20 de outubro de 2009

Brandão capta tensões urbanas em álbum febril

Resenha de CD
Título: Amnésia
Programada
Artista: Arnaldo Brandão
Gravadora: ABPB Música
Cotação: * * * 1/2

Quem começar a escutar o terceiro disco solo de Arnaldo Brandão a partir da boa última faixa, Não Ligue o Gás, súplica feita ao som calmo do piano de The Alberto, teria uma primeira ideia errada do trabalho. Amnésia Programada é álbum febril. Escorado na alta voltagem da poesia cáustica de Tavinho Paes, seu parceiro em oito das dez músicas do disco, Brandão - egresso de grupos como A Bolha e Hanoi Hanoi - capta tensões e doenças urbanas em repertório ardente. "Ser livre é ser vigiado", avisa em verso de Sorria Você Tá Sendo Filmado, tema agalopado que se conecta à rede sexual montada na internet. "Tem um cara ali na esquina vendendo almas num bazar / Se paga à vista, dá desconto. O estoque é pra liquidar", propaga curto e grosso em À Venda, faixa que incorpora fragmentos de poema falado por Paes. É fato que nem sempre a música acompanha o pique da poesia, mas os arranjos estão no ponto exato de fervura, entre a MPB (há ecos eventuais da música nordestina), o pop e o rock, este evocado mais na atitude do que nos riffs de guitarra. Destaque da safra inédita, Beijo de Peixe traz a rodada Garota de Ipanema de Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a praia poluída de Brandão. Entre regravações do cancioneiro do Hanoi Hanoi (Insônia e O Ano do Dragão), o disco soa trivial somente em Não Vale Nada, cuja letra bate na tecla de enfileirar negações de clichês com versos bobos como "Nem todo time tem Pelé" e "Nem todo sexo é paixão". No todo, Amnésia Programada confirma Arnaldo Brandão como um talento ainda não devidamente incensado do pop rock nativo.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Quem começar a escutar o terceiro disco solo de Arnaldo Brandão a partir da boa última faixa, Não Ligue o Gás, súplica feita ao som calmo do piano de The Alberto, teria uma primeira ideia errada do trabalho. Amnésia Programada é álbum febril. Escorado na alta voltagem da poesia cáustica de Tavinho Paes, seu parceiro em oito das dez músicas do disco, o músico - egresso de grupos como A Bolha e Hanoi Hanoi - capta tensões e doenças urbanas em repertório ardente. "Ser livre é ser vigiado", avisa em verso de Sorria Você Tá Sendo Filmado, tema agalopado que se conecta à rede sexual montada na internet. "Tem um cara ali na esquina vendendo almas num bazar / Se paga à vista, dá desconto. O estoque é pra liquidar", propaga curto e grosso em À Venda, faixa que incorpora fragmentos de poema falado por Paes. É fato que nem sempre a música acompanha o pique da poesia, mas os arranjos estão no ponto exato de fervura, entre a MPB (há ecos eventuais da música nordestina), o pop e o rock, este evocado mais na atitude do que nos riffs de guitarra. Destaque da safra inédita, Beijo de Peixe traz a rodada Garota de Ipanema de Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a praia poluída de Brandão. Entre regravações do cancioneiro do Hanoi Hanoi (Insônia e O Ano do Dragão), o disco soa trivial somente em Não Vale Nada, cuja letra bate na tecla de enfileirar negações de clichês com versos bobos como "Nem todo time tem Pelé" e "Nem todo sexo é paixão". No todo, Amnésia Programada confirma Arnaldo Brandão como um talento ainda não devidamente incensado do pop rock nativo.

20 de outubro de 2009 às 11:48  
Anonymous tavinho paes said...

...só um detalhe sobre NÃO LIGUE O GÁS: o que parece uma tentativa de impedir um suicídio, na verdade, é uma expressão baiana para situações de briga conjugal ... quando uma baiana lugar o gás a discussão não acaba ... é mais parece, mas não é do que qualquer outra coisa!

20 de outubro de 2009 às 15:27  
Blogger Daniel said...

Olá! Mauro,vc sabe onde acho o CD do Arnaldo pra comprar? Abs e parabéns sempre pelo Notas!!!

20 de outubro de 2009 às 19:17  

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