - Músicas de Renato Russo e Legião Urbana, no Teatro Rival em 10 de setembro de 2010, Leila faz o show quase sempre de pé e, em alguns números, empunha até uma guitarra. O preto e o branco dão o tom apenas em algumas projeções de filmes e fotos que expressam o universo artístico e pessoal de Renato Russo, cuja voz abre e fecha o show através da reprodução de sua gravação de Let's Face the Music and Dance (Irving Berlin, 1936) extraída do primeiro disco solo do cantor, The Stonewall Celebration Concert (1994) - de cujo repertório, aliás, Leila também pinçou Cherish (1999), hit de Madonna, iluminado instante pop de show que peca somente pelo tom artificial do primeiro texto da cantora.
É com a vinheta a capella de Perfeição (1993) que Leila entra em cena. Já nos primeiros números, Ainda É Cedo (1985) e Quase sem Querer (1986), já se percebe que a intérprete está cantando para fora. A habitual segurança vocal permite a cantora encarar bem tanto o dueto virtual com Russo em La Solitudine - sucesso da cantora italiana Laura Pausini que o cantor regravou em seu segundo disco solo, Equilíbrio Distante (1995) - quanto os versos quilométricos de Índios (1986). Dentro dessa atmosfera solar, Leila ainda apresenta Daniel na Cova dos Leões (1986) antes de se dirigir ao piano para entoar O Teatro dos Vampiros (1991) e, extrapolando a seleção do disco, Mais uma Vez. Sozinha com seu piano, Leila realça com sua voz e sua alma toda a beleza melódica e poética desta única parceria de Renato com o mineiro Flávio Venturini, (mal) gravada pelo 14 Bis em seu álbum Sete (1987). Na sequência, Leila sublinha - nos tons mais urgentes de registro nervoso - o inconformismo elétrico de Conexão Amazônica (1980 - 1987), tema de Renato e Fê Lemos que pertencia ao cancioneiro da banda Aborto Elétrico. É ainda nesse clima que Leila revive os anseios da Geração Coca-Cola (1985) e que mergulha em Angra dos Reis (1987), tema em que o diretor musical do show, Cláudio Faria, consegue fazer um bom uso dos teclados e programações. Abundantes no disco, os teclados têm sua onipresença diluída no show pela guitarra de Webster Santos, especialmente notável em Tempo Perdido (1986), outro grande momento do roteiro que tangencia o rock com a mesma naturalidade com que esboça leve clima bossa-novista para Leila narrar a saga de Eduardo e Mônica (1986) em dueto de vozes e violões com Maurício Oliveira, cujo baixo largo pontua Por Enquanto (1985), outra boa surpresa do repertório. Em seguida, o hit Pais e Filhos (1989) chega à cena extremamente sedutor, reiterando a supremacia do show sobre o disco. O perfeito equilíbrio de climas do roteiro faz com que o show nunca fique linear. Se Boomerang Blues (1986) pega rota estradeira para evocar um blues primitivo, quase rural, Música Urbana 2 (1986) capta a efervescência urgente das metrópoles. E, já no fim, a bateria de João Viana sublinha o peso do medley que costura a citação de Que País É Este? (1978 - 1987) com Será (1985). Aos 50 anos de vida e 30 anos de carreira sincera, Leila Pinheiro ainda tem segredos para revelar ao seu público no palco.

11 de setembro de 2010 às 13:29  
Blogger Rener Melo said...

Sucesso à ela!

11 de setembro de 2010 às 21:56  
Blogger Leandro Soares said...

Mauro, Cherish, de Madonna é de 1989, do álbum Immaculate Collection.

Abs,

Leandro

12 de setembro de 2010 às 10:10  
Blogger Mauro Ferreira said...

Grato, Leandro, por me alertar para o erro de digitação. Abs, MauroF

12 de setembro de 2010 às 10:22  
Blogger LaDespistada said...

Ver a Leila ontem no palco me fez sentir uma saudade imensa do Renato!!!
É bom ver essa versão mais ensolarada da obra do Renato. O momento pop colorido de Cherish dá vontade de levantar da cadeira e seguir o arco-íris de cores projetadas no palco inspirado na arte pop de wharol.
Maravilhoso show q deixou gosto de quero mais!!!

12 de setembro de 2010 às 13:43  
Blogger duduxa said...

Nossa adorei este jornal quero participar posso?

13 de setembro de 2010 às 19:11  
Anonymous Anônimo said...

E que segredo este da Leila, tão sincero! Reiventando-se.

15 de setembro de 2010 às 21:36  

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