9 de novembro de 2008

Paula reedita no palco bossa de seu melhor CD

Resenha de Show
Título: Telecoteco
Artista: Paula Morenlenbaum (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 8 de novembro de 2008 - Sessão das 20h
Cotação: * * * *

Ajudada por banda antenada, que destacou o baterista Rick de la Torre e o arranjador Marcos Cunha (revezando-se no baixo, no violão e nas espertíssimas programações eletrônicas), Paula Morelenbaum conseguiu reproduzir no pequeno palco da casa carioca Mistura Fina - onde fez três apresentações de seu show Telecoteco entre 7 e 8 de novembro de 2008 - toda a bossa do disco homônimo, o melhor da boa cantora. Paula aborda com modernidade um repertório composto antes do surgimento oficial da Bossa Nova, alinhando músicas (sambas, em sua maioria) que já traziam um balanço todo particular que, em maior ou menor grau, influenciaram os compositores que estariam à frente da revolução estética implantada em 1958. Exemplo perfeito é Um Cantinho e Você, bela canção composta por José Maria de Abreu e Jair Amorim com atmosfera que antecipava dez anos antes, em 1948, todo o intimismo coloquial da bossa hoje já cinqüentenária.

Tendo à sua frente a praia de Ipanema, musa inspiradora de muitos clássicos compostos na linha "sal, céu, sol, Sul", Paula Morenlenbaum abriu o show com Teleco-Teco, samba de Murilo Caldas e Marino Pinto, de 1942, que deu título ao disco. Já neste primeiro número ficou claro que a cantora tem ótima presença de palco e sabe usar bem o corpo para realçar as intenções de suas interpretações. Seu gestual eloqüente contribui para que sambas como O Que Vier Eu Traço (Alvaiade e Zé Maria, 1945) e Sei Lá se Tá (Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva, 1940) ganhem vivacidade no palco. O Samba e o Tango (Amado Régis, 1937), por exemplo, é turbinado com trejeitos que evocam o estilo de Carmen Miranda (1909 - 1955), intérprete original do tema, que marca a entrada em cena do violoncelista Jaques Morelenbaum, que engrossa a banda em números como Você Não Sabe Amar (Dorival Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima, 1950) e Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961). Jaques é fera!

Mesmo quando aborda temas já muito explorados, caso de Ilusão à Toa (Johnny Alf, 1961), Paula Morelenbaum faz com que as músicas ganhem frescor por conta das programações e efeitos eletrônicos que respondem por boa parte do charme do show e do disco. Contudo, é justo ressaltar que, em cena, a cantora se revela sedutora, interpretando com rara desenvoltura composições que nunca soam banais em sua voz afinada. O show está tão redondo que músicas do álbum anterior da artista, Berimbau (2004), se integram bem ao roteiro calcado no CD atual. Talvez porque Berimbau já antecipasse a modernidade de Telecoteco - Um Sambinha Cheio de Bosssa... (2008). A ponto de o samba O Nosso Amor (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e o afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) se ajustarem com perfeição à bossa contemporânea de Telecoteco, o show, fechado com Luar e Batucada, o obscuro samba que Tom Jobim e Newton Mendonça fizeram para Marlene em 1957. Nem a tímida presença no bis de Dora Morelenbaum, convidada a subir ao palco para fazer duetos afetivos com a mãe em Ela É Carioca e em Telecoteco, ameniza a sensação de que Paula Morelenbaum fez um showzinho cheio de bossa. Muito bom!

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Ajudada por banda antenada, que destacou o baterista Rick de la Torre e o arranjador Marcos Cunha (revezando-se no baixo, no violão e nas espertíssimas programações eletrônicas), Paula Morelenbaum conseguiu reproduzir no pequeno palco da casa carioca Mistura Fina - onde fez três apresentações de seu show Telecoteco entre 7 e 8 de novembro de 2008 - toda a bossa do disco homônimo, o melhor da boa cantora. Paula aborda com modernidade um repertório composto antes do surgimento oficial da Bossa Nova, alinhando músicas (sambas, em sua maioria) que já traziam um balanço todo particular que, em maior ou menor grau, influenciaram os compositores que estariam à frente da revolução estética implantada em 1958. Exemplo perfeito é Um Cantinho e Você, bela canção composta por José Maria de Abreu e Jair Amorim com atmosfera que antecipava dez anos antes, em 1948, todo o intimismo coloquial da bossa hoje já cinqüentenária.

Tendo à sua frente a praia de Ipanema, musa inspiradora de muitos clássicos compostos na linha "sal, céu, sol, Sul", Paula Morenlenbaum abriu o show com Teleco-Teco, samba de Murilo Caldas e Marino Pinto, de 1942, que deu título ao disco. Já neste primeiro número ficou claro que a cantora tem ótima presença de palco e sabe usar bem o corpo para realçar as intenções de suas interpretações. Seu gestual eloqüente contribui para que sambas como O Que Vier Eu Traço (Alvaiade e Zé Maria, 1945) e Sei Lá se Tá (Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva, 1940) ganhem vivacidade no palco. O Samba e o Tango (Amado Régis, 1937), por exemplo, é turbinado com trejeitos que evocam o estilo de Carmen Miranda (1909 - 1955), intérprete original do tema, que marca a entrada em cena do violoncelista Jaques Morelenbaum, que engrossa a banda em números como Você Não Sabe Amar (Dorival Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima, 1950) e Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961). Jaques é fera!

Mesmo quando aborda temas já muito explorados, caso de Ilusão à Toa (Johnny Alf, 1961), Paula Morelenbaum faz com que as músicas ganhem frescor por conta das programações e efeitos eletrônicos que respondem por boa parte do charme do show e do disco. Contudo, é justo ressaltar que, em cena, a cantora se revela sedutora, interpretando com rara desenvoltura composições que nunca soam banais em sua voz afinada. O show está tão redondo que músicas do álbum anterior da artista, Berimbau (2004), se integram bem ao roteiro calcado no CD atual. Talvez porque Berimbau já antecipasse a modernidade de Telecoteco - Um Sambinha Cheio de Bosssa... (2008). A ponto de o samba O Nosso Amor (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e o afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) se ajustarem com perfeição à bossa contemporânea de Telecoteco, o show, fechado com Luar e Batucada, o obscuro samba que Tom Jobim e Newton Mendonça fizeram para Marlene em 1957. Nem a tímida presença no bis de Dora Morelenbaum, convidada a subir ao palco para fazer duetos afetivos com a mãe em Ela É Carioca e em Telecoteco, ameniza a sensação de que Paula Morelenbaum fez um showzinho cheio de bossa. Muito bom!

9 de novembro de 2008 às 14:21  
Anonymous Anônimo said...

Gosto bastante desse cd. Mas acho o melhor "Casa".

9 de novembro de 2008 às 17:20  
Anonymous Anônimo said...

Tive o prazer de assisti-la na estréia e realmente fiquei impressionado. Linda voz, arranjos modernos sem ser sacais e um repertório de primeira. Taí a prova que um belo show não precisa ser calcado em repertório inédito.
Paula é uma das melhores cantoras da atualidade.

9 de novembro de 2008 às 19:32  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, ela é uma ótima cantora! Concordo com tudo plenamente. Fui sem expectativa e adorei! Bjs, Luciane Silva.

10 de novembro de 2008 às 18:37  

Postar um comentário

<< Home