2 de maio de 2008

Sutilezas valorizam encontro de Zélia e Simone

Resenha de CD
Título: Amigo É Casa - Ao Vivo
Artista: Simone & Zélia Duncan
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Poucas vezes o encontro de vozes de gerações e universos distintos resultou tão bacana como a união de Simone e Zélia Duncan - captada ao vivo, em outubro de 2007, no Auditório Ibirapuera (SP), durante a terceira e quarta apresentações do show criado em 2006 para o projeto Tom Acústico, da casa Tom Brasil (SP). Mesmo sem exibir as imagens dos números que costuram o roteiro afetuoso, o CD ora editado pela Biscoito Fino - o DVD vai chegar às lojas em meados de maio com a adição de Amigo É Casa, o choro de Capiba letrado por Hermínio Bello de Carvalho que batiza a gravação, mas não entrou no CD - já revela as sutilezas, malícias e afinidades que valorizam o belo encontro de duas intérpretes que traçaram trajetórias separadas até 2005.
Nos 18 números reunidos no CD, há solos e duetos que costuram dois mundos musicais aparentemente díspares sem que um se imponha sobre o outro. Se Zélia visita a casa de Simone nos anos 70, em números como Petúnia Resedá (jóia de um Gonzaguinha de espírito estradeiro e roqueiro) e Tô Voltando (o samba que foi criado no contexto da Anistia, mas que pode ter leitura ampla, geral e irrestrita), Simone entra no terreno mais contemporâneo da colega ao dividir os vocais do blues Mãos Atadas, lançado por Zélia no renovador álbum Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005).
A afetuosidade que permeia o registro pode ser sentida no CD já na versão quase a capella de Alguém Cantando (Caetano Veloso) que abre a gravação. Afetos à parte, a junção das vozes soa harmoniosa - como comprovam os duetos em Grávida (Marina Lima e Arnaldo Antunes), Idade do Céu (na mais bonita gravação da versão de Moska para a música de Jorge Drexler) e Meu Ego (um lado B de Roberto e Erasmo Carlos que tem a cara do Tremendão). Sozinha, Zélia experimenta tom mais melodioso para Cuide-se Bem - jóia da fase pop roqueira de Guilherme Arantes nos anos 70 - e revisita a obra de Itamar Assumpção (1949 - 2003) em música, Na Próxima Encarnação, que adquire novo sentido por abordar na letra a fábula da formiga e da cigarra, abrindo a brecha para a citação de trecho de Cigarra, música emblemática da Simone da década de 70. Evocada também na parte solo de Simone, quando ela revive, em suaves tons elegantes, músicas como Medo de Amar nº 2 e Diga Lá, Coração (erroneamente grafada no encarte e na contracapa como Diga Lá, meu Coração).
Na parte final, a malícia entra em cena sem perda da elegância. Seja no canto das Gatas Extraordinárias (cantada com referência a Cássia Eller, para quem Caetano Veloso fez a música), na delícia do coco Ralador (Roque Ferreira) ou na celebração da liberdade feita em Agito e Uso, o boogie de Ângela RoRo. Enfim, um grande encontro que resultou em grande disco que festeja a amizade e as sutis afinidades entre Simone e Zélia Duncan. A casa é das amigas!

29 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Esse disco foi uma grata surpresa! Simone de volta às boas escolhas e ao charme que até então só tinha mostrado nos discos que gravou nos 70 e início dos 80. Zélia cada vez melhor, sabe ser versátil sem perder sua marca. As vozes combinam lindamente, às vezes até se confundem, harmoniosamente. E o melhor: o repertório (em maior parte de clássicos da música brasileira) que, alinhavado em perfeito roteiro, é registrado com absoluto frescor!

2 de maio de 2008 às 11:40  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,

Gostaria de entender um pouco mais o seu critério de avaliação, se você puder me explicar.

Você tirou meio ponto da nota máxima por causa do erro de grafia na capa do cd?

É só mera curiosidade, porque acho que esse cd deve ser maravilhoso, reunindo duas excelentes cantoras e grandes amigas, com afinidades em vários aspectos.

No mais, muito boa a sua resenha. Tomara que esse disco faça o sucesso merecido.

abração,
Denilson

2 de maio de 2008 às 11:43  
Anonymous Anônimo said...

Essas duas artistas, essas duas vozes parecem que já nasceram para que um dia, num mês de outubro qualquer de um 2007 da vida, pudessem estar juntas. Era só uma questão de tempo. Eu já sabia... Santo Thomas Edison (e Edouard-Léon Scott de Martinville antes dele...)!

2 de maio de 2008 às 11:55  
Anonymous Anônimo said...

Sem comentários!!!Parabéna pelo resgate da boa música e interpretação elegante de Simone e despojada de Zélia sem nunca desarmonizar, coisa de amizade e projetos verdadeiros, a MPB agradece!!!!!!

2 de maio de 2008 às 13:08  
Anonymous Anônimo said...

Aliás Simone uma gata como nunca....

