13 de junho de 2008

Trem mineiro trafega fluente pelo trilho carioca

Resenha de show
Título: Novas Bossas
Artista: Milton Nascimento e Jobim Trio
Local: Canecão (RJ)
Data: 12 de junho de 2008
Cotação: * * * *
Em cartaz em 13 e 14 de junho de 2008

Em cena, o trem mineiro trafega com brilho pelo trilho carioca. Em cartaz desde março de 2008, o show Novas Bossas está de volta ao Rio de Janeiro (RJ) em minitemporada no Canecão. Na estréia, na noite de quinta-feira, 12 de junho, o espetáculo em que Milton Nascimento reverencia a obra de Tom Jobim (1927 - 1994) na companhia do Jobim Trio - com adição do baixista Rodrigo Braga - se revela mais sedutor do que o álbum homônimo. Já na abertura - em que o pianista Daniel Jobim evoca a figura de seu avô ao cantar a valsa Luiza com timbre similar e ao portar chapéu de palha similar ao que era usado pelo Maestro Soberano - fica evidente que uma atmosfera de rara beleza vai envolver o público.
A entrada de Milton em cena, no meio de Só Tinha de Ser com Você, confirma a impressão do início. E o que se vê é show de fina musicalidade. Embora a voz de Milton já não tenha o mesmo alcance de antes, ela está muito bem posta no show a serviço de uma obra tão gigante quanto a sua própria. E é alternando músicas de Jobim com temas do próprio Milton - estes tocados com uma bossa realmente nova - que o roteiro (irretocável) vai sendo apresentado com arranjos que primam pela economia. Nada sobra no toque suave da bateria de Paulo Braga, do piano de Daniel Jobim e do violão de Paulo Jobim, filho de Tom. O bloco romântico que emenda Brigas Nunca Mais (cantada por Milton em dueto com Paulo), Caminhos Cruzados (número divino em que Milton faz vocalises) e Inútil Paisagem arrebata corações. E, na parte instrumental, o arrebatamento maior (já perceptível no CD Novas Bossas) vem com o arranjo que simula o barulho de um trem na introdução de Chega de Saudade, merecidamente bisada.
Nem um ou outro número menos inspirado, como o samba-canção Esperança Perdida, consegue tirar a coesão do espetáculo. Que alcança grandes momentos quando, se valendo dessa nova bossa do Jobim Trio, Milton revive seus clássicos. Desfilam no roteiro Nos Bailes da Vida (com pegada mais delicada), Coração de Estudante (com pulsação mais minimalista) e Fé Cega, Faca Amolada - números em que Milton, além de cantar, toca violão. Ao fim de Cais, Milton divide o piano com Daniel Jobim para simular a célebre passagem instrumental do tema. Já em Para Lennon & McCartney a bossa maior vem do baixo de Rodrigo Braga. Enfim, se o CD perde na comparação com outros títulos da discografia áurea de Milton Nascimento, o show Novas Bossas ratifica em cena o acerto da abordagem realmente nova da obra imortal de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Trem bão.

8 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bonita resenha, muito informativa. Parabéns, Mauro! Gostei do 'discografia áurea'. Os discos de Milton valem ouro mesmo.

13 de junho de 2008 às 12:15  
Anonymous Anônimo said...

O show foi divino e Milton está cantando muito bem. Que venha o DVD!!!

13 de junho de 2008 às 13:38  
Anonymous Anônimo said...

Eu tenho vinte anos e cresci ouvindo entre muitas outras coisas Milton, Clube da Esquina. E Milton sempre me emociona, sempre emocionou... no show,no vinil, no cd... Fui ao show ontem, realmente maravilhoso... e achei que você estava lá Mauro, mas não ia ser tão fácil te encontrar como foi no Rival,no show da Dorina.
Enfim, parabéns ao Milton e ao Jobim Trio pelo lindo trabalho e parabéns pelo seu trabalho também.

abraço a todos

13 de junho de 2008 às 14:09  
Anonymous Anônimo said...

Mesmo não tendo a mesma potência vocal,um Milton á vontade, emocional,caloroso e um tratamento musical mais jazzista,com vocais lindos,sem medo de improvisos e é por aí que Bituca se dá melhor.Com músicos e um repertório jobiniano bem semelhante ao de sua amiga-irmã Nana Caymmi,prova que se a mesma tivesse seguido esse caminho teria mais satisfatoriedade de resultados.Definitivamente o Toninho Horta tem razão quando afirma que os produtores detonam a criatividade dos artistas.

13 de junho de 2008 às 16:40  
Anonymous Anônimo said...

"Embora a voz de Milton já não tenha o mesmo alcance de antes,"

Acho a voz do Milton hoje, linda, muito mais sedutora que a da juventude, e me surpreendi bastante com ele cantando bossa, muita técnica, sem dúvida este CD é o máximo, torci o nariz quando soube que seria gravado, mas o resultado é fantástico. Acho que Milton, está muito melhor agora, do que em cronner.

13 de junho de 2008 às 18:53  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, nesta crítica você me surpreendeu, negativamente, ou o show apresentado no RJ teve "mais calor" que o apresentado em BH. Assisti ao espetáculo e achei de uma chatice, não empolgou, assim como o cd. Primeiro porque, sinceramente, regravar sucessos do Tom já desgastou os ouvidos, e segundo que, a voz do Milton estava muito ruim no dia, tanto que ele não cantou nem Coração de Estudante nem Maria, Maria, números anunciados para o repertório. Eu saí do show com vontade de não ter ido.

13 de junho de 2008 às 19:49  
Anonymous Anônimo said...

Mas êta sonzinho ruim ontem, hein?
E a culpa não deve ter sido do Canecão, já que nos shows de Rita Lee e Ney Matogrosso (principalmente), o som estrondou...

13 de junho de 2008 às 20:12  
Anonymous Anônimo said...

Na estréia ele cantou Coração de Estudante e Maria Maria e foi fabuloso!!!!

15 de junho de 2008 às 20:59  

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