15 de fevereiro de 2009

Bio de texto ágil conta as poucas piadas da Blitz

Resenha de Livro
Título: As Aventuras
da Blitz
Autor: Rodrigo Rodrigues
Editora: Ediouro
Cotação: * * * 1/2

Ok, venceu quem sempre defendeu a idéia de que a Blitz merecia ter sua trajetória de aura lendária reconstituída em biografia - como já tiveram bandas da mesma geração como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Titãs. Afinal, foi a Blitz que, no verão de 1982, abriu as portas da indústria fonográfica para a turma, ou seja, para o pop rock brasileiro produzido naqueles iniciantes anos 80 sem a herança progressiva dos 70. A biografia, As Aventuras da Blitz (R$ 54,90, 304 Páginas), já está nas livrarias com narrativa ágil, estruturada em dez capítulos que mais parecem tópicos de um almanaque. E, justiça seja feita, o formato próximo de almanaque - tão ao gosto da Ediouro - se adequa perfeitamente à estética da banda que foi pioneira também no Brasil ao adotar um visual inspirado nos quadrinhos e na pop art - sobretudo nas capas de seus discos e no material gráfico que promovia suas apresentações teatrais. O autor do livro - Rodrigo Rodrigues, jornalista que tem livre acesso ao backstage atual da resistente banda - consegue conciliar no texto a necessária objetividade jornalística com uma informalidade que está em fina sintonia com o som da banda. Rodrigues conta no livro as poucas piadas da Blitz, banda que explodiu e implodiu num espaço de quatro anos (1982 - 1986) por conta de egotrips e de um desgaste musical perceptível a partir do terceiro álbum do grupo, Blitz 3, concebido e gravado em meio ao exaustivo cotidiano das turnês. Por mais que deixe escapar nas entrelinhas, e mesmo fora delas, a admiração pela banda, o autor não perde a linha (objetiva da narrativa). Parte da história já foi contada em livros como Dias de Luta - o essencial inventário do jornalista Ricardo Alexandre sobre a populosa geração 80 do rock brasileiro - e nas zilhões de reportagens que documentaram em jornais e revistas o auge e a agonia do grupo liderado por Evandro Mesquita. Contudo, tal fato não minimiza o valor de As Aventuras da Blitz. A biografia é especialmente importante por detalhar a pré-história da banda - antes do meteórico estouro de Você Não Soube me Amar - e por acompanhar (com generosidade) as idas e vindas da Blitz após o primeiro retorno, em 1994. Só que, antes do início e do fim, houve o meio - e o livro também reconstitui os passos da Blitz no auge do sucesso entre espetáculos sempre vivazes e LPs de graça e vendas descendentes. Depoimentos de quase todos os músicos conferem credibilidade à narrativa. Por mais que hoje a piada contada pela Blitz em seus revivals soe velha, ela - a piada - teve muita graça e, sim, é parte honrosa da História do rock brasileiro. Até porque essa História poderia ter sido outra se Evandro Mesquita e Cia. não tivessem insistido em pedir um chope e algumas batatas fritas.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Ok, venceu quem sempre defendeu a idéia de que a Blitz merecia ter sua trajetória de aura lendária reconstituída em biografia - como já tiveram bandas da mesma geração como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Titãs. Afinal, foi a Blitz que, no verão de 1982, abriu as portas da indústria fonográfica para a turma, ou seja, para o pop rock brasileiro produzido naqueles iniciantes anos 80 sem a herança progressiva dos 70. A biografia, As Aventuras da Blitz (R$ 54,90, 304 Páginas), já está nas livrarias com narrativa ágil, estruturada em dez capítulos que mais parecem tópicos de um almanaque. E, justiça seja feita, o formato próximo de almanaque - tão ao gosto da Ediouro - se adequa perfeitamente à estética da banda que foi pioneira também no Brasil ao adotar um visual inspirado nos quadrinhos e na pop art - sobretudo nas capas de seus discos e no material que promovia suas apresentações teatrais. O autor do livro - Rodrigo Rodrigues, jornalista que tem livre acesso ao backstage atual da resistente banda - consegue conciliar no texto a necessária objetividade jornalística com uma informalidade que está em fina sintonia com o som da banda. Rodrigues conta no livro as poucas piadas da Blitz, banda que explodiu e implodiu num espaço de quatro anos (1982 - 1986) por conta de egotrips e de um desgaste musical perceptível a partir do terceiro álbum do grupo, Blitz 3, concebido e gravado em meio ao exaustivo cotidiano das turnês. Por mais que deixe escapar nas entrelinhas, e mesmo fora delas, a admiração pela banda, o autor não perde a linha (objetiva da narrativa). Parte da história já foi contada em livros como Dias de Luta - o essencial inventário do jornalista Ricardo Alexandre sobre a populosa geração 80 do rock brasileiro - e nas zilhões de reportagens que documentaram em jornais e revistas o auge e a agonia do grupo liderado por Evandro Mesquita. Contudo, tal fato não minimiza o valor de As Aventuras da Blitz. A biografia é especialmente importante por detalhar a pré-história da banda - antes do meteórico estouro de Você Não Soube me Amar - e por acompanhar (com generosidade) as idas e vindas da Blitz após o primeiro retorno, em 1994. Só que, antes do início e do fim, houve o meio - e o livro também reconstitui os passos da Blitz no auge do sucesso entre espetáculos sempre vivazes e LPs de graça e vendas descendentes. Depoimentos de todos os integrantes conferem real credibilidade à narrativa. Por mais que hoje a piada contada pela Blitz em seus revivals soe velha, ela - a piada - teve muita graça e, sim, é parte honrosa da História do rock brasileiro. Até porque essa História poderia ter sido outra se Evandro Mesquita e Cia. não tivessem insistido em pedir um chope e algumas batatas fritas.

