9 de janeiro de 2009

Dura na queda, Elza volta febril e sapeca à cena

Resenha de Show
Título: Elza Sapeca da Breca
Artista: Elza Soares
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 8 de janeiro de 2009
Cotação: * * * *
Em cartaz até 10 de janeiro de 2009

Já habituada a fazer shows fervidos, Elza Soares voltou febril ao palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), para estrear seu novo show, Elza Sapeca da Breca. Mas nem a febre que abalou sua voz conseguiu baixar a temperatura quente da apresentação. Assanhada como sempre, a mulata mostrou que é dura na queda e, mesmo sem a artilharia vocal dos melhores dias, fez um grande show realmente inédito - nem tanto por conta do roteiro, de fato salpicado com algumas novidades na voz de Elza, mas sobretudo pelos arranjos do maestro Eduardo Neves. Sob a batuta de Neves, um trio de metais em brasa repaginou músicas recorrentes no repertório da artista como Espumas ao Vento e, claro, Malandro.
A abertura de Elza Sapeca da Breca é feita a capella com Milagres, o tema cortante de Cazuza, Frejat e Denise Barroso que Elza gravou num de seus discos mais ousados, Somos Todos Iguais (Som Livre, 1985), infelizmente ainda inédito em CD. Na seqüência, Opinião, Palmas no Portão - um título menor do repertório de sambas da cantora - e Lata d'Água foram moldando um dos mais bem-costurados roteiros apresentados por Elza. Os links foram criativos. Pontuado por um acordeom, o samba Volta por Cima estava mais para tango - o que possibilitou a emenda perfeita com a já clássica abordagem de Fadas no ritmo argentino.
De certa forma, as trocas de roupa delimitam os blocos e climas do roteiro. Logo após a primeira das duas trocas de figurino, Elza surpreende quem não conhece seus dotes jazzísticos ao entoar, num tom lânguido, Imagination, tema do repertório suave do trompetista norte-americano Chet Baker (1929 - 1988). Na seqüência, vem o link mais inspirado do roteiro. Apresentado numa batida seca, quase fúnebre, um samba inédito que retrata o trágico e violento cotidiano dos morros cariocas - Fatalidade, parceria de Rodrigo Alzuguir com Alfredo del Peño - é emendado com um samba das antigas de Zé Kétti (1921 - 1999), Malvadeza Durão, um flash pioneiro dos códigos que regem as favelas. Antes de mais uma troca de roupa, Elza fecha o bloco em clima bem mais light ao reviver cheia de floreios e maneirismos vocais o samba Camisa Listrada, de Assis Valente (1911 - 1958). Show de suingue!
Na última parte, aberta com uma Mulata Assanhada totalmente remodelada, a maior surpresa é o gracioso dueto de Elza com o tecladista Marcelo Caldi em Acertei no Milhar. Mesmo sem ter a artilharia vocal da cantora, Caldi entra no jogo e co-protagoniza o número mais teatral do show. Que reabilita o Estatuto da Gafieira (Billy Blanco) com o trio metaleiro se destaca na banda. Nessa altura, a cantora já está mais sapeca do que nunca, ironiza em cena a idolatria de Madonna (sem citar o nome da cantora), faz alusões aos dotes físicos do baixista Edson Menezes e deixa o show com menos pique por conta de tanta falação. No bis, Tente Outra Vez (número herdado de recente show-tributo a Raul Seixas realizado em São Paulo com a participação de Elza), A Carne e um medley de funk que linka Se Essa Rua Fosse Minha com o Rap da Felicidade e com Som de Preto, ressaltando a ideologia de Elza, a mulata assanhada, sempre febril, e sempre sapeca, dura na queda.