2 de maio de 2008 às 13:09  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, a crítica mais bem escrita que li sobre o assunto. Parabens. Nada como ler algo de alguem que conhece de música e não se preocupa em impressionar colegas. Tudo que tenho lido sobre esse trabalho é positivo, salvo um comentário desinformado (soando mais a querer ser do contra "cool") mas nada foi tão específico, informado e na mosca como o seu texto. Fora que realmente está um texto lindo. Por essas e outras que sempre leio seu blog.

2 de maio de 2008 às 13:21  
Blogger Flávio Voight said...

Não sou muito fã de nenhuma, mas vou conferir depois dessas 4 estrelas e meia.

2 de maio de 2008 às 13:59  
Anonymous Anônimo said...

O primeiro encontro delas no CD / DVD de Simone já dava para ter uma boa impressão. As vozes são mesmo harmoniosas e acredito que a Zélia ajudou a Simone a resgatar sua aura de Diva da MPB.
Grande encontro este.

2 de maio de 2008 às 14:04  
Anonymous Anônimo said...

Muito boa notícia. Tomara que Simone volte a gravar cds de mpb, com aquelas letras da gente se rasgar ...

Edu - abc

2 de maio de 2008 às 14:51  
Anonymous Anônimo said...

acredito que a Zélia ajudou a Simone a resgatar sua aura (2)

Sem dúvida, embora Simone, mesmo sem espaço entre os críticos, já vinha lançando bons álbuns, bem distantes daqueles bregas dos anos 80 que quase liquidaram com sua carreira. Fico feliz com a parceria. Ainda não ouvi o CD mas com certeza vou comprar.

2 de maio de 2008 às 16:22  
Anonymous Anônimo said...

Os anos 80 foi pautado por romantismo exarcebado n só por Simone e sim todas, tem ótimos lançamentos como Sou Eu, Simone Bittencourt de Oliveira na década 90 Café com leite, a incursão pop em Seda pura e outros interessantes que não se comparam a nenhum da década de 70 a 82 como Gal, Bethânia, Zizi etc....os tempos mudaram e o importante é que aos quase 60 Simone man†êm impressionante forma vocal e cênica e a nova geração de Zélia sabe beber da fonte e harmonizar com o pop a mpb tradicional de forma brilhante. Gol certeuro, quem agradece somos nós!!!!

2 de maio de 2008 às 18:54  
Anonymous Anônimo said...

Sim bem lembrado o amigo acima.
Simone vem apresentando bons trabalhos de 1996 para cá:

CAFÉ COM LEITE - 1996
SEDA PURA - 2001
BAIANA DA GEMA - 2004

Esse último um belo disco, pura poesia de Ivan Lins dedicado a Cigarra como uma de suas intérpretes favoritas.

E agora AMIGO É CASA em parceria com ZD, um belo trabalho, um belo disco, uma junção de vozes maravilhosas.

Só uma observação, todos naquela época entraram na era da breguice ou romantismo ( palavra mais correta ) até mesmo as outras duas baianas Gal e Bethânia gravaram musiquinhas comerciais e de telenovelas....não sei porque esse preconceito com a Cigarra...pura implicância mesmo, não existe outra explicação.

MAS TAÍ ELA ESTÁ MOSTRANDO AO QUE VEIO.... E QUE VEIO PARA FICAR ENTRE OS GRANDES NOMES DA NOSSA MPB.

2 de maio de 2008 às 19:01  
Anonymous Anônimo said...

Hj Simone é junto com BETHANIA E ZIZI , as maiores cantoras do BRASIL.

2 de maio de 2008 às 21:02  
Anonymous Anônimo said...

simone ainda vai, mas zélia...

3 de maio de 2008 às 00:02  
Anonymous Anônimo said...

Jura Secreta,Tô Voltando,Encontros e despedidas,Idade do Céu,são musicas que estão no dvd Simone ao Vivo.Vamos ter que rever tudo de novo.Renova Simone...

3 de maio de 2008 às 01:01  
Blogger Luiz Felipe Carneiro said...

Oi Mauro!
Nossa, suas críticas sempre perfeitas...
Eu tentei fazer uma resenha do mesmo CD lá no meu blog.
Se vc e seus leitores me visitarem, ficarei muito feliz!
Abração,
Luiz Felipe.
www.esquinadamusica.blogspot.com

3 de maio de 2008 às 03:36  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,

Tive a alegria de assistir esta gravação, e a energia e a generosidade de uma cantora como a Simone com Zélia que também é grande, e retribuida por Zélia, com admiração e reconhecimento, resultou em um grande show, agora registrado.

É daqueles encontros que quem viu, ficará eternizado na memória.

Abraços.

3 de maio de 2008 às 09:13  
Anonymous Anônimo said...

Estou curioso. Há tempos descurti Simone, e Zélia nunca chegou a me apetecer o suficiente, mas vou conferir este CD em homenagem a meus bons tempos com a Cigarra.

3 de maio de 2008 às 11:52  
Anonymous Anônimo said...

