6 de setembro de 2008

Os buenos aires do pop globalizado de Johansen

Resenha de show
Título: Logo
Artista: Kevin Johansen + The Nada
Local: La Trastienda Club (Buenos Aires, Argentina)

Data: 5 de setembro de 2008
Cotação: * * * *

"You sound great", grita um espectador, em inglês, no meio do show feito por Kevin Johansen em La Trastienda Club, charmosa casa de shows de Buenos Aires, capital da Argentina que acolheu este compositor nascido no Alaska (EUA). A platéia de argentinos nem estranha a saudação em inglês. Afinal, embora cante em espanhol boa parte de seu repertório, Johansen faz pop de sotaque globalizado que abrange músicas cantadas em inglês - como Funny Face e a sensível balada Oh, My Love, my Love - e até em francês, caso de La Chanson de Prévert, um dos destaques do roteiro do show em que Johansen apresenta o repertório de seu último álbum, Logo, gravado com seu entrosado grupo The Nada, que o acompanha em cena e garante os buenos aires de seu bom som miscigenado, que funciona muito bem nos palcos argentinos.
Projetado no Brasil por Paula Toller, que incluiu duas músicas de autoria de Johansen no seu segundo disco solo, SóNós (2007), o compositor tem bom domínio do palco. Falante, geralmente introduz suas canções, como No Seas Insegura, com algum comentário sobre a origem de seus versos, ora românticos, ora mordazes. Musicalmente, munido de seu violão e eventualmente de um banjo, Johansen faz azeitado mix pop de folk, milonga, rap e ritmos portenhos em roteiro que une temas como a cumbia En mi Cabeza, No Voy a Ser Yo (gravado por Luiza Possi em português, em versão assinada por Moska) e Go On! - número especialmente vibrante, inclusive por conta da jam que destacou um duelo de guitarra e gaita travado por feras do (afiadíssimo) grupo The Nada.
Sozinho, acompanhado apenas de seu violão, Johansen também dá conta do recado ao apresentar músicas como Luna sobre Porto Alegre. Ao fim do show, entre milongas e temas de energia mais roqueira, Johansen já tinha na mão o público argentino que hiperlotou La Trastienda Club para fazer coro em canções como Desde que te Perdí e Anoche Soñe Contigo. Se o pop do artista é globalizado, as dores de amores são universais. He sounds great!!!

Fito registra show carioca com Milton e Herbert

O show que o cantor e compositor argentino Fito Paez vai fazer no Canecão, no Rio de Janeiro (RJ), na próxima quinta-feira, 11 de setembro de 2008, vai ser registrado ao vivo pela gravadora Sony BMG para edição em CD e DVD. A apresentação carioca de Paez vai ter participações especiais de Ana Cañas, Herbert Vianna, Milton Nascimento e Vanessa da Mata, em duetos criados para o registro.

Cauby canta 'Altos e Baixos' com sua sobrinha

Em 1979, Cauby Peixoto gravou o Bolero de Satã - composto por Guinga e Paulo César Pinheiro - em dueto com Elis Regina (1945 - 1982) no álbum Essa Mulher. Quase 30 anos depois, o cantor pôs voz em outra música lançada pela Pimentinha naquele belo disco. Em dueto com sua sobrinha, Adriana Peixoto (filha de seu irmão, o pianista Araken Peixoto), Cauby gravou Altos e Baixos, bissexta parceria de Sueli Costa com Aldir Blanc, para o primeiro CD da cantora, que atuava como crooner nas noites carioca e paulista. O lançamento está agendado para este mês de setembro.

'Santo Samba' puxa o 'Ponto Enredo' da Parede

Santo Samba é a música escolhida para puxar o quarto álbum de inéditas de Pedro Luís e a Parede, Ponto Enredo, que chega às lojas neste mês de setembro de 2008. Além de Roberta Sá, que canta Luz da Nobreza (samba composto por Pedro Luís com Zé Renato), o disco traz a voz de Zeca Pagodinho no partido alto Ela Tem a Beleza que Nunca Sonhei, faixa que também conta com a intervenção do músico Serginho Trombone. O repertório do CD Ponto Enredo é formado por parcerias de Pedro com nomes do porte de Roque Ferreira (Mandingo), Suely Mesquita (Animal), Carlos Rennó (Repúdio), Lula Queiroga (Tem Juízo, mas Não Usa), Lenine (Quatro Horizontes), Rodrigo Maranhão (A Rosa que me Encanta, música gravada por Verônica Sabino nos anos 90) e Zé Renato (Cabô e a citada Luz da Nobreza) - entre outros parceiros.

5 de setembro de 2008

Skank grava com Negra Li no disco 'Estandarte'

Estandarte é o nome do álbum de inéditas gravado pelo Skank em Belo Horizonte (MG) com produção de Dudu Marote, velho colaborador do grupo. Estandarte conta com a participação da rapper Negra Li na faixa eleita para puxar o CD, Ainda Gosto Dela. Nas rádios a partir da próxima terça-feira, 9 de setembro de 2008, Ainda Gosto Dela tem letra de Nando Reis, em nova parceria com o Skank, com o qual dialoga desde Samba Poconé, o disco de 1996 produzido pelo mesmo Dudu Marote que atuou neste novo trabalho - nas lojas ainda em setembro, pela gravadora Sony BMG.

A capa e as inéditas do CD 'Labiata', de Lenine

Os (bons) artistas gráficos Raul Mourão e Theo Carvalho, da empresa Tecnopop, assinam a direção de arte da capa de Labiata, o primeiro álbum de inéditas de Lenine desde 2002. Neste seu sexto disco solo, nas lojas em setembro com distribuição da Universal Music, o cantor e compositor apresenta 11 músicas inéditas feitas com parceiros como Arnaldo Antunes, Bráulio Tavares, Carlos Rennó, Dudu Falcão e Paulo César Pinheiro, entre outros. Eis, na ordem, as 11 faixas do CD - feito com patrocínio da Natura:

1. Martelo Bigorna (Lenine)
2. Magra (Lenine e Ivan Santos)
3. Samba e Leveza (Lenine e Chico Science)
4. A Mancha (Lenine e Lula Queiroga)
5. Lá Vem a Cidade (Lenine e Bráulio Tavares)
6. O Céu É Muito (Lenine e Arnaldo Antunes)
7. É Fogo (Lenine e Carlos Rennó)
8. É o que me Interessa (Lenine e Dudu Falcão)
9. Ciranda Praieira (Lenine e Paulo César Pinheiro)
10. Excesso Exceto (Lenine e Arnaldo Antunes)
11. Continuação (Lenine)

DVD reúne hits que o McFly vai tocar no Brasil

Quarteto britânico cultuado por uma tribo teen, McFly vem ao Brasil no início de outubro para (já concorridos) shows a serem feitos em Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Os sucessos que a banda vai tocar para suas fãs adolescentes estão reunidos no farto DVD All The Greatest Hits (capa à direita), recém-lançado pela gravadora Universal Music no mercado nacional. O DVD rebobina 18 clipes de músicas da banda - entre elas, That Girl, I'll Be Ok, Star Girl, The Heart Never Lies, Friday Night e 5 Colours in her Hair - e traz cenas de bastidores nos extras. Além dos 18 vídeos, o DVD também traz 15 números extraídos de shows do McFly. Entre eles, All about You e Broccoli.

Trilha sertaneja de novela favorece Victor & Leo

Dupla sertaneja em ascensão, já muito popular nos redutos do gênero, Victor & Leo estão ampliando o seu sucesso em escala nacional com a trilha sonora sertaneja da novela A Favorita. A dupla interpreta um dos principais sucessos sertanejos da história, Tem que Ser Você - aliás, a faixa de abertura do CD A Favorita - Sertanejo, que já está chegando às lojas pela Som Livre. Com exceção de Zezé Di Camargo & Luciano, os principais nomes do sertanejo, nos últimos anos, aparecem na seleção. Eis as 14 faixas:

1. Tem que Ser Você - Victor & Leo
2. Sinônimos - Chitãozinho & Xororó (com Zé Ramalho)
3. Difícil Não Falar de Amor - Daniel
4. Por Favor, Reza pra Nóis - Leandro & Leonardo
5. A Chapa Vai Esquentar - Rud & Robson
6. Talvez - César Menotti & Fabiano
7. De Tanto te Querer - Jorge & Mateus
8. Se É pra Falar de Amor - Mateus & Cristiano
9. Ainda Ontem Chorei de Saudade - Edson & Hudson
10. Cabecinha no Ombro - Bruno & Marrone
11. Vida Louca - Rionegro & Solimões
12. Meu Primeiro Amor - Roberta Miranda
13. Saudades de Matão - Chitãozinho & Xororó
14. Andorinha - Victor & Renan

