15 de setembro de 2010

Moraes e Pepeu - velhos e baianos - se entrosam

Resenha de Show
Título: Pepeu Gomes Canta Novos Baianos
Artista: Pepeu Gomes (em fotos de Mauro Ferreira)
Participação especial: Moraes Moreira
Local: Espaço Acústica (RJ)
Data: 14 de setembro de 2010
Cotação: * * *
A despeito de sua original e miscigenada musicalidade, burilada no rastro da explosão tropicalista de 1967, o som dos Novos Baianos seduziu o Brasil nos anos 70 por representar um estado libertário de espírito. Um sopro de vida e juventude em época em que até o ar parecia mais pesado. Por estar associado a uma época e a um contexto sócio-político específico, esse som não se presta a revivals como o que aconteceu no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 14 de setembro de 2010. A pretexto de oficializar a abertura de nova casa carioca de shows, o Espaço Acústica, Pepeu requentou mais uma vez em cena um cancioneiro que rendeu clássicos como Preta Pretinha. A novidade residiu na convocação de Moraes Moreira, o companheiro de grupo, com quem Pepeu formou dupla em 1990 para gravar revigorante álbum de inéditas que, vinte anos depois, merece (urgente) reedição em CD pela Warner Music.
Obviamente, o espírito da música dos Novos Baianos não baixou no palco do Espaço Acústica. Nem por isso a apresentação deixou de oferecer alguns bons momentos. Até porque Pepeu continua sendo um genial guitarrista. E o furioso toque hendrixiano de sua guitarra saltou aos ouvidos quando ele citou Fire (Let me Stand Next to your Fire) - tema de Jimi Hendrix (1942 - 1970), lançado pelo trio Jimi Hendrix Experience em 1967 - em roteiro que, em sua parte solo, alinhou sucessos do lendário grupo (Dê um Rolê, Tinindo Trincando) e tributo a Chico Science (1966 - 1997), "fã dos Novos Baianos", como Pepeu ressaltou em cena, orgulhoso, para o público que estava ali para badalar e, de quebra, testemunhar seu reencontro com Moraes. Pepeu reverenciou Science ao cantar A Cidade, número em que o percussionista Repolho evocou a força dos tambores da Nação Zumbi e no qual Pepeu se permitiu até a licença poética de citar a cidade do Rio de Janeiro na letra. Sem o viço e o vigor do colega, Moraes entrou em cena declamando versos que contam a história dos Novos Baianos. Se Acabou Chorare resultou apática, A Menina Dança começou a mostrar o entrosamento de Pepeu (na guitarra) com Moraes (no canto). A pegada roqueira posta pela dupla - e pela afiadíssima banda - no Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi) deu peso ao show, que cresceu quando Moraes e Pepeu uniram vozes e guitarras para reviver Swing de Campo Grande. Na sequência, O Mistério do Planeta chegou a ter passagem heavy, mas sem animar o público como o samba Brasil Pandeiro (Assis Valente), destaque de roteiro que ainda teve nova incursão de Moraes após Pepeu abrir espaço para que o filho já ilustre do colega, o guitarrista Davi Moraes, mostrasse sua música. Novos Baianos, afinal, foi grupo-comunidade no qual sempre podia caber mais um filho-agregado.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

A despeito de sua original e miscigenada musicalidade, burilada no rastro da explosão tropicalista de 1967, o som dos Novos Baianos seduziu o Brasil nos anos 70 por representar um estado libertário de espírito. Um sopro de vida e juventude em época em que até o ar parecia mais pesado. Por estar associado a uma época e a um contexto sócio-político específico, esse som não se presta a revivals como o que aconteceu no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 14 de setembro de 2010. A pretexto de oficializar a abertura de nova casa carioca de shows, o Espaço Acústica, Pepeu requentou mais uma vez em cena um cancioneiro que rendeu clássicos como Preta Pretinha. A novidade residiu na convocação de Moraes Moreira, o companheiro de grupo, com quem Pepeu formou dupla em 1990 para gravar revigorante álbum de inéditas que, vinte anos depois, merece (urgente) reedição em CD pela Warner Music.
Obviamente, o espírito da música dos Novos Baianos não baixou no palco do Espaço Acústica. Nem por isso a apresentação deixou de oferecer alguns bons momentos. Até porque Pepeu continua sendo um genial guitarrista. E o furioso toque hendrixiano de sua guitarra saltou aos ouvidos quando ele citou Fire (Let me Stand Next to your Fire) - tema de Jimi Hendrix (1942 - 1970), lançado pelo trio Jimi Hendrix Experience em 1967 - em roteiro que, em sua parte solo, alinhou sucessos do lendário grupo (Dê um Rolê, Tinindo Trincando) e tributo a Chico Science (1966 - 1997), "fã dos Novos Baianos", como Pepeu ressaltou em cena, orgulhoso, para o público que estava ali para badalar e, de quebra, testemunhar seu reencontro com Moraes. Pepeu reverenciou Science ao cantar A Cidade, número em que o percussionista Repolho evocou a força dos tambores da Nação Zumbi e no qual Pepeu se permitiu até a licença poética de citar a cidade do Rio de Janeiro na letra. Sem o viço e o vigor do colega, Moraes entrou em cena declamando versos que contam a história dos Novos Baianos. Se Acabou Chorare resultou apática, A Menina Dança começou a mostrar o entrosamento de Pepeu (na guitarra) com Moraes (no canto). A pegada roqueira posta pela dupla - e pela afiadíssima banda - no Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi) deu peso ao show, que cresceu quando Moraes e Pepeu uniram vozes e guitarras para reviver Swing de Campo Grande. Na sequência, O Mistério do Planeta chegou a ter passagem heavy, mas sem animar o público como o samba Brasil Pandeiro (Assis Valente), destaque de roteiro que ainda teve nova incursão de Moraes após Pepeu abrir espaço para que o filho já ilustre do colega, o guitarrista Davi Moraes, mostrasse sua música. Novos Baianos, afinal, foi grupo-comunidade no qual sempre podia caber mais um filho-agregado.

15 de setembro de 2010 às 12:27  
Blogger Meu Caro Vinho said...

Caro Mauro,
Os dois álbuns lançados pela dupla Moraes e Pepeu chegaram a ser lançados na íntegra através da Série E-Collection e devidamente remasterizados.

16 de setembro de 2010 às 21:21  
Blogger Meu Caro Vinho said...

Caro Mauro,
Os dois álbuns lançados pela dupla Moraes e Pepeu chegaram a ser lançados na íntegra através da Série E-Collection e devidamente remasterizados.

16 de setembro de 2010 às 21:21  
Blogger Mauro Ferreira said...

Grato pela informação, Cartas, mas a e-collection é uma coletânea. Eu me refiro a uma reedição com capa, encarte e repertório originais. abs, MauroF

17 de setembro de 2010 às 07:33  

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