21 de maio de 2010

'Romance' faz Luiz Melodia respirar outros ares

Resenha de Show
Título: Romance
Artista: Luiz Melodia (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 20 de maio de 2010
Cotação: * * * *
Em cartaz no Teatro Rival (RJ) até sábado, 22 de maio de 2010

Luiz Melodia se renova em Romance, o ótimo show em cartaz no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de maio de 2010. Por mais que siga trilhas habituais, pavimentadas pelo samba e pelo cancioneiro da Jovem Guarda, o cantor experimenta outros climas e flerta ligeiramente com o jazz em show idealizado para evocar os amantes da noite. Não por acaso, Suave É a Noite (Paul Fracis Webster e Sammy Fain em versão de Nazareno de Brito) abre o roteiro em registro macio que evidencia o veludo especial da voz do cantor. Na sequência, scats postos ao fim de Quase Fui lhe Procurar (Getúlio Côrtes) dão outro approach ao tema jovem-guardista revivido por Melodia. Mais tarde, Melodia recorre novamente aos scats - de forma mais intensa, como se encarnasse um misto de Louis Armstrong (1901 - 1971) e João Bosco - em Que Loucura, tema do lúcido Sérgio Sampaio (1947 - 1994), de quem Melodia também recorda belamente Leros, Leros e Boleros em tom mais comportado. A música de Sampaio se adequa a Melodia.
Luiz Melodia procura respirar outros ares em Romance com o auxílio luxuoso de um trio de cordas que dribla os clichês dos shows acústicos com pulsação inebriante. Em total interação, Renato Piau (violão de aço e violão de nylon), Alessandro Cardoso (cavaquinho) e Charles Costa (violão de 7 cordas) dão suporte ao magistral cantor na viagem noturna feita com escalas sentimentais no cancioneiro simples da Jovem Guarda - Gamadinho por Você (Renato Barros) e Nada Tenho a Perder (Getúlio Côrtes) - e na boemia carioca. Samba de Oswaldo Melodia, Ser Boêmio abre o set em que o ambiente de um bar é simulado no palco do Teatro Rival - com direito à mesa e cervejas - para que Melodia apresente bom samba inédito, Cura, composto com Piau entre Rio de Janeiro, Berlim e Araruama. É na mesa deste bar imaginário que Melodia expia dores de amores ao dar fino polimento ao bolero Tudo Foi Ilusão (Arcelino Tavares e Laert Santos), pescado no repertório do cantor Anísio Silva (1920 - 1989). Eventualmente, Romance adquire clima de seresta chique, como quando Melodia investe na seara do Trio Esperança e entoa Eu Bem Dizia (I Could Have Told You). Mas, sendo show de Melodia, Romance também sobe o morro (do Estácio) no samba Sem Hora pra Voltar, da lavra do próprio Negro Gato. E, tanto no morro como no asfalto, saltam aos ouvidos o suingue do cantor. Melodia redivide Pérola Negra, improvisa a capella A Coitadinha Fracassou, faz miséria com a voz em Farrapo Humano - número turbinado com solo de Piau - e se emociona a ponto de cair no choro enquanto entoa ternamente os versos de Samba da Pergunta (Astronauta), o clássico bossa-novista de autoria de Carlos Alberto Valle Pingarrilho e Marcos Vasconcellos. Tudo sob as bases do entrosado trio de cordas. Mesmo quando a música exerce menor poder de sedução sobre a plateia, caso de Cuidando de Você (Luiz Melodia), o trio logo se encarrega de valorizar o número. A propósito, quando o cavaco de Alessandro Cardoso sola a melodia de Estácio, Holy Estácio, há sensação de encantamento no público. E tudo termina em samba - antes do bis - com Diz que Fui por Aí (Zé Kétti). No bis, Fadas reitera a bem urdida trama de cordas que sustenta o show de luz bonita. Na sequência, Luiz Melodia, rei do suingue, se despede em tom melancólico com Decisão, deixando a ótima impressão de ter sido criativo ao fazer Romance com mistura de hits e novidades.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Luiz Melodia se renova em Romance, o ótimo show em cartaz no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de maio de 2010. Por mais que siga trilhas habituais, pavimentadas pelo samba e pelo cancioneiro da Jovem Guarda, o cantor experimenta outros climas e flerta ligeiramente com o jazz em show idealizado para evocar os amantes da noite. Não por acaso, Suave É a Noite (Paul Fracis Webster e Sammy Fain em versão de Nazareno de Brito) abre o roteiro em registro macio que evidencia o veludo especial da voz do cantor. Na sequência, scats postos ao fim de Quase Fui lhe Procurar (Getúlio Côrtes) dão outro approach ao tema jovem-guardista revivido por Melodia. Mais tarde, Melodia recorre novamente aos scats - de forma mais intensa, como se encarnasse um misto de Louis Armstrong (1901 - 1971) e João Bosco - em Que Loucura, tema do lúcido Sérgio Sampaio (1947 - 1994), de quem Melodia também recorda belamente Leros, Leros e Boleros em tom mais comportado. A música de Sampaio se adequa a Melodia.
Luiz Melodia procura respirar outros ares em Romance com o auxílio luxuoso de um trio de cordas que dribla os clichês dos shows acústicos com pulsação inebriante. Em total interação, Renato Piau (violão de aço e violão de nylon), Alessandro Cardoso (cavaquinho) e Charles Costa (violão de 7 cordas) dão suporte ao magistral cantor na viagem noturna feita com escalas sentimentais no cancioneiro simples da Jovem Guarda - Gamadinho por Você (Renato Barros) e Nada Tenho a Perder (Getúlio Côrtes) - e na boemia carioca. Samba de Oswaldo Melodia, Ser Boêmio abre o set em que o ambiente de um bar é simulado no palco do Teatro Rival - com direito à mesa e cervejas - para que Melodia apresente bom samba inédito, Cura, composto com Piau entre Rio de Janeiro, Berlim e Araruama. É na mesa deste bar imaginário que Melodia expia dores de amores ao dar fino polimento ao bolero Tudo Foi Ilusão (Arcelino Tavares e Laert Santos), pescado no repertório do cantor Anísio Silva (1920 - 1989). Eventualmente, Romance adquire clima de seresta chique, como quando Melodia investe na seara do Trio Esperança e entoa Eu Bem Dizia (I Could Have Told You). Mas, sendo show de Melodia, Romance também sobe o morro (do Estácio) no samba Sem Hora pra Voltar, da lavra do próprio Negro Gato. E, tanto no morro como no asfalto, saltam aos ouvidos o suingue do cantor. Melodia redivide Pérola Negra, improvisa a capella A Coitadinha Fracassou, faz miséria com a voz em Farrapo Humano - número turbinado com solo de Piau - e se emociona a ponto de cair no choro enquanto entoa ternamente os versos de Samba da Pergunta (Astronauta), o clássico bossa-novista de autoria de Carlos Alberto Valle Pingarrilho e Marcos Vasconcellos. Tudo sob as bases do entrosado trio de cordas. Mesmo quando a música exerce menor poder de sedução sobre a plateia, caso de Cuidando de Você (Luiz Melodia), o trio logo se encarrega de valorizar o número. A propósito, quando o cavaco de Alessandro Cardoso sola a melodia de Estácio, Holy Estácio, há sensação de encantamento no público. E tudo termina em samba - antes do bis - com Diz que Fui por Aí (Zé Kétti). No bis, Fadas reitera mais uma vez a bem urdida trama de cordas que sustenta o show. Na sequência, Luiz Melodia, rei do suingue, se despede em tom melancólico com Decisão, deixando a ótima impressão de ter sido criativo ao fazer Romance com mistura de hits e novidades.

21 de maio de 2010 às 09:55  
Anonymous Anônimo said...

Esses dias comentei com um amigo que tava sentindo falta de novidades do Luiz Melodia. Tomara que ganhe registro em CD.

21 de maio de 2010 às 12:04  
Anonymous Anônimo said...

Espero que esse projeto saia em cd. O show é divino e ele está cada vez mais charmoso. Pra quem acha que Seu Jorge é bom cantor, tem que ver Melodia!!!! Esse é 10 e é legítimo!!

21 de maio de 2010 às 14:14  

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