15 de fevereiro de 2009 às 20:09  
Blogger Rafael said...

Há uma biografia recém-lançada sobre Dona Ivone Lara. Chama-se "Nasci Para Sonhar e Cantar - Dona Ivone Lara: A Mulher no Samba", de Mila Burns, editora Record.

Vale a pena a resenha!

15 de fevereiro de 2009 às 20:19  
Anonymous Anônimo said...

Na era de baixar músicas sem mal saber quem está cantando ou quem são seus autores e histórias, biografias musicais feitas com cuidado e prazer merecem ser lidas. A tendência do almanaque pode minar um pouco, mas é o que vem chamando atenção. E, convenhamos, Blitz, Frenéticas e Mamonas, por exemplo, devem ser tratados assim de maneira pop.
O que realmente falta é uma história, em livro, real, sem ser maniquista ou de fã, da trajetória fulminante dos Secos e Molhados, onde tudo era pop e conseguiram em um único disco emplacar todas as músicas, inclusive as mais dificeis. O segundo disco, na primeira formação da banda, foi o canto do cisne, mais rock e menos pop.
Material fotográfico se tem. Os tres personagens centrais estão vivos, e no caso de Ney se metamorfaseando a cada momento.
Ney já teve uma biografia lançada, mas faltou alguma coisa nela. Até mesmo um trabalho mais apurado de edição, independente do texto.
Viva a Blitz e tudo que foi feito por e com prazer.
E, olha que só vi a banda ao vivo na primeira edição do Rock in Rio, ao lado de dinossauros e piterodáteros.

Carioca da Piedade, na idade da Pedra

16 de fevereiro de 2009 às 09:41  
Anonymous Anônimo said...

Isso porque eu ia escrever uma mensagem diretamente à Sua Senhoria perguntando sobre uma resenha do livro... valeu, Mauro.

Acho que o livro passa bem. Mesmo sem superar a recém-cinematografada "A Vida Até Parece Uma Festa" - e, claro, o primoroso "Dias de Luta". Rodrigo Rodrigues fez bonito. Até por ter conseguido mostrar coisas insuspeitas, como um Lobão absolutamente carinhoso ao falar da banda que ajudou a formar.

Muito embora os remanescentes Evandro, Billy e Juba pudessem estar passando sem a insistência exagerada (e sem a briga judicial com Ricardo Barreto e Antônio Pedro), a Blitz merecia. Foi quem começou tudo nos 80, a primeira banda a mostrar que tinha mercado e demanda reprimida por esse tal de roque enrou cá nas Terras de Santa Cruz.

Se hoje a relevância é pouca, "As Aventuras da Blitz" e "Radioatividade" são obrigatórios em qualquer discoteca bem fornida dos 80 na música feita no Brasil. Ponto.

PS: Carioca da Piedade, tô contigo. O S&M merece um trabalho alentado, como dos grandes representantes do proto-rock brasileiro. O problema é convencer João Ricardo a dividir espaço com Gerson e Ney...

P.S.2: Pode ficar atento, Mauro. Daqui a uns tempos, pegando carona no filme, sai a edição ampliada de "A Vida até..."

16 de fevereiro de 2009 às 14:05  

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