Simone tá de volta madura e com uma voz linda, lapidada, que voz!!!!!!!!!!
Uma das maiores cantoras do país.
Só acho que pecou em escolher músicas que estão no SIMONE AO VIVO 2005 não havia necessidade, ficaram outras pérolas de fora...

Uma pena!!!!

Mas o CD tá divino, vamos aguardar o DVD.
SARAVÁ ZÉLIA E SIMONE.

3 de maio de 2008 às 16:44  
Anonymous Anônimo said...

nesse trabalho das duas tão louvado pela crítica Simone apenas confirma o seu bom momento. Quem começa a cansar é Zelia Duncan nessa sua( dela) busca interminável . Com 25 anos de carreira já devia se ter achado. "Quem acha vive se perdendo" , " Quem se acha vive se perdendo", " Quem vive perdendo se acha" ou " Quem se perde vive se achando" ou nenhuma das alternativas anteriores?
Abraço e achei as four stars and a half , exageradas.

3 de maio de 2008 às 18:51  
Anonymous Anônimo said...

Não vejo nehum cansaço e sim força vital nas vozes em conjunto é de uma beleza impressionante a combinação de timbres tão raros e pessoais Simone e Zélia fizeram desse um dos maiores lançamentos da MPB pela sintonia inacreditável e bom gosto no repertório, parabéns pela resenha Mauro.

3 de maio de 2008 às 23:36  
Anonymous Anônimo said...

Simone está em ótima fase, e Zélia estou me apaixonando agora. Discordo COMPLETAMENTE que Zélia está cansando, muito pelo contrário, só agora (de uns 3 anos pra cá) é que estou curtindo. Acho que ela vem melhorando com cada trabalho. Longe de Catedral, ela está muito melhor.

Acho que quem não curtiu a Zelia de cara e resolveu que não ia curtir nunca, curte muito o seu preconceito e o prazer de falar mal se prendendo mais a chavões do que a música que se apresenta de fato hoje. Pena, vai ficar fechado com seus preconceitos.

Simone, concordo, está, junto com Bethania e Zizi entre as grandes da mpb. Nada sobre Zélia diz que ela tem essa pretensão (nem seus fãs se preocupam com isso), o que a concede mais liberdade de movimento até. Pra mim, ela está crescendo, e muito. Que bom, prova que a gente pode se desenvolver com trabalho e afinco.

4 de maio de 2008 às 01:56  
Anonymous Anônimo said...

Anônimo das 6:51, vc se acha não? Que necessidade de enquadrar, limitar, rotular e catalogar as pessoas, as mais bacanas as vezes são as menos compreendidas. Acho que Zélia tem voz e atitude pra fazer rock, mpb, choro, samba, bolero, tcha-tcha-tcha, e o que mais ela quizer ... até os alternativos malditos que ela adora. Se ela gosta de cantar e canta bem, deixa ela, mania de querer tudo arrumadinho.

Pessoalmente, acho que Zélia se daria bem cantando blues e jazz mais do que mpb. Ela tem timbre pra cantar um Chet Baker, uma Nina Simone e até um Eric Clapton ou Alman Brothers. Mas certamente tem regras e leis contra isso, deve ferir o senso do que cabe no universo unidimensional de quem adora se enquadrar em um lugar só. Tentar apreender coisa demais cansa... eta alma pequenininha... cansa sentir mais de uma coisa de uma vez... mascar chiclete e andar, nem pensar...

A música não tem limites, quem canta bem, canta bem o que tem no coração. Cansa é ouvir sempre a mesma coisa, quem tem espaço interno, evolui... larga preceitos e preconceitos e evolui. Palmas para Zélia e Simone e suas evoluções!

Tendo dito isso, todo CD tem que ter suas homenagens e seus hits, achei os desse trabalho bem escolhidos já que estão reeditados, novos arranjos e cantados em dupla. É outra coisa.

4 de maio de 2008 às 02:13  
Anonymous Anônimo said...

Concordo com o anônimo das 2:13. Zélia Duncan é uma artista (além de muito boa no que faz) inteligente. Ela sabe que entrar em contato com outros artistas, aparentemente de universos opostos ao dela só faz enq]riquecer com novos elementos o trabalho dela. E se, além de talentosa, é admirada por seus colegas de diversas vertentes, pq ela deveria fazer carão e não estar ao lado deles aprendendo e ensinando coisas novas?

5 de maio de 2008 às 11:55  
Anonymous Anônimo said...

Simone sempre foi uma grande cantora. Tem uma voz que emociona. Às vezes "escorregou" no repertório. Mas quem na MPB já não deu uma "escorregadinha"? Alguns só tem um cuidado maior de disfarçar isso, dando uma aura de "chic", de "cult", de "brincar" com o repertório brega. Gal já gravou Sulivan & Massadas; Bethânia já gravou Zéze de Camargo, e por aí vai...
Assim sendo, Simone também merece nosso respeito, pela grande artista que é e pelo poder de hipnotizar uma platéia que ela tem, como reconhecem grandes atrizes como Fernanda Montenegro e Irene Ravache.
Quanto à Zélia, me parece muito competente e só tem demonstrado tralento através dos trabalhos que vem lançