8 de março de 2008

O caliente sangue tropical de Bethânia e Omara

Resenha de show
Título: Omara Portuondo e Maria Bethânia
Artista: Omara Portundo e Maria Bethânia
Local: Canecão (RJ)
Data: 7 de março de 2008
Cotação: * * * * 1/2

"Nossa música tem sangue tropical", reiteraram Maria Bethânia e Omara Portuondo ao cantar verso de Havana-me na estréia do show que vai passar por dez cidades brasileiras até encerrar sua turnê internacional em junho, na Argentina e no Chile. A música de Joyce e Paulo César Pinheiro, que enfatiza as afinidades entre Brasil e Cuba, foi um dos muitos pontos altos do show. "Bethânia-me", afagou a veterana cubana. "Omara-me", devolveu Bethânia, em (apropriado) acréscimo de versos na letra festiva de Pinheiro.

O caliente sangue tropical deu ao show um calor que inexiste no disco que gerou o inédito encontro das intérpretes no palco. Em sintonia, o cenário de cores explosivas criado por Gringo Cardia realçou esse caráter tropical em tom kitsch. A sedutora entrada das cantoras em cena - quando sobe a cortina, as duas já estão no palco entoando em uníssono os vocais que anunciam Cio da Terra - já sinalizou que, no show, haveria a interação que faltou no CD. Na seqüência, o dueto em Cálix Bento enfatizou o acento ruralista de parte do repertório - exposto no palco num tom menos íntimo.

Com invejável vitalidade para seus 77 anos, notada sobretudo em sua parte solo, dona Omara arriscou cantar em espanhol músicas brasileiras como Gente Humilde, a já citada Havana-me e O Que Será, que fecha o roteiro (antes do bis) com o molho cubano. E foi essa interação com Bethânia que valorizou o show. Embora lendo as letras dos temas nacionais que interpretava em espanhol, dona Omara disfarçou bem a natural insegurança de estar apresentando músicas com as quais ainda tem pouca intimidade. Quando ficou em casa, sozinha no palco, a intérprete cubana deitou e rolou ao passear por boleros como Veinte Años, Mil Congojas (em um tom suave, às vezes até sussurrante que deu outra nuance aos doídos versos de Juan Pablo Miranda) e Dos Gardenias. O medley com os acalantos Lacho e Drume Negrita foi especialmente sedutor. Sob seca base percussiva, Omara pareceu encarnar uma preta velha, travando diálogo imaginário com crianças insones e enfatizando a raiz negra que fez brotar as músicas de Brasil e Cuba. Inesquecível.

A fina costura do roteiro se revela mais frouxa na parte individual de Bethânia. Do Partido Alto de Chico Buarque (entoado num tom incisivo, quase raivoso), a cantora pula para o sofisticado bolero Arrependimento e, na seqüência, revive Negue com um belíssimo arranjo que renova a música que regravou com grande sucesso no álbum Álibi (1978). Logo depois, recorda a rumba Escandalosa - sucesso de Emilinha Borba (1923 - 2005) - para em seguida fazer pulsar novamente a veia romântica com a dispensável Você Não Sabe (Roberto e Erasmo Carlos), música linda, só que totalmente fora de contexto neste sobe-e-desce. É em O Ciúme que a grande intérprete reaparece com toda sua força e majestade, em registro arrebatador merecidamente ovacionado ao fim do número. É de chorar. Finalizando seu set individual, Bethânia apresentou bela inédita de Roque Ferreira - Doce, um singelo tributo à baianidade nagô de Dorival Caymmi - reunida em link com A Bahia te Espera.

No fim do show, reunidas novamente no palco, Bethânia e Omara realçaram a delicadeza ruralista de Você (Penas do Tiê), caíram no suingue de Só Vendo que Beleza (Marambaia), enfatizaram o fino lirismo da cubana Para Cantarle a mi Amor e se derramaram nos compassos abolerados de Começaria Tudo Outra Vez, do mesmo Gonzaguinha que reaparece no roteiro - no bis - com Palavras na voz de Bethânia. O efusivo duo das intérpretes em Guantanamera encerra o bis no clima caliente que fez ferver o sangue tropical de todos que testemunharam a estréia antológica do espetáculo que sedimenta o encontro de Omara Portuondo com Maria Bethânia.

Afinidades urdem roteiro de Bethânia e Omara

É de Maria Bethânia e de Omara Portuondo a concepção do roteiro do show que as duas grandes intérpretes vão apresentar até junho por Brasil, Argentina e Chile. Costurado por afinidades temáticas, o roteiro entrelaça doze das treze finas músicas do disco Omara Portuondo e Maria Bethânia - a exceção é Menino Grande - e acrescenta ao repertório do CD composições de Chico Buarque e Gonzaguinha. Eis o roteiro apresentado na estréia do show, em 7 de março de 2008 (a foto das divas em cena é de Eryck Machado):

Maria Bethânia e Omara Portuondo
1. Cio da Terra (Chico Buarque e Milton Nascimento)
2. Cálix Bento (Tavinho Moura sobre tema de Domínio Público)
3. Gente Humilde (Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque)
- versão em espanhol de Alfredo Fressia

Maria Bethânia
4. Partido Alto (Chico Buarque)
5. Arrependimento (Fernando César e Dolores Duran)
6. Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida)
7. Escandalosa (Djalma Esteves e Moacyr Silva)
8. Você Não Sabe (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
9. O Ciúme (Caetano Veloso)
10. Doce (Roque Ferreira) / A Bahia te Espera
(Chianca de Garcia e Herivelto Martins)

Maria Bethânia e Omara Portuondo
11. Cubanakan (Moisses Simons, Sauvat e Chamfleurry)
- versão em português de Romeu Nunes
12. Tal Vez (Juan Pablo Miranda)

Omara Portuondo
13. Veinte Años (Maria Teresa Vera)
14. Mil Congojas (Juan Pablo Miranda)
15. Nana para un Suspiro (Semillita) (Pedro Luís Ferrer)
16. Dos Gardenias (Isolina Carrillo Diaz)
17. Lacho (Facundo Rivero e Juan Pablo Miranda)
/ Drume Negrita (Ernesto Grenet)
18. La Sitiera (Rafael Lopez Gonzalez)
/ Guantanamera (Joseito Fernandez e Juliam Orbam)

Instrumental Banda

Maria Bethânia e Omara Portuondo
19. Você (Heckel Tavares e Nair Mesquita)
20. Só Vendo que Beleza (Marambaia)
(Rubens Campos e Henricão)
21. Caipira de Fato (Adauto Santos)
/ El Amor de mi Bohío (Julio Brito)
22. Havana-me (Joyce e Paulo César Pinheiro)
- versão em espanhol de Alfredo Fresssia
23. Para Cantarle a mi Amor (Orlando de la Rosa)
24. Começaria Tudo Outra Vez (Gonzaguinha)
25. O Que Será? (À Flor da Terra) (Chico Buarque)

Bis

Maria Bethânia e Omara Portuondo
26. Palabras (Marta Valdés) / Palavras (Gonzaguinha)
27. Guantanamera (Joseito Fernandez e Juliam Orbam)

Silêncios profundos no CD de Bethânia e Omara

Resenha de CD
Título: Omara Portuondo e Maria Bethânia
Artista: Omara Portuondo e Maria Bethânia
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Sem o tom efusivo do show que gerou, o CD que promove a união inédita de Maria Bethânia com a artista cubana Omara Portuondo é pautado por silêncios profundos e urdido no mesmo tempo da delicadeza que moldou Brasileirinho. A reduzida interação entre as intérpretes - elas entrelaçam suas vozes em apenas quatro das 11 faixas - frustra a expectativa de quem esperava um álbum mais caliente. Omara Portuondo e Maria Bethânia é disco que soa tão íntimo e tão pessoal que, por vezes, poderá afastar do roteiro quem não entra na viagem proposta pelas cantoras. Mas é, sim, um belo registro.

Tal Vez é um dos destaques do repertório. Neste tema do baixista Juan Formell (um fundador da orquestra Los Van Van), Bethânia aparece imersa com Omara no suingue típico da música cubana - sustentado pelo piano de Roberto Fonseca e pelas percussões de Andrés Coayo. Na contramão, Omara entra na mata brasileira ao cantar em português - num pungente dueto com Bethânia - Você, mais conhecida como Penas do Tiê. Já na bucólica Só Vendo que Beleza (Marambaia), a dama cubana arrisca um canto rapeado e um balanço mais brasileiro em outro dueto com Bethânia. Por sua vez, a interação das vozes em Para Cantarle a mi Amor ressalta o lirismo da música romântica cubana. Um grande momento do CD!

No mais, vale ressaltar a fina costura do repertório por afinidades temáticas. Esquecido bolero brasileiro sobre desilusões amorosas (Arrependimento, jóia do baú de Dolores Duran lustrada pela voz de Bethânia) é seguido por similar exemplar cubano sobre o tema (Mil Congojas - na voz de Omara). Da mesma maneira, Caipira de Fato - música em que Bethânia reafirma o apreço pelo cancioneiro sertanejo como recado para quem deprecia sua faceta ruralista - é emendada com El Amor de mi Bohío, espécie de canção caipira de Cuba, cantada por Omara - intérprete mais associada aos boleros urbanos. Enfim, trata-se de um disco delicado que tem seu grande valor ainda que, de certo modo, frustre expectativas até naturais.

Trio dissidente inaugura selo carioca Weekend

Formado a partir de uma dissidência ocorrida no grupo de reggae Natiruts no fim de 2006, o trio In Natura vai debutar no mercado fonográfico, ainda neste mês de março, com o DVD e CD ao vivo Um Artista Brasileiro, gravado em show no Teatro Nacional de Brasília (DF). A gravação do trio - integrado por Bruno Dourado, Izabella Rocha e Kiko Peres - inaugura um selo carioca, Weekend, vinculado à empresa CD Promo. O repertório apresenta 15 temas. Entre eles, há Lado Oposto, Tambor e Discípulo do Mestre Bimba.

7 de março de 2008

'Maré' leva Calcanhotto na direção de Lindsay

Parceria de Moreno Veloso com Adriana Calcanhotto, Maré foi a música eleita para dar título ao CD de inéditas que a compositora vai lançar já no começo de abril pela gravadora Sony BMG. O produtor é Arto Lindsay, que pilotou nada menos do que quatro dos oito CDs de Marisa Monte - aliás, parceira de Calcanhotto na bonita canção Pelo Tempo que Durar, lançada por Marisa em 2006 em Infinito Particular, um dos dois álbuns que editou há (exatos) dois anos.

Maré é o primeiro disco de inéditas de Calcanhotto em seis anos (o último, Cantada, foi editado em 2002). Desde 2006, a artista vem mostrando algumas músicas inéditas, como Seu Pensamento (parceria com o baixista Dé Palmeira), O Surfista (tema de autoria somente de Adriana) e Às Ordens do Amor, nova de Marina Lima. O CD inclui Teu Nome Mais Secreto - parceria com Waly Salomão.

E por falar em Calcanhotto, o recém-estreado primeiro filme de Miguel Falabella, Polaróides Urbanas, inclui na trilha sonora música de autoria da compositora, Vidas Inteiras, ouvida na voz da autora em ótimo registro feito com músicos como Dé Palmeira.

'Amado' é a nova 'música de trabalho' de Mata

Parceria de Vanessa da Mata com Marcelo Jeneci, a balada Amado foi escolhida pela gravadora Sony BMG para ser a segunda música de trabalho do terceiro CD da cantora, Sim, editado em maio de 2007. O primeiro hit do álbum foi Boa Sorte, o dueto de Mata com Ben Harper que vem tocando exaustivamente nas rádios há quase dez meses (o disco não vendeu na proporção da ótima execução).

Edu Lobo vai retornar ao disco via Biscoito Fino

Boa notícia para os fãs de Edu Lobo: a Biscoito Fino vai lançar em 2008 um disco do compositor de Ponteio e Pra Dizer Adeus. Descontada a boa trilha do musical Cambaio, composta por Lobo com Chico Buarque e editada em disco em 2001, o último trabalho de inéditas do artista foi Corrupião, que saiu em 1993 pela gravadora Velas (a Biscoito Fino dos anos 90).

RoRo canta suas 'musas' sem alterar repertório

Resenha de show
Título: Mulheres, Eternas Musas
Artista: Ângela RoRo
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 6 de março de 2008
Cotação: * * 1/2

"Tributo às mulheres.... Eu não faço outra coisa desde que nasci...", ironizou Ângela RoRo, gaiata, ao falar sobre o conceito do novo show que apresenta no Teatro Rival até sábado, 8 de março, Dia Internacional da Mulher. A direção do Rival encomendou a RoRo show em homenagem à data. Esperta, RoRo incluiu no roteiro uma e outra novidade em sua voz- entre elas, Risque (Ary Barroso), em tributo a Nora Ney, e uma versão a capella de Com Açúcar, com Afeto (Chico Buarque), referência a Nara Leão - e misturou com músicas que já vinha cantando e que ficaram conhecidas em vozes de mulheres como Nina Simone (Ne me Quitte Pas) e Maysa (Demais). Completando o repertório, pôs quatro músicas de seu último CD de inéditas, Compasso (2006). É o caso do bolero Arranca Essa Flor, tributo a Omara Portuondo.

Como de hábito, a artista cantou acompanhada pelo fiel Ricardo McCord, que brilha mais quando assume o piano - como em Dindi e como em Gota d'Água, sucessos de Sylvia Telles e Bibi Ferreira - do que quando tira triviais sons sintetizados de seu teclado Roland X7. Como de hábito também, há muito falatório entre um número e outro. RoRo intercala histórias das musas que homenageia com passagens vividas com um suposto namorado de origem romena. Seu público já está acostumado com os seus causos. E, justiça seja feita, a artista tem humor inteligente - mesmo quando expõe sua vída íntima como se o palco do Rival fosse a sua casa (talvez seja).

Nem sempre a associação de repertório escolhido com as cantoras homenageadas faz algum sentido. Elizeth Cardoso, por exemplo, é reverenciada com Eu Sei que Vou te Amar, música que Elizeth, de fato, gravou, mas que nunca é associada ao canto da Divina. Ainda que o conceito do show se revele frouxo, o canto de RoRo sempre garante bons momentos. Aos 58 anos, assumidos em cena, RoRo conserva boa forma vocal. Embora por vezes até cante sem o rigor estilístico que seria adequado a uma intérprete de força incomum. Afinal, mesmo que não fosse a compositora sensível que sempre foi, ela poderia ter feito carreira como (grande) cantora. Canto à parte, RoRo parece encarnar em cena uma personagem... E é essa persona que cativa sempre seu público. Mesmo quando canta pela enésima vez temas como Fogueira, Kamikaze e Joana Francesa. É que, na real, a maior musa de Ângela RoRo parece ser ela mesma.

6 de março de 2008

Pupillo, Dengue e Rica põem a mão na massa

Grupo formado por Pupillo, Dengue (baterista e baixista da Nação Zumbi, respectivamente) e por Rica Amabis (Instituto), o 3 na Massa lança ainda neste mês de março, pela Deckdisc, o seu primeiro álbum. Intitulado Na Confraria das Sedutoras, o disco apresentará 13 composições do trio, criadas com parceiros como Rodrigo Amarante, Lirinha, Junio Barreto e Jorge Du Peixe. A música de trabalho é Lágrimas Pretas, que tem participação de Pitty nos vocais. Céu, Nina Becker e Thalma de Freitas também cantam no CD, cujo time traz ainda as atrizes Alice Braga, Leandra Leal e Simone Spoladore.

Revelação do México, Camila aporta no Brasil

Fundado há dois anos, o trio mexicano Camila vai ter seu primeiro CD, Todo Cambió, editado em breve no Brasil pela Sony BMG. No mercado de música latina, o trio tem sido apontado como grande revelação do pop mexicano e já emplacou hits como a faixa-título de seu disco, Abrazame e Coleccionista de Canciones, música propagada na abertura de uma novela, Las Dos Caras de Ana, exibida pela rede Televisa. O produtor Mario Domm forma o Camila com o guitarrista Pablo Hurtado e o vocalista Samo. Todo Cambió vendeu cerca de 670 mil cópias - marca bem expressiva para CD mexicano - e vem liderando várias paradas de pop latino.

Tempo nublado arrisca o luau de Jack Johnson

Resenha de CD
Título: Sleep Through the Static
Artista: Jack Johnson
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 1/2

O quarto álbum do astro Jack Johnson não é tão ensolarado como os três anteriores. Além de outros dissabores, a morte de um primo - Danny Riley, a quem o disco é dedicado - fez nublar o pop luau do compositor surfista. Logo na faixa de abertura, All at Once, Johnson deixa claro que o tempo fechou. Apesar das doses de melancolia, altas demais para um artista habituado a compor as trilhas das rodinhas de beira de praia, Sleep Through the Static não altera substancialmente a rotação do som do cantor havaiano. Até mesmo o uso eventual de guitarra elétrica não dilui a atmosfera acústica do disco. É o violão que dá o tom zen de canções como Angel e, no caso de Johnson, menos é mais - como salienta a minimalista They Do, They Don't, o destaque deste repertório de tom linear. Inteiramente gravado em equipamento analógico movido a energia solar, o álbum assinala a retomada da parceria de Johnson com JP Plunier, o produtor de seu primeiro disco, Brushfire Fairytales (2001). Só que algo já parece fora da ordem. Desilusões não combinam com luaus. Ainda que o flerte ligeiro do surfista com o reggae, em Hope, indique que o tempo poderá abrir como antes nos próximos álbuns do artista.

'Meninas' planejam DVD para segundo semestre

Show que proporcionou o inédito encontro nos palcos de Jussara Silveira, Rita Ribeiro e Teresa Cristina, Três Meninas do Brasil - que estreou no Rio de Janeiro em dezembro de 2007, em duas apresentações no Teatro Nelson Rodrigues (RJ), e teve somente uma terceira sessão em Brasília (DF) - deverá retornar ao cartaz. As meninas já articulam a volta do show no segundo semestre de 2008 para possibilitar a gravação ao vivo de oportunos CD e DVD, que serão viabilizados pela Biscoito Fino através do selo Quitanda.

5 de março de 2008

Baleiro inclui 13 músicas no sétimo disco solo

Sem lançar disco de estúdio desde 2005, ano em que apresentou o denso Baladas do Asfalto & Outros Blues, Zeca Baleiro está preparando seu sétimo álbum solo. Tema de André Abujamra, já gravado pelo grupo Karnak e por Chico César, Alma Não Tem Cor é uma das 13 músicas selecionadas pelo artista para o CD - ainda sem título. O lançamento vai ser feito pela gravadora MZA Music ainda neste semestre. A intenção de Baleiro é fazer um disco com mais humor e mais leveza do que seu último trabalho de inéditas.

Biscoito Fino já tem vícios de grande gravadora

Surgida em 2000, a gravadora Biscoito Fino já adquiriu um merecido prestígio no mercado fonográfico por se dedicar quase que exclusivamente a uma MPB mais tradicionalista que já vinha sendo descartada pelas majors, as gravadoras multinacionais. Porém, é fato que, por conta de seu justo crescimento, a companhia carioca também já começa a adquirir vícios típicos de grandes gravadoras. Exemplo é a ficha técnica da coletânea Viva Cartola! 100 Anos. Não há, no encarte do disco, qualquer menção à origem das 12 gravações selecionadas para a compilação. A menos que o comprador entre no bom site da gravadora, ele não saberá que Basta de Clamares Inocência, na voz de Mart'nália, é o único registro inédito do CD. Que a gravação de Não Quero Mais Amar a Ninguém foi feita por Olivia Byington em 1997 para seu CD A Dama do Encantado. Ou que o dueto de Francis Hime com Zélia Duncan na música Sem Saudades foi gravado em 2005 para o CD Arquitetura da Flor. Para citar somente três exemplos. Para honrar seu consumidor, a Biscoito Fino deveria ficar atenta a estes detalhes, já que começa a adquirir o hábito de editar coletâneas montadas com seu precioso acervo. Até porque as próprias gravadoras multinacionais estão evoluindo nesta área e - para tentar seduzir o arisco consumidor - já lançam compilações com fichas técnicas mais criteriosas. Viva Cartola! reproduz as letras das músicas, mas peca por omitir os anos das gravações. Falha que desvaloriza a (oportuna) coletânea.

Inédita de Norah na trilha de 'Blueberry Nights'

Primeiro filme em inglês feito para os EUA pelo cult diretor Wong Kar Wai, de Hong Kong, My Blueberry Nights tem sua trilha sonora editada no Brasil pela EMI Music - antes mesmo de seu lançamento no mercado norte-americano, já agendado para 1º de abril. A isca para fisgar consumidores é (ótima) gravação inédita de Norah Jones, The Story, feita em clima jazzístico (Norah também participa do filme como atriz). Há também três registros inéditos do guitarrista e produtor Ry Cooder (Ely Nevada, Long Ride e Bus Ride) entre fonogramas mais antigos de Otis Redding e Cassandra Wilson, entre outros nomes. O CD com a trilha reúne 14 gravações.

Metheny viaja pelo jazz com McBride e Sanchez

Sem descartar a sua habitual viagem pelo universo da fusion, Pat Metheny prioriza o jazz - e não o rock - em seu novo álbum, Day Trip, lançado em janeiro nos Estados Unidos e recém-editado no Brasil pela Warner Music, que distribui atualmente os produtos do selo Nonesuch. O guitarrista se junta ao baixista Christian McBride e ao baterista Antonio Sanchez neste disco elétrico que apresenta dez músicas de autoria exclusiva de Metheny, todas em gravações inéditas. Entre oito novos temas, o guitarrista incluiu releituras de When We Were Free - música lançada no álbum Quartet, lançado em 1966 pelo Pat Metheny Group - e The Red One, originalmente gravada por Pat em um CD de 1994. Eis as dez faixas de Day Trip:

1. Son of Thirteen
2. At Last You're Here
3. Let's Move
4. Snova
5. Calvin's Keys
6. Is This America? (Katrina 2005)
7. When We Were Free
8. Dreaming Trees
9. The Red One
10. Day Trip

4 de março de 2008

Gil lança 'Sol de Oslo' em Portugal após 10 anos

Enquanto finaliza seu álbum de inéditas, o Cordel Banda Larga, Gilberto Gil edita esta semana, em Portugal, um de seus trabalhos mais criativos, O Sol de Oslo, gravado em 1998 na Noruega. Dez anos depois de seu lançamento original, pelo selo Pau Brasil, este álbum chega ao mercado lusitano numa parceria da Som Livre com a Biscoito Fino, que reeditou o disco no Brasil em 2005. É esta reedição - que traz duas faixas adicionais, Músico Simples (de autoria de Gil - à direita numa foto de Toni, da Coper Photo) e Watapá (tema do percussionista indiano Trilock Gurtu) - que aporta em Portugal. A direção musical é de Rodolfo Stroeter.

Uma senhora cantora reina entre cordas geniais

Resenha de CD
Título: Entre Cordas
Artista: Zezé Gonzaga
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Perfeccionista, Zezé Gonzaga não ficou lá muito satisfeita com sua performance vocal nas duas faixas, Tribeira e A Voz e o Tempo, especialmente gravadas em agosto e setembro de 2007 para esta linda coletânea produzida por Hermínio Bello de Carvalho. De fato, na comparação com registros feitos em tempos mais antigos, a voz de Zezé já demonstra nestas duas gravações o cansaço natural imposto por seus 81 anos. Mesmo assim, Entre Cordas faz jus à senhora cantora que sempre foi/é Zezé Gonzaga. Para ter uma prova de sua longeva maestria vocal, basta ouvir as quatro impagáveis gravações (Senhorinha, Pra Dizer Adeus, Esses Moços e Serestas 5) captadas ao vivo em shows feitos por Zezé no Paço Imperial (RJ) - em fevereiro de 2002, quando já contava 75 anos - na companhia do Quarteto Maogani. São registros sublimes que mostram a justa razão de Zezé ter sido a cantora preferida do maestro Radamés Gnattali nos tempos da Rádio Nacional. Como adianta o título do CD, Entre Cordas reúne gravações feitas pela intérprete com instrumentos de cordas. Em sua maioria, violões, tocados por gênios como Baden Powell (1937 - 2000) - em Folhas Secas, em gravação de 1991 - e Raphael Rabello (1962 - 1995), no caso do medley que une Duas Contas, Imagens e Linda Flor e que foi extraído de uma edição de 1992 do programa Mudando de Conversa, exibido pela TVE. E, como a maioria dos 13 registros permanecia inédita em disco, Entre Cordas é mais do que uma coletânea. É atestado atemporal da sofisticada arte vocal de Zezé Gonzaga, esta senhora cantora de respiração e dicção exemplares.

Som brasileiro inspira Carly em CD de inéditas

Sem recorrer aos clichês do samba e da bossa Nova, Carly Simon vai apresentar em 29 de abril um álbum inspirado pelos ritmos da música brasileira. Primeiro disco de inéditas da compositora em oito anos, This Kind of Love vai marcar a estréia de Carly (em foto de seu site oficial) no selo Hear Music, vinculado a uma rede norte-americana de cafeterias, a Starbucks. O percussionista Cyro Baptista está entre os músicos recrutados para o disco, produzido por Jimmy Webb e Frank Filipetti, antigos colaboradores de Carly. Eis as 13 músicas do repertório (autoral) de This Kind of Love:

1. This Kind of Love
2. Hold out your Heart
3. People Say a Lot
4. Island
5. How Could You Ever Forget?
6. Hola Soleil
7. In my Dreams
8. When We're Together
9. So Many People
10. They Just Want You to Be There
11. Last Samba
12. Sangre Dolce
13. To Soon to Say Goodbye

Belo prepara DVD que reúne Negra e Racionais

Belo dá os retoques finais no CD e DVD que gravou ao vivo em show feito no Citibank Hall, no Rio de Janeiro (RJ), em 21 de fevereiro. No eclético time de convidados, há Negra Li - com quem o cantor fez um dueto em Não Dá Mais - e Alcione. Com a Marrom, Belo entoou a música inédita Magoada, repetindo o dueto feito há algum tempo em Não Tem Saída, faixa de um disco coletivo. Outro convidado da gravação ao vivo de Belo é o ator Eri Johnson, que interpreta a personagem Zé da Feira na novela Duas Caras. CD e DVD vão sair neste semestre, com produção de Prateado e a presença do grupo Racionais MC's.

3 de março de 2008

Yuka arquiteta o primeiro disco solo com Apollo

Marcelo Yuka (foto à esquerda) andou se reunindo, em São Paulo (SP), com o DJ e produtor Apollo 9. Na pauta, idéias para um possível primeiro disco solo de Yuka. O único CD feito com o F.Ur.T.O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados) - a tal banda formada por Yuka logo após a sua (tempestuosa) saída do grupo carioca O Rappa - não obteve a projeção esperada.

Batuque grava DVD com Ana, Leila e Melodia

Um dos mais talentosos grupos de samba da nova geração carioca, Batuque na Cozinha gravará seu primeiro DVD em show agendado para quarta-feira, 5 de março, na casa Lapa 40 Graus. A gravação vai contar com intervenções de Ana Costa, Leila Pinheiro e Luiz Melodia. No repertório, sambas de Martinho da Vila e Noel Rosa (1910 - 1937) e várias músicas do primeiro CD do grupo, Sorria para o Samba, editado em 2007 com o aval de Beth Carvalho.

Coletânea dupla celebra os 80 anos de Miltinho

Com pouco mais de um mês de atraso, a gravadora EMI Music está pondo nas lojas festiva coletânea dupla, Miltinho - Samba e Balanço, criada para celebrar os 80 anos de Milton Santos de Almeida, já completados em 31 de janeiro de 2008. A compilação reúne 28 fonogramas extraídos dos 16 LPs e numerosos compactos gravados pelo cantor carioca na Odeon, entre 1966 e 1976. O período nem é o de maior sucesso de Miltinho, mas o repertório irretocável é prato cheio para que o ágil intérprete deite e role nas melodias com sua personalíssima divisão rítmica. Eis a seleção feita pelo jornalista Rodrigo Faour:

CD 1
1. Samba no Leblon (1971)
2. Helena, Helena (1968)
3. Samba Maroto (1966)
4. Descansa (1966)
5. Alô Alô / Pelo Telefone - com Elza Soares (1968)
6. Lampião Vadio (1967)
7. O Lindo de Você (1967)
8. Quero-te Assim (1971)
9. Nossos Momentos / Tudo É Magnífico (1969)
10. Moeda Quebrada / Leilão (1969)
11. Mas que Doidice / Até Eu - com Doris Monteiro (1972)
12. Samba da Rosa (1968)
13. Voltei (1968)
14. Louca (1974)

CD 2
1. Made in Mangueira (1976)
2. Telefone no Morro (1967)
3. Na Base do Pinguim / Velho Gagá (1969)
4. Recordar É Viver / Gilda / Tome Continha de Você - com Doris Monteiro (1971)
5. Izaura (1968)
6. Garota ZN (1966)
7. Cem Vezes (1973)
8. Ana Maria / Garota Moderna (1969)
9. Você Já Foi a Bahia? / Um Vestido de Bolero (1968)
10. Amuleto (1966)
11. Amor de Brincadeira (1976)
12. Gamação por Mercedes (1971)
13. Botões de Laranjeira (1968)
14. Laranja Madura (1967)

Primadonna chega ao disco com rock comum

Resenha de CD
Título: Tudo Vai Valer a Pena
Artista: Primadonna
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * 1/2

Se alguém escutar a baladona Tudo É Passageiro numa rádio de perfil pop, talvez pense que está ouvindo o novo sucesso do Barão Vermelho. Mas não estará. Trata-se da primeira música de trabalho do CD da banda carioca Primadonna, que, após nove anos de militância no cenário indie, debuta em disco pelo selo Som Livre Apresenta. Neste trabalho de estréia, produzido por Kadu Menezes (baterista contratado do Kid Abelha), o grupo patina nos clichês do rock em onze composições inéditas de lavra própria. O material é de bom nível. O problema reside na ausência de um traço próprio que identifique esse bom repertório (e a própria banda) na vasta e multifacetada cena pop. A julgar por rocks como A Não Ser e Ferro e Fogo, a influência da Primadonna talvez seja mesmo o colega carioca Barão Vermelho. Contudo, a pegada do pop rock do grupo é trivial. Mesmo soando comum, justiça seja feita, a música Diga - já bem conhecida pelo público que freqüenta os shows da banda - tem todo o jeito de hit. Basta apresentar a faixa fora do circuito indie. E é para isso, afinal, que serve o aval da global Som Livre através de seu (jovem) selo.

2 de março de 2008

Rio celebra a bossa em show que destaca Rita

Resenha de show
Título: Bossa Nova 50 Anos
Artista: BossaCucaNova, Carlos Lyra, Emílio Santiago,
Fernanda Takai, João Donato, Joyce, Leila Pinheiro,
Leny Andrade, Marcos Valle, Maria Rita, Oscar Castro
Neves, Roberto Menescal, Wanda Sá e Zimbo Trio
Local: Praia de Ipanema (RJ)
Data: 1º de março de 2008
Cotação: * * * *

E coube a Maria Rita - a artista que menos tinha a ver com a Bossa Nova entre os nomes recrutados para o evento que celebrou os 50 anos do movimento musical - protagonizar um dos números mais especiais do show Bossa Nova 50 Anos. Ao reviver Corcovado de forma intimista, ao lado do violão de Oscar Castro Neves, a filha de Elis Regina (1945 - 1982) comprovou seu raro e versátil talento vocal, reafirmado mais uma vez quando, na seqüência, apresentou o Samba do Avião com balanço carioca, na companhia da banda.

Berço da velha bossa, o Rio celebrou o suingue cinqüentão sob as queixas de alguns artistas (em especial, Pery Ribeiro e o grupo Os Cariocas) que não engoliram suas ausências na escalação em favor de nomes mais jovens, como Fernanda Takai, convidada por conta do excelente álbum solo em que recria o repertório de Nara Leão (1942 - 1989), musa da bossa. Aliás, Takai defendeu Insensatez e O Barquinho na companhia de Roberto Menescal e, embora tenha marcado boa presença, deixou claro que brilha mais quando está envolvida pela criativa ambiência sonora do grupo Pato Fu, mote de seu álbum solo. Takai cantou trecho do Barquinho em japonês.

Acima de rivalidades, a bossa nova foi celebrada em seu berço por artistas de diferentes gerações e estilos. Apresentado por Miéle e Thalma de Freitas, o show teve roteiro estruturado em seis blocos temáticos. Coube a Leila Pinheiro abrir o primeiro com ensolarada versão de Manhã de Carnaval. Logo na seqüência, Emílio Santiago entoou medley com Bim Bom e Oba-lá-lá, emendando com Chega de Saudade em arranjo de Roberto Menescal. Foi justa referência ao lançamento do histórico disco de 78rpm de João Gilberto com Chega de Saudade. Editado em agosto de 1958, o disco oficializou o nascimento da bossa que vinha sendo formatada há vários anos.

A rigor, se a velha bossa é a tal batida diferente de João Gilberto, ela não esteve presente no show. No entanto, no amplo universo estilístico hoje cultuado como bossa-novista, houve espaços para a maestria instrumental do Zimbo Trio, que tocou a Gabriela de Tom Jobim (1927 - 1994), antes de receber a sempre exuberante Leny Andrade para reviver músicas como Tempo Feliz, Sabe Você e Tem Dó. A segunda é bela parceria de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) com Carlos Lyra, que, em seguida, entrou no palco e lançou mão das românticas Minha Namorada e Primavera, convocando a platéia para acompanhá-lo nos dois clássicos de seu repertório. Na seqüência, Wanda Sá foi chamada ao palco e apresentou o hit Desafinado (com a pouco conhecida introdução desta parceria de Tom Jobim com Newton Mendonça) e Rio. Deu conta do recado...

No sexto e último bloco, João Donato mostrou seu suingue todo próprio em versão instrumental de Café com Pão e se arriscou a cantar Bananeira. Com Joyce, a próxima convidada, João Donato mostrou em primeira mão parceria inédita da dupla, No Fundo do Mar, que não empolgou, apesar dos esforços dos dois autores para contagiar o público. Só que Joyce, que está cantando muito bem, se redimiu com sedutora versão do Samba da Benção, com direito a citações de O Que É que a Baiana Tem? e Aquarela do Brasil. No fim, foi a vez da bossa eletrônica. Esperto, Marcos Valle convocou o DJ Nado Leal para turbinada leitura do Samba de Verão e o trio BossaCucaNova reprocessou, com beats eletrônicos e a antenada voz de Cris Delanno, Samba da Minha Terra e Garota de Ipanema, sinalizando que a bossa sempre se renova e vai ficar em pauta nos próximos 50 anos. Foi show elegante como a própria bossa nova.

Universal encaixota álbuns e coletâneas de Tom

Tratada com (indesculpável) descaso pela indústria fonográfica brasileira, a discografia de Tom Jobim (acima em foto de Rosane Bekierman) receberá, enfim, alguma atenção. A Universal Music já produz caixa que vai englobar reedições remasterizadas de cinco álbuns do Maestro Soberano - entre eles, o sublime Matita Perê, de 1973 - e três coletâneas. Tom Masculino reúne gravações feitas por cantores. Tom Feminino reapresenta a obra de Tom em vozes de mulheres. Por fim, Tom para Dois agrega gravações em duetos.

'Camaleão' reedita 16 discos de Ney Matogrosso

Camaleão é o bom título da caixa que a Universal Music vai lançar este ano com reedições de discos raros de Ney Matogrosso. Arquitetada por Rodrigo Faour, a coleção vai repor em catálogo 16 títulos da rica discografia do cantor. Incluirá álbuns de outras gravadoras, como Quem Não Vive Tem Medo da Morte (Sony BMG, 1988). Todos os discos de Ney pertencentes ao arquivo da Universal já haviam sido reeditados em CD, em 1993, na medonha Série Colecionador, mas grande parte estava fora de catálogo há mais de dez anos. Entre eles, ...Pois É (1983), Destino de Aventureiro (1984) e Bugre (1986). Camaleão deverá chegar nas lojas no segundo semestre.

'Labiata' abre a parceria de Lenine com Natura

Labiata é o provável título do disco de inéditas que Lenine (em foto de Guto Costa) começa a gravar em abril. Trata-se do nome de uma espécie de orquídea, tipo de flor pelo qual o compositor é apaixonado. A gravação do álbum marcará o início da parceria do artista com a Natura. Lenine foi o grande contemplado do projeto Natura Musical em 2008 e vai gravar o disco sob o patrocínio da empresa, que bancou Universo Particular, turnê de Marisa Monte.