4 de setembro de 2008

Sai de cena Soriano, voz do sentimento popular

Um dos intérpretes que mais bem traduziram no seu cancioneiro o gosto dos brasileiros pelas canções sentimentais de tom arrebatado, Waldick Soriano saiu de cena na madrugada desta quinta-feira, 4 de setembro de 2008, aos 75 anos, vítima de câncer na próstata. Nascido em 13 de maio de 1933, na cidade interiorana de Caetité, na Bahia, Soriano morreu no Rio de Janeiro. De origem pobre, Soriano foi peão, garimpeiro, engraxate e motorista de caminhão - entre outros ofícios desprezados na escala social - antes de conseguir ser o ídolo de um Brasil popular que o Brasil finge ignorar. Começou a gravar discos no início dos anos 60. É dessa década, aliás, a obra-prima do repertório autoral de Soriano, Tortura de Amor. Mas vem dos anos 70 a música que mais identifica o artista no imaginário popular: Eu Não Sou Cachorro, Não. Voz das dores de amores, das quais dizia sofrer, Waldick Soriano parecia encarnar um personagem - e não somente pelos figurinos e pelos óculos pretos que caracterizavam o seu visual. E foi com um olhar terno dirigido a este personagem que a atriz Patrícia Pillar, fã confessa do artista, produziu e dirigiu o documentário Waldick Soriano - Sempre no meu Coração, já exibido em festivais, mas ainda à espera de uma chance para entrar em circuito. Intérprete associado à música cafona (ou brega), Waldick Soriano fez seu nome na música ao cantar para um povo que nunca teve vergonha de ser sentimental. É no coração desse povo que seu nome e seu som vão permanecer para sempre.

Palmas fakes no bar dos teletemas dos anos 70

Já nas lojas, com distribuição da gravadora Universal Music, os dois CDs da quarta edição do projeto Um Barzinho, um Violão - intitulada Novela 70 por reunir 26 regravações de músicas propagadas em tramas exibidas pela Rede Globo na década de 70 - precedem o DVD que vai ser lançado na seqüência. A curiosidade do volume 2 - ou capítulo 2, como está graciosamente grafado no disco - são as palmas fakes ouvidas ao fim do registro de Moça (Wando) por Caetano Veloso. Tais palmas dão a impressão de que - como os demais intérpretes - o cantor fez sua gravação ao vivo nos dois shows fechados realizados no Morro da Urca (RJ) em 12 e 13 de maio de 2008. Na realidade, como na época estava às voltas com a estréia de seu show Obra em Progresso, Caetano optou por gravar Moça em estúdio. O registro de Caetano abre o volume 2. Já o primeiro capítulo é aberto com uma homenagem ao trompetista Márcio Montarroyos, morto em dezembro de 2007. Jessé Sadoc recria o solo de Carinhoso (Pixinguinha) feito por Montarroyos em 1973 na abertura da novela Carinhoso. Eis as 26 gravações reunidas nos CDs, produzidos por Guto Graça Mello:

Capítulo 1
Carinhoso - Jessé Sadoc
Pensando Nela - Papas da Língua
Sonhos - Paula Toller
Pecado Capital - Jorge Aragão
Paralelas - Zélia Duncan
Martim Cererê - Zeca Pagodinho
Pavão Mysteriozo - Fernanda Takai
Meu Pai Oxalá - Moinho
Teletema - Luiza Possi
Fascinação - Jorge Vercillo
Enrosca - Celso Fonseca
Coleção - Maurício Manieri
Como Vovó Já Dizia - Lobão

Capítulo 2
Moça - Caetano Veloso
Broto Legal - Marjorie Estiano
Pombo Correio - Elba Ramalho
Você Abusou - Diogo Nogueira
Eu Preciso te Esquecer - Marina Elali
Capitão de Indústria - Herbert Vianna
Malandragem Dela - Dudu Nobre
Beijo Partido - Pedro Mariano
Nuvem Passageira - Tunai
Um Jeito Estúpido de te Amar - Isabella Taviani
Meu Drama - Casuarina
Meu Mundo e Nada Mais - Alex Cohen
Filho da Bahia - Margareth Menezes

Roberta exibe boa inédita para Canecão lotado

Quase cinco anos depois de sua gravação de A Vizinha do Lado (Dorival Caymmi) ter começado a tocar na trilha sonora da novela Celebridade, Roberta Sá fez sua estréia solo no palco do Canecão com a casa superlotada. Munida da excelente inédita Agora Sim (composta a partir de letra de Carlos Rennó, musicada em ritmo de samba por Pedro Luís e pela própria Roberta), a cantora reapresentou na noite de 3 de setembro de 2008 uma versão remodelada do show Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria - com direito a um cenário de Gringo Cardia e Gigi, formado por tiras e painéis coloridos que eram mudados a cada número. Fora a inédita, o roteiro não incluiu novidades na voz da cantora, que, no bis, entoou o Samba do Balanço, número que fazia parte do repertório de seus primeiros shows, embora Roberta nunca tenha gravado este sambalanço. No segundo bis, a intérprete cantou Novo Amor com a satisfação de ver a música de Edu Krieger ganhar o coro da platéia. Tão forte que a artista deixou que o público cantasse sozinho o belo samba-choro do compositor. Fecho bonito para uma noite consagradora. O show vai virar DVD. Roberta Sá planeja fazer a gravação ainda em 2008.

Parceiro de Vercillo, Villeroy grava dois discos

Compositor gaúcho popularizado na voz de Ana Carolina, de quem é parceiro, Antonio Villeroy (em foto de Gabriele Lemanski) prepara dois discos. Um vai ter somente músicas inéditas e inclui parcerias do compositor com Francisco Bosco, Jorge Mautner, Jorge Vercillo e a própria Ana Carolina. Entre as inéditas, há Prima do Ciúme, Ouro (com texto de Mautner) e Além do Paraíso - música que dá título ao show que Villeroy vai apresentar nas quintas-feiras de setembro no Espaço Laranja, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro (RJ). O outro disco é dividido com o pianista americano Don Grusin, que esteve recentemente no Brasil para compor e gravar as músicas deste álbum. Entre elas, El Guión - parceria de Villeroy e Grusin com Bebeto Alves, outra voz do Sul.

3 de setembro de 2008

Som Livre edita tributo a Bezerra em CD e DVD

Gravado ao vivo em 2005, em show na Fundição Progresso (RJ), o tributo que uniu nomes como Beth Carvalho em torno da obra de Bezerra da Silva (1927 - 2005) ganha edição em CD (capa à direita) e em DVD via gravadora Som Livre. Cabe ao filho do artista, Tuca da Silva, abrir o CD Tributo a Bezerra da Silva com Se Não Fosse o Samba, música que deu título ao álbum lançado pelo cantor em 1989. Na homenagem, Jards Macalé levanta Defunto Cagüete. B Negão encara Bicho Feroz. Já Elza Soares reabilita Candidato Caô Caô enquanto Pedro Luís e a Parede defendem Verdadeiro Canalha. Com Otto, Leci Brandão dá visibilidade a Vítimas da Sociedade. O disco também agrega Daúde (Transação de Malandro), Nação Zumbi (Coco do B, raridade do primeiro LP de Bezerra, O Rei do Côco, editado em 1975 pela Tapecar), Luiz Melodia (Maloca o Flagrante), Barão Vermelho (Malandragem Dá um Tempo) e Dicró (Minha Sogra Parece Sapatão). Já à venda!

Crueza pontua fim da folia triste dos Hermanos

Resenha de CD e DVD
Título: Los
Hermanos na
Fundição Progresso -
09 de Junho de 2007
Artista: Los
Hermanos
Gravadora: Sony
BMG
Cotação: * * * 1/2

Não há neste bom DVD póstumo que registra o último show do grupo Los Hermanos a beleza plástica e tampouco o apuro técnico observado no DVD anterior do grupo, Los Hermanos no Cine-Íris - 28 de Junho de 2004. Como não havia cenário e sequer uma luz mais especial na miniturnê de despedida feita pelo quarteto na Fundição Progresso (RJ), em junho de 2007, o registro deste show histórico, quase mítico, resulta propositalmente tosco - como já sugere a foto que ilustra a capa do CD (o primeiro ao vivo da banda) e do DVD. Ainda assim, o caráter documental justifica a gravação. Todo Carnaval tem seu fim e do Los Hermanos terminou na noite de 9 de junho de 2007. A crueza que pontua o registro apenas acentua a devoção religiosa dos fãs ao quarteto com a aura especial alimentada pelo fato de aquele show de 9 de junho de 2007 -eternizado na íntegra no DVD, que traz nos extras cinco músicas do dia 8 que não foram tocadas no show seguinte - marcar o fim da folia triste dos Hermanos. Sim, sempre houve melancolia no rock de analogias carnavalescas entoado pelos Hermanos sem disfarçar a influência da MPB - em especial, do samba - no som do grupo. E os fãs devotados que foram se juntando em blocos no culto aos Hermanos mergulham de cabeça na folia, fazendo coro com os cantores Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante em todos os 31 números deste DVD de imagens escuras. E vale lembrar que, no farto roteiro perpetuado no vídeo (o CD apresenta apenas 14 músicas), até Anna Júlia dá as caras, tendo seu refrão repetido somente pelos devotos. Quem também reaparece é Pierrot, que fecha o show, sinalizando que, sim, todo Carnaval tem o seu fim...

Alê faz Lua brilhar em promissor primeiro disco

Resenha de CD
Título: Lua
Artista: Lua
Gravadora: ôLôko
Records
Cotação: * * * 1/2

Cantora nascida em Brasília (DF) em 1981, Luana Gorayeb, a Lua, começou sua carreira em Florianópolis (SC), mas foi em Salvador (BA) que burilou o conceito deste seu primeiro disco, (bem) produzido por Alê Siqueira e (bem) mixado por Bob Power em Nova York (EUA). Há um apuro estilístico no álbum que indica futuro para a artista no mercado fonográfico. De cara, há criativa releitura de Se Tudo Pode Acontecer (Arnaldo Antunes, Paulo Tatit, Alice Ruiz e João Bandeira) que sinaliza logo na faixa de abertura a boa impressão deixada, no todo, por seu CD de estréia. Sem abusar dos recursos eletrônicos, Alê imprime sotaque contemporâneo e universal a músicas como Seres Tupy - tema de Pedro Luís que ganha a adição do canto rapeado de Lenine - e Maracatu de Tiro Certeiro, parceria de Chico Science (1966 - 1997) com Jorge Du Peixe, adornada com o rap de B Negão. Já em Piercing (Zeca Baleiro) o adorno é a batida afro-baiana do grupo Hip Hop Roots. Entre temas de Chico César (Tambor) e Moska (Não Deveria se Chamar Amor), Lua brilha nas regravações de músicas velhas e se apaga em músicas supostamente mais novas como Brilho do Sol (Nelson Viana) e Jogo Bom (Viva Varjão), ambas insossas e aquém do rigor estilístico apontado pela cantora em seu promissor primeiro álbum. Com a providencial ajuda da boa produção de Alê Siqueira.

Documentário sobre Tom Zé é editado em DVD

Sucesso de público, desde que começou a ser apresentado em festivais, a partir de 2006, o documentário Fabricando Tom Zé, de Decio Matos Jr., ganha bem-vinda edição em DVD. A partir de takes captados em turnê realizada pelo artista na Europa, em 2005, o diretor montou seu filme. Entre depoimentos de Caetano Veloso e de Neusa Martins, mulher e empresária de Tom Zé, o destaque é a cena em que o artista, bronqueado e desaforado, solta o verbo em cima do técnico de som com quem não se entendia durante passagem de som do show que ia ser feito por Zé no Festival de Montreux, na Suíça. Hilário!!!

2 de setembro de 2008

Julieta embala bem seu pop mexicano na MTV

Resenha de CD
Título: Julieta Venegas
MTV Unplugged
Artista: Julieta Venegas
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * *

Cantora e compositora que faz bom mix de pop com os ritmos regionais do México, o país onde se criou, Julieta Venegas recicla e embala muito bem sua obra no formato acústico da MTV em CD (já disponível no mercado brasileiro) e em DVD (em breve nas lojas) produzidos pela própria artista ao lado do maestro e violoncelista brasileiro Jacques Morelenbaum. A boa presença de Morelenbaum - que também toca violoncelo em Cómo Sé - não é a única referência do Brasil. Cantando em português, Marisa Monte faz dueto com a colega em Ilusión, a mais inspirada das quatro inéditas autorais lançadas por Julieta no seu luxuoso Unplugged MTV. Somente este dueto bilingüe de Venegas e Marisa já vale o disco. Contudo, a faixa eleita para promover o projeto é também a inédita El Presente, de textura regional. A mesma tinta mexicana que também tinge uma outra novidade do repertório, Algún Día, gravada com o banjo e os vocais (quase imperceptíveis e somente no refrão) de Gustavo Santaolalla, líder do Bajofondo Tango Club. E por falar em convidados, La Mala Rodrigues dá tom de hip hop à canção Eres para mi. Enfim, um belo acústico que, para ouvidos nacionais, vai funcionar como porta de entrada para a obra (ainda desconhecida no Brasil) de Julieta Venegas. E ainda traz a voz de Marisa Monte (num dos mais lindos momentos de sua discografia).

Leveza sustenta o disco mais feliz de Mart'nália

Resenha de CD
Título: Madrugada
Artista: Mart'nália
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *

Em seu anterior álbum de estúdio, Menino do Rio, lançado em fevereiro de 2006, Mart'nália - guiada por Maria Bethânia, mentora do disco - pisou no terreiro baiano sem tirar os pés da Vila Isabel de Noel Rosa (1910 - 1937) e de seu pai, Martinho da Vila. Em Madrugada, a cantora troca o repertório solar de Menino do Rio pelo clima descontraído das noites de boemia do Rio de Janeiro. Com espírito carioca, Madrugada é o melhor disco de Mart'nália, a melhor tradução da alma desencanada desta artista que não faz pose nem tipo. A idéia de fazer um CD inspirado pela música negra norte-americana acabou diluída pelo suingue do samba carioca - ainda que a faixa de abertura, Alívio (Arthur Maia e Djavan), evoque a alma da black music cultuada por Arthur Maia. Ritmos e latitudes à parte, Madrugada é álbum muito feliz.

Arthur Maia, a propósito, divide com Celso Fonseca a produção deste disco perfeito, mas especialmente saboroso em sua primeira metade, preenchida por sambas leves e cheios de charme. Tava por Aí (Mombaça e Mart'nália), Deu Ruim (Arthur Maia, Ronaldo Barcellos e Mart'nália) e Ela É Minha Cara (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) são sambas impregnados do alto astral carioca. "Ela é o colírio da moçada / Quando chega pára a batucada /Ela é o jazz / E há quem diga que parece um rapaz / ... / Tira onda de grã-fina / Mas pra mim é só a mina / Que enfeitiçou o meu coração", canta Mart'nália, assumidíssima, no sambossa Ela É Minha Cara. É neste tom desencanado que Mart'nália celebra a vida e minimiza as adversidades ao cantar sambas como Não Encontro Quem me Queira (de Thiago Mocotó, irmão de Gabriel O Pensador) e (Jorge Agrião e Evandro Lima). exibe viés afro que aflora em Angola, festiva parceria de Mart'nália, Arthur Maia e Paulo Flores.

Há em Madrugada três corajosas regravações produzidas por Celso Fonseca que reafirmam a personalidade forte de Mart'nália. O suingue que a cantora imprime em Sai Dessa (Nathan Marques e Ana Terra) é tão envolvente que logo faz esquecer a gravação irretocável realizada por Elis Regina (1945 - 1982) em seu último álbum, Elis (1980). Da mesma forma, a leitura de Mart'nália para Batendo a Porta insere o samba altivo de João Nogueira (1941 - 2000) e Paulo César Pinheiro no clima do disco. Por fim, Alegre Menina - a parceria bissexta de Dori Caymmi com o escritor Jorge Amado (1912 - 2001) - ressurge cheia de charme e de ginga, valorizada pelos vocais de Luiza Possi (em seu melhor momento).

No fim de Madrugada, de clima ligeiramente mais introspectivo, Martn'nália saca uma das mais belas canções de Moska, Sem Dizer Adeus, e revive o acalanto Tom Maior, lançado por seu pai, Martinho da Vila, em seu primeiro álbum, de 1969. E a faixa que encerra o disco - a recriação personalíssima de Don't Worry, Be Happy!, entoada numa letra bilingüe que mistura português com um inglês de Vila Isabel, como ironiza a cantora na introdução falada da gravação que acaba em samba - traduz com exatidão o tom de CD feliz sob todos os prismas. Por ora, é o melhor de 2008.

CD de inéditas do Papas da Língua inclui Paula

Grupo gaúcho que ganhou fama nacional em 2006 com a propagação de sua canção Eu Sei na trilha sonora da novela Páginas da Vida, Papas da Língua ingressa no elenco contratado da EMI Music - até então, a gravadora somente distribuía os CDs e DVDs da banda - com o disco de inéditas que vai ser lançado em outubro. Produzido por Paul Ralphes e já intitulado Disco Rock, o álbum tem a participação de Paula Toller na música Veja Só. Na foto de Márcia Moreira, a cantora carioca posa no estúdio Cia. dos Técnicos (RJ) com o vocalista do Papas da Língua - Serginho Moah - durante a gravação dos vocais.
Além da música que lhe dá título, Disco Rock, o disco já tem confirmado no repertório inéditas como Diga Sim, Estou Aqui, Juliana e Oba Oba. Todas assinadas pelos músicos do Papas da Língua - assim como Veja Só, a faixa que registra o improvável encontro de Paula Toller com o grupo. A idéia foi de Paul Ralphes.

DVD mostra as cores do samba de Maria Rita

Nas lojas a partir de 9 de setembro, o DVD Samba Meu, de Maria Rita, apresenta capa multicolorida, de textura meio psicodélica. Produzido pela própria cantora, com direção de Hugo Prata, o DVD registra a íntegra do show apresentado na casa Vivo Rio (RJ) em 10 de junho de 2008. Eis o roteiro registrado no vídeo de Rita:
1. Samba Meu / O Homem Falou
2. Tá Perdoado
3. Maria do Socorro
4. Novo Amor
5. Trajetória
6. O que É o Amor
7. Cria
8. Recado
9. Muito Pouco
10. Pagu
11. Encontros e Despedidas
12. Caminho das Águas
13. A Festa
14. Cara Valente
15. Corpitcho
16. Casa de Noca
17. Num Corpo Só
18. Maltratar Não É Direito
19. Conta Outra
Bis:
20. Não Deixe o Samba Morrer (extras)

1 de setembro de 2008

'Disco music' ecoa no pop eletrônico de Sparro

Resenha de CD
Título: Sam Sparro
Artista: Sam Sparro
Gravadora: Island
/ Universal Music
Cotação: * * * *

Sam Sparro é um cantor, compositor, instrumentista e - ufa! - produtor australiano que despontou nas pistas neste ano de 2008 com o single inebriante Black and Gold, petardo que incendiou a cena clubber da Europa. A música figura obviamente neste primeiro álbum de Sparro, recém-lançado no Brasil pela gravadora Universal Music. O artista faz um pop eletrônico que tritura referências de r & b, funk e disco music. Por evocar a batida da discoteca em faixas como 21st Century Life e Pocket, o álbum de Sparro tem sido associado ao de Mika, o inglês de descendência libanesa que sacudiu as pistas inglesas em 2007. Mesmo sem atingir a excelência de Mika, o som de Sparro é sedutor. Músicas como Too Many Questions e a funkeada Cottonmouth fazem de Sam Sparro, o álbum, uma das boas estréias de 2008. E aviso aos navegantes: há uma faixa escondida, Still Hungry, balada que destoa do tom do CD, que, dizem, conquistou uma tal de Madonna.

Roberta mostra inédita em show que gera DVD

Roberta Sá (à direita numa foto de Paulo Vainer) mostra a música inédita Agora Sim - parceria de Sá com Pedro Luís e Carlos Rennó - na versão ampliada do espetáculo Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria que vai ser apresentada no Canecão (RJ), na quarta-feira, 3 de setembro de 2008. Emoldurada por cenário de Gringo Cardia, a cantora vai fazer sua estréia solo na casa em que já se apresentou, em julho de 2007, em noite dividida com o colega Rodrigo Maranhão. Roberta tem planos de registrar o show em DVD até o fim de 2008. Mas ainda não há data para a gravação.

Maga faz duo com Represas em 'Naturalmente'

Cantor português que acaba de editar CD produzido pela MZA Music para o mercado brasileiro, Navegar É Preciso, Luis Represas foi convidado pela gravadora para participar do álbum que a baiana Margareth Menezes vai lançar no fim de setembro, Naturalmente. Represas e Maga unem vozes na faixa Um Caso a Mais. Produzido por Mazzola, o trabalho em que a cantora atravessa a fronteira do axé já está sendo promovido com a faixa Os Cegos do Castelo, música de Nando Reis, lançada pelos Titãs. Outras regravações são Abuso de Poder (samba de Marquinhos PQD e Carlito Cavalcante, popularizado na voz de Jorge Aragão em 2001), Mulher de Coronel (música de Gilberto Gil, lançada pelo autor em 1989 e revivida pela cantora em dueto com Gil) e Foi Deus Quem Fez Você (canção de Luiz Ramalho que fez sucesso na voz de Amelinha em 1980). O repertório inclui também a música inédita de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes que Margareth tentou em vão incluir como faixa-bônus no DVD e CD Brasileira ao vivo - Uma Homenagem ao Samba-Reggae.

Sai de cena Salu, mestre dos ritmos do mangue

Reverenciado pelos grupos que formataram o som que gerou nos anos 90 o movimento intitulado Mangue Beat, Manoel Salustiano Soares, o Mestre Salu, saiu de cena no domingo, 31 de agosto de 2008, no Recife, em Pernambuco, o Estado onde nasceu em 12 de novembro de 1945 na cidade de Aliança, na Zona da Mata. Sofria do Mal de Chagas, doença que provocava a arritmia cardíaca que acabou provocando sua morte, aos 62 anos. Salu era mestre da rabeca e dos gêneros que foram a base da música de Pernambuco. Criado em Olinda (PE) desde a infância, Salu cultuava ritmos e folguedos como a ciranda, o cavalo-marinho e o maracatu, matrizes do Mangue Beat. Sua discografia - iniciada tardiamente quando Salu já contabilizava mais de 50 anos - inclui somente quatro coerentes títulos. Os álbuns Sonho da Rabeca (2001), Mestre Salustiano e o Cavalo-Marinho (2002), Família Salustiano - Três Gerações (2003) e Mestre Salu e a sua Rabeca Encantada (2006) são o legado deste mestre da rabeca e das tradições culturais de Pernambuco. Deixa muitos discípulos.

31 de agosto de 2008

'Os Desafinados' evoca fino da bossa no cinema

Resenha de filme
Título: Os Desafinados
Direção: Walter
Lima Jr.
Elenco: Rodrigo
Santoro, Cláudia
Abreu, Selton Mello,
Ângelo Paes Leme, Jair
Oliveira, André Moraes
e Alessandra Negrini
Cotação: * * * *

Em agosto do ano dourado de 1958, a edição via Odeon do compacto com a seminal gravação da música Chega de Saudade, na voz e na tal batida diferente do violão de João Gilberto, revolucionou a cena musical brasileira e abriu os ouvidos de (muitos) jovens que se iniciavam no ofício de tocar um instrumento. Uns alcançaram o sucesso. Outros ficaram no meio do caminho e ainda foram engolidos na poeira do regime militar que tolheu a liberdade de expressão. Inclusive a musical. É desse segundo grupo que trata Os Desafinados, o afinadíssimo filme de Walter Lima Jr. que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 29 de agosto de 2008 - 50 anos depois da revolução causada pelo compacto de João. Contada em retrospectiva, a ação principal se situa nos anos 60, ,mais especificamente em 1962, ano do controvertido show do Carnegie Hall (Nova York, EUA) que ajudaria a expandir a bossa em terras norte-americanas. Um quarteto de músicos afinados com a modernidade de João - Quim (piano, Rodrigo Santoro), Davi (sax, Ângelo Paes Leme), PC (bateria, André Moraes) e Geraldo (baixo, Jair Oliveira) - tenta o passaporte para tocar no célebre concerto. Mas não consegue participar do show e nem ao menos entrar no Carnegie Hall. A partir daí, o diretor desenvolve - com a leveza típica da bossa - uma trama sensível que não pesa nem quando o foco recai sobre o triângulo amoroso que situa Quim entre a cantora Glória Baker (Cláudia Abreu, luminosa no papel em que foi dublada por Branca Lima, filha do diretor, nas cenas em que canta) e a esposa Luiza (Alessandra Negrini). Muito da leveza vem do humor das falas de Dico (Selton Mello), o cineasta amigo do quarteto de Niterói (RJ) que registra as aventuras do grupo pelas ruas de Nova York e pela boate Manolo's, em Copacabana. No todo, Os Desafinados é o fino da bossa no cinema. Walter Lima Jr. foca em ritmo bem suave um período pouco explorado na trajetória do movimento sob a direção musical de Wagner Tiso. A música está no centro e no comando da ação deste filme de clima poético e nostálgico. O elenco afinado dá credibilidade a personagens fictícios de uma época real, pontuada pela explosão da bossa hoje cinqüentenária no mundo. Nem a tinta política que escurece a trama na parte final altera o tom delicado deste filme que expõe toda a beleza do amor, do sorriso e da flor num tempo de magia e crença num sonho que logo iria acabar. Ficou a Bossa...

Capa do solo de Camelo exibe poema concreto

Previsto para chegar às lojas a partir de 8 de setembro de 2008, o esperado primeiro CD solo de Marcelo Camelo, Sou, estampa na capa (à direita) minúsculo poema concreto de Rodrigo Linares. Sempre que a capa for posta de cabeça para baixo, o que se lê é nós em vez de sou. Embalagem à parte, a julgar pelas faixas que já caíram na internet, o disco individual do hermano é todo pautado por estranhezas, dissonâncias e clima introspectivo. Entre as 14 músicas, há Mais Tarde, Vida Doce, Liberdade (faixa com intervenção do sanfoneiro Dominguinhos), Copacabana, Menina Bordada, Passeando, Janta (faixa com a voz de Mallu Magalhães), Tudo Passa (já disponível de forma oficial no portal Sonora, do Terra), Doce Solidão e Téo e a Gaivota (também já disponível para download legalizado). O álbum Sou inaugura o selo de Camelo, Zé Pereira (distribuído pela gravadora Sony BMG).

Bethânia coleta músicas para disco de inéditas

Mantendo o seu (acelerado) ritmo de gravação de CDs e de DVDs, Maria Bethânia já recolhe músicas para um álbum de inéditas que - ao que aparece - não vai seguir nenhum conceito pré-determinado. A idéia da intérprete é entrar em estúdio ainda em 2008 para lançar o disco em 2009, pela gravadora Biscoito Fino. Entre os compositores deste repertório inédito, figuram Chico César, Paulo César Pinheiro, Roque Ferreira e Vanessa da Mata. Nomes já recorrentes nas fichas técnicas dos últimos (excelentes) CDs da cantora.

DVD e livro documentam os violeiros brasileiros

Instrumento surgido no século 13 e trazido para o Brasil na bagagem da colonização portuguesa, a viola seduziu grandes músicos nacionais e se tornou indissociável da música ruralista tocada nos interiores do Brasil. A produtora cultural Myriam Taubkin enfoca onze deles no DVD (capa à direita) e no livro Violeiros do Brasil. No documentário, feito por Taubkin com Sérgio Roizenblit, ouve-se a boa música, a história e os causos de Adelmo Arcoverde, Almir Sater, Braz da Viola, Ivan Vilela, Passoca, Paulo Freire, Pena Branca, Pereira da Viola, Roberto Corrêa, Tavinho Moura e da dupla Zé Mulato & Cassiano. No livro, que tem prefácio de Inezita Barroso, há entrevistas com os músicos e uma lista de violeiros e luthiers em atividade no Brasil. São 228 páginas impressas em cores, em papel couchê, com fotos e projeto gráfico típico dos livros de arte.