10 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Já habituada a fazer shows fervidos, Elza Soares voltou febril ao palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), para estrear seu novo show, Elza Sapeca da Breca. Mas nem a febre que abalou sua voz conseguiu baixar a temperatura quente da apresentação. Assanhada como sempre, a mulata mostrou que é dura na queda e, mesmo sem a artilharia vocal dos melhores dias, fez um grande show realmente inédito - nem tanto por conta do roteiro, de fato salpicado com algumas novidades na voz de Elza, mas sobretudo pelos arranjos do maestro Eduardo Neves. Sob a batuta de Neves, um trio de metais em brasa repaginou músicas recorrentes no repertório da artista como Espumas ao Vento e, claro, Malandro.
A abertura de Elza Sapeca da Breca é feita a capella com Milagres, o tema cortante de Cazuza, Frejat e Denise Barroso que Elza gravou num de seus discos mais ousados, Somos Todos Iguais (Som Livre, 1985), infelizmente ainda inédito em CD. Na seqüência, Opinião, Palmas no Portão - um título menor do repertório de sambas da cantora - e Lata d'Água foram moldando um dos mais bem-costurados roteiros apresentados por Elza. Os links foram criativos. Pontuado por um acordeom, o samba Volta por Cima estava mais para tango - o que possibilitou a emenda perfeita com a já clássica abordagem de Fadas no ritmo argentino.
De certa forma, as trocas de roupa delimitam os blocos e climas do roteiro. Logo após a primeira das duas trocas de figurino, Elza surpreende quem não conhece seus dotes jazzísticos ao entoar, num tom lânguido, Imagination, tema do repertório suave do trompetista norte-americano Chet Baker (1929 - 1988). Na seqüência, vem o link mais inspirado do roteiro. Apresentado numa batida seca, quase fúnebre, um samba atual que retrata o duro e violento cotidiano dos morros cariocas - a partir da tragédia de uma moradora chamada Maria das Mercês - é emendado com um samba das antigas de Zé Kétti (1921 - 1999), Malvadeza Durão, um flash pioneiro dos códigos que regem as favelas. Antes de mais uma troca de roupa, Elza fecha o bloco em clima bem mais light ao reviver cheia de floreios e maneirismos vocais o samba Camisa Listrada, de Assis Valente (1911 - 1958).
Na última parte, aberta com uma Mulata Assanhada totalmente remodelada, a maior surpresa é o gracioso dueto de Elza com o tecladista Marcelo Caldi em Acertei no Milhar. Mesmo sem ter a artilharia vocal da cantora, Caldi entra no jogo e co-protagoniza o número mais teatral do show. Que reabilita o Estatuto da Gafieira (Billy Blanco) com o trio metaleiro se destaca na banda. Nessa altura, a cantora já está mais sapeca do que nunca, ironiza em cena a idolatria de Madonna (sem citar o nome da cantora), faz alusões aos dotes físicos do baixista Edson Menezes e deixa o show com menos pique por conta de tanta falação. No bis, Tente Outra Vez (número herdado de recente show-tributo a Raul Seixas realizado em São Paulo com a participação de Elza), A Carne e um medley de funk que linka Se Essa Rua Fosse Minha com o Rap da Felicidade e com Som de Preto, ressaltando a ideologia de Elza, a mulata assanhada, sempre febril, e sempre sapeca, dura na queda.

9 de janeiro de 2009 às 10:12  
Anonymous Anônimo said...

Elza ainda nos deve um cd DE ESTÚDIO digno de seu talento.

9 de janeiro de 2009 às 11:33  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, valeu pelo toque de Somos Todos Iguais - um quase grande disco (pra concordar com o anônimo das 11:33), mas que mostrava que Elza estava bem sintonizada com o momento e bem à frente de seu tempo. É a melhor gravação da obra de Cazuza e a mais sublime gravação de Sophisticated Lady.

9 de janeiro de 2009 às 14:24  
Anonymous Anônimo said...

Essa tem mais que o meu respeito.
Já passou por "poucas e boas" e continua aí. Amém, Dona Elza, sucesso sempre.

9 de janeiro de 2009 às 15:44  
Anonymous Anônimo said...

MAURO !
quando vem o proximo cd ?
vai ser registrado aovivo ?

ELZA, a maior estrela brasileira !

9 de janeiro de 2009 às 16:55  
Anonymous Anônimo said...

Se chamaram o Elymar Santos de guerreiro, esta aí então é a versão feminina de São Jorge.
Se chamaram a Luiza Possi de perseverante, esta aí é Jesus Cristo. Que me desculpe o Padre-Pop-Galã...

9 de janeiro de 2009 às 23:33  
Anonymous Anônimo said...

Mandou bem, anônimo. ADOREI.

10 de janeiro de 2009 às 10:33  
Anonymous Anônimo said...

Dura na Queda é o termo.

Essa carregou barro sob as sandálias. Madeira de dar em doido.
Maravilhosa!

maria

10 de janeiro de 2009 às 12:25  
Blogger Daniel de Mello said...

kkkkkkkkkkk

adorei o anonimo

mas conheci a Elza, figura impar ,tremi igual vara verde na sua presença
eis a mulher

11 de janeiro de 2009 às 23:26  
Anonymous Anônimo said...

A parceria com o Eduardo Neves deu um super salto de qualidade as apresentações da Elza, o último CD é simplemente perfeito. Isto prova que bons cantores precisam estar acompanhados de ótimos músicos.

12 de janeiro de 2009 às 13:36  

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