8 de março de 2009

'Menino da Porteira' toca boiada em ritmo lento

Resenha de Filme
Título: O Menino
da Porteira
Direção: Jeremias
Moreira
Elenco: Daniel, João
Pedro Carvalho, José
de Abreu, Vanessa
Giácomo e outros
Cotação: * *

Remake do lendário filme homônimo de 1977 que sedimentou a fértil carreira sertaneja de Sérgio Reis, O Menino da Porteira entrou em cartaz em 270 cinemas brasileiros na última sexta-feira, 6 de março de 2009, com a missão de fazer o mesmo sucesso do original e, de quebra, atrair os mais de cinco milhões de espectadores que foram ver em 2005 a saga caipira dos 2 Filhos de Francisco. Se este filme de Breno Silveira que contou a história da dupla Zezé Di Camargo & Luciano conquistou todas as classes sociais, O Menino da Porteira alveja primordialmente o público residente nos vastos interiores do Brasil. Escorado na popularidade do cantor Daniel, recrutado para viver o boiadeiro Diogo encarnado por Sérgio Reis na versão de 1977, o filme pode até reeditar a gorda bilheteria do original pelo apelo, mas não exibe o apuro estilístico perceptível em 2 Filhos de Francisco. Para começar, o roteiro toca a boiada em ritmo lento. Enfocado de forma pueril, o conflito entre sitiantes e o fazendeiro manda-chuva da região de Ouro Fino (MG) - o Major Batista, interpretado de forma convincente por um inspirado José de Abreu - demora a engrenar e, mesmo no clímax, a ação resulta esquemática. A direção de Jeremias Moreira - também o diretor da versão original - persegue estilo igualmente pueril na intenção de seduzir um Brasil interiorano mais afinado com o ingênuo humor caipira. Com a árdua missão de defender personagens unidimensionais, o elenco dá conta do recado, mas Daniel, esforçado, não sustenta as cenas mais dramáticas da parte final. Da mesma forma parece artificial sua empatia com o menino (o carismático João Pedro de Carvalho). Conexão que é o mote do filme, inspirado na canção O Menino da Porteira, composta por Teddy Vieira e Luisinho. Lançada em 1955 pela dupla Luisinho & Limeira e regravada por Sérgio Reis nos anos 70, a música que batiza o filme entra somente nos créditos finais na voz de Daniel. A trilha sonora, aliás, valoriza o filme. Daniel mostra intimidade com temas como Vida Estradeira e alcança seu melhor momento na interpretação de Disparada, inserida na narrativa numa licença musical, já que a ação se passa em 1954 e a moda agalopada de Geraldo Vandré e Théo de Barros foi lançada somente em 1966. Daniel também revive Índia, a guarânia paraguaia que pontua em versão instrumental as cenas de Vanessa Giácomo, intérprete de Juliana, par romântico do peão Diogo no filme. Contudo, o ponto alto é Meu Querido Santo Antônio, no registro pungente de Carlos Careqa. A gravação adorna uma das melhores cenas. Moldado para produzir rios de lágrimas na platéia, o desfecho trágico do conflito encerra O Menino da Porteira em sintonia com a letra da música que inspirou o mediano filme. A adesão popular é até provável, mas boiadas já foram tocadas com mais rigor estilístico.

1 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Remake do lendário filme homônimo de 1977 que sedimentou a fértil carreira sertaneja de Sérgio Reis, O Menino da Porteira entrou em cartaz em 270 cinemas brasileiros na última sexta-feira, 6 de março de 2009, com a missão de fazer o mesmo sucesso do original e, de quebra, atrair os mais de cinco milhões de espectadores que foram ver em 2005 a saga caipira dos 2 Filhos de Francisco. Se este filme de Breno Silveira que contou a história da dupla Zezé Di Camargo & Luciano conquistou todas as classes sociais, O Menino da Porteira alveja primordialmente o público residente nos vastos interiores do Brasil. Escorado na popularidade do cantor Daniel, recrutado para viver o boiadeiro Diogo encarnado por Sérgio Reis na versão de 1977, o filme pode até reeditar a gorda bilheteria do original pelo apelo, mas não exibe o apuro estilístico perceptível em 2 Filhos de Francisco. Para começar, o roteiro toca a boiada em ritmo lento. Enfocado de forma pueril, o conflito entre sitiantes e o fazendeiro manda-chuva da região de Ouro Fino (MG) - o Major Batista, interpretado de forma convincente por um inspirado José de Abreu - demora a engrenar e, mesmo no clímax, a ação resulta esquemática. A direção de Jeremias Moreira - também o diretor da versão original - persegue estilo igualmente pueril na intenção de seduzir um Brasil interiorano mais afinado com o ingênuo humor caipira. Com a árdua missão de defender personagens unidimensionais, o elenco dá conta do recado, mas Daniel, esforçado, não sustenta as cenas mais dramáticas da parte final. Da mesma forma parece artificial sua empatia com o menino (o carismático João Pedro de Carvalho). Conexão que é o mote do filme, inspirado na canção O Menino da Porteira, composta por Teddy Vieira e Luisinho. Lançada em 1955 pela dupla Luisinho & Limeira e regravada por Sérgio Reis nos anos 70, a música que batiza o filme entra somente nos créditos finais na voz de Daniel. A trilha sonora, aliás, valoriza o filme. Daniel mostra intimidade com temas como Vida Estradeira e alcança seu melhor momento na interpretação de Disparada, inserida na narrativa numa licença musical, já que a ação se passa em 1954 e a moda agalopada de Geraldo Vandré e Théo de Barros foi lançada somente em 1966. Daniel também revive Índia, a guarânia paraguaia que pontua em versão instrumental as cenas de Vanessa Giácomo, intérprete de Juliana, par romântico do peão Diogo no filme. Contudo, o ponto alto é Meu Querido Santo Antônio, no registro pungente de Carlos Careqa. A gravação adorna uma das melhores cenas. Moldado para produzir rios de lágrimas na platéia, o desfecho trágico do conflito encerra O Menino da Porteira em sintonia com a letra da música que inspirou o mediano filme. A adesão popular é até provável, mas boiadas já foram tocadas com mais rigor estilístico.

8 de março de 2009 às 16:26  

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