9 de novembro de 2008

Raiz sertaneja faz brotar forte disco de Roberta

Resenha de CD
Título: Senhora Raiz
Artista: Roberta Miranda
Gravadora: Sky Blue
Music
Cotação: * * * 1/2

Projetada na década de 80, com um jeito todo próprio de compor e de cantar, Roberta Miranda logo se transformou numa das maiores vendedoras do mercado sertanejo. Entre altos e baixos, a autora de A Majestade, o Sabiá gravou nove álbuns pela extinta gravadora Continental até se transferir para a companhia hoje denominada Universal Music. Começou ali sua trajetória errante na indústria fonográfica. No CD Vida (1997), a gravadora tentou fazer de Roberta uma versão tupiniquim da cantora country norte-americana Shania Twain, então em grande evidência. No posterior Paixão (1998), foi forjada imagem de sensualidade - com direito a uma capa à moda dos álbuns de Simone nos anos 80. Resultado: Roberta foi perdendo sua identidade no mercado, passou a vender menos discos, acabou dispensada pela gravadora e nunca mais voltou a ocupar a posição de destaque que tinha no universo sertanejo. Trabalhos cada vez mais equivocados, como um de fados (!), contribuíram para que a artista atualmente tivesse seu espaço ainda mais reduzido e ingressasse no vasto mercado independente, por onde lançou neste ano de 2008 - pela Sky Blue Music, gravadora paulista de pequena expressão na cena indie - um belo álbum que sinaliza salutar volta às origens. Produzido por Luiz Carlos Maluly, Senhora Raiz acerta na combinação de instrumentos caipiras com um sutil quarteto de cordas. A textura dos arranjos é mais delicada e passa longe da pasteurização que empanou o brilho de álbuns anteriores da artista. Como Roberta está cantando de forma ligeiramente menos empostada, o resultado são registros bacanas de clássicos ruralistas como Chalana (a obra-prima de Arlindo Pinto e Mário Zan propagada na voz de Almir Sater na trilha da novela Pantanal), Tristeza do Jeca e Meu Primeiro Amor (faixa incluída na trilha sertaneja da novela A Favorita). Assinada por Taguay, a seleção de repertório é feliz porque não se resume aos clássicos sertanejos mais batidos. Dentro de seu estilo romântico, Roberta revisita músicas esquecidas como Telefone Mudo e Você É Tudo que Eu Pedi a Deus (Magia). O melhor achado nessa seara mais sentimental é Nova Flor (O Homem Não Deve Chorar). Nesta linda parceria de Mário Zan e Palmeira, a artista canta as tradicionais dores de amores escorada numa bela melodia - artigo bem raro no cancioneiro sertanejo atual. Entre regravação de A Majestade, o Sabiá (em arranjo econômico que realça o cello tocado por Patrícia Ribeiro) e dispensável afago no ego dos caminhoneiros (Viajante Solitário), Senhora Raiz faz brotar um forte momento de Roberta Miranda. Coroado pela participação luxuosa de Maria Bethânia em Guacira, canção de Hekel Tavares e Joracy Camargo, lançada em 1933 e regravada em tom íntimo e cúmplice pelas amigas cantoras, de almas sertanejas.

16 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Projetada na década de 80, com um jeito todo próprio de compor e de cantar, Roberta Miranda logo se transformou numa das maiores vendedoras do mercado sertanejo. Entre altos e baixos, a autora de A Majestade, o Sabiá gravou nove álbuns pela extinta gravadora Continental até se transferir para a companhia hoje denominada Universal Music. Começou ali sua trajetória errante na indústria fonográfica. No CD Vida (1997), a gravadora tentou fazer de Roberta uma versão tupiniquim da cantora country norte-americana Shania Twain, então em grande evidência. No posterior Paixão (1998), foi forjada imagem de sensualidade - com direito a uma capa à moda dos álbuns de Simone nos anos 80. Resultado: Roberta foi perdendo sua identidade no mercado, passou a vender menos discos, acabou dispensada pela gravadora e nunca mais voltou a ocupar a posição de destaque que tinha no universo sertanejo. Trabalhos cada vez mais equivocados, como um de fados (!), contribuíram para que a artista atualmente tivesse seu espaço ainda mais reduzido e ingressasse no vasto mercado independente, por onde lançou neste ano de 2008 - pela Sky Blue Music, gravadora paulista de pequena expressão na cena indie - um belo álbum que sinaliza salutar volta às origens. Produzido por Luiz Carlos Maluly, Senhora Raiz acerta na combinação de instrumentos caipiras com um sutil quarteto de cordas. A textura dos arranjos é mais delicada e passa longe da pasteurização que empanou o brilho de álbuns anteriores da artista. Como Roberta está cantando de forma ligeiramente menos empostada, o resultado são registros bacanas de clássicos ruralistas como Chalana (a obra-prima de Arlindo Pinto e Mário Zan propagada na voz de Almir Sater na trilha da novela Pantanal), Tristeza do Jeca e Meu Primeiro Amor (faixa incluída na trilha sertaneja da novela A Favorita). Assinada por Taguay, a seleção de repertório é feliz porque não se resume aos clássicos sertanejos mais batidos. Dentro de seu estilo romântico, Roberta revisita músicas esquecidas como Telefone Mudo e Você É Tudo que Eu Pedi a Deus (Magia). O melhor achado nessa seara mais sentimental é Nova Flor (O Homem Não Deve Chorar). Nesta linda parceria de Mário Zan e Palmeira, a artista canta as tradicionais dores de amores escorada numa bela melodia - artigo bem raro no cancioneiro sertanejo atual. Entre regravação de A Majestade, o Sabiá (em arranjo econômico que realça o cello tocado por Patrícia Ribeiro) e dispensável afago no ego dos caminhoneiros (Viajante Solitário), Senhora Raiz faz brotar um forte momento de Roberta Miranda. Coroado pela participação luxuosa de Maria Bethânia em Guacira, canção de Hekel Tavares e Joracy Camargo, lançada em 1933 e regravada em tom íntimo e cúmplice pelas amigas cantoras, de almas sertanejas.

9 de novembro de 2008 às 12:48  
Anonymous Anônimo said...

Ô, demorou mais saiu a resenha deste maravilhoso CD! Realmente é um resgate belíssimo às origens da música sertaneja.

Roberta Miranda está de parabéns pelo trabalho. E a parceria dela com Bethânia em "Guacira" vale todo o trabalho.

Grammy para ela!!!

9 de novembro de 2008 às 19:51  
Anonymous Anônimo said...

Aguardava essa resenha!

Mauro, Roberta teve sim alguns trabalhos equivocados mas o seu cd de fados - apesar de ser fraco - é coerente com a vida dela por ser filha de mãe portuguesa.

A versão de " Chalana " é bacana, " Telefone Mudo " fica aquém da versão épica do Trio Parada Dura e a regravação de " A Majestade, o Sabiá " já soa desnecessária ... E Bethânia, como sempre, espanando preconceitos.


Sucesso a Roberta Miranda
Um abraço a todos!

9 de novembro de 2008 às 20:18  
Anonymous Anônimo said...

Eu adoro o cd de fados da Roberta Miranda. Ela fêz o lançamento desse trabalho na Casa de Portugal de São Paulo e estava emocionadíssima porque ela disse que eram música que ela ouvia a mãe cantar, aqueles fados tradicionais do tempo da Amália Rodrigues.
Sucesso para a nossa " Sabiá"!!
Rogê

9 de novembro de 2008 às 22:58  
Blogger O blog said...

Ela é uma das melhores cantoras do sertanejo. Se dependesse dela, ela só cantava música caipira regional, como moda de viola e afins. Mas, infelismente as gravadoras a obrigava a gravar 1 disco por ano e de punho bastante comercial. Que venha mais discos nessa linha, que nós agradecemos.

10 de novembro de 2008 às 01:33  
Anonymous Anônimo said...

Não entendo esses elogios pra essa cantora. A voz, o repertório, os arranjos...tudo é simplesmente MEDONHO!!! Mas, como normalmente , minhas opiniões fazem parte de uma minoria, nem me espanto mais. Votei no Gabeira, deve ser isso...

10 de novembro de 2008 às 09:29  
Anonymous Anônimo said...

A Roberta como cantora é OK. Nem é do grupo das ótimas, mas também não canta mal. Mas, sejamos sinceros, fora a obra prima "A majestade o sabiá" (onde ela gastou toda a inspiração que poderia ter) Roberta sempre foi uma cantora e compositora essencialmente BREGA.

10 de novembro de 2008 às 11:05  
Anonymous Anônimo said...

Como assim " com um jeito todo próprio de compor e de cantar ... " ?

10 de novembro de 2008 às 14:14  
Anonymous Anônimo said...

A Rainha que me perdoe mas este eu vou pular. Roberta Miranda não dá. Mesmo em dueto com a voz deslumbrante da Bethânia.

10 de novembro de 2008 às 15:43  
Anonymous Anônimo said...

Foi pra esse album que a Familia Jobim vetou a regavação de " Correnteza " de Jobim e Bonfá ?

11 de novembro de 2008 às 12:02  
Anonymous Anônimo said...

Errado Mauro,

Roberta foi projetada na década de 80 e logo se transformou numa das maiores vendedoras do mercado (não só) sertanejo pois em 23 anos de carreira teve 2 albuns com mais de 1 milhão de cópias.

Foi a terceira a atingir essa marca ( Elis Regina e Maria Betânia foram as primeiras )em 1985 por conta da balada " São tantas coisas " .

11 de novembro de 2008 às 12:08  
Anonymous Anônimo said...

Elis Regina já vendeu 1 milhão de cópias? Quando isso?

11 de novembro de 2008 às 17:25  
Anonymous Anônimo said...

Pois bem, " Elis & Jair - Dois na Bossa Nº 1 " de 65 foi o primeiro LP brasileiro a vender 1 milhão de cópias. A revista 'Rolling Stones ' do mês passado confirmou isso inclusive !

Roberta foi sim a terceira a atingir essa marca. Clara Nunes beslicou várias vezes os sete dígitos mas nunca atingiu. Só depois vieram Simone, Marisa Monte, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Sandy ...


Viva Roberta!

11 de novembro de 2008 às 19:03  
Anonymous Anônimo said...

Diogo, apesar dos arranjos também não gostei da versão de " Telefone Mudo " com a Roberta. Por onde o Trio Parada Dura ?

11 de novembro de 2008 às 19:16  
Anonymous Anônimo said...

Os vi recetemente na TV com uma nova formação. Ganhei de um amigo que coleciona classicos sertanejos uma fita K7(!) com os hits deles ...

15 de novembro de 2008 às 20:28  
Anonymous Anônimo said...

Parabéns para Roberta.
Gente, se o projeto Tudo isso é Fado foi um fracasso, então não entendo o que seja sucesso. Este disco é tão procurado e está extinto por aí - muitas pessoas ainda o procuram. Roberta canta Fados deliciosamente bem.
Quanto ao Senhora Raiz, nossa, delícia mesmo. Roberta está mais segura, mais intensa e mais emotiva.
O repertório é lindo.
Que pena - será que foi vetado mesmo "Correnteza" ? nossa, na voz dela seria muito linda!
Roberta é eclética, e na minha opinião deveria ousar e cantar mais sambas.
Adorei ouvir todas do Senhora Raiz,
e para quem falou sobre a faixa " A Majestade, o Sabiá " ser desnecessária no disco quero falar: - que é isso meu,, essa música ser desnecessária num disco de clássico de raiz? ahh, fala sério! só se Roberta fosse doida!
ROBERTA, queremos sempre mais!

3 de dezembro de 2008 às 22:03  

Postar um comentário

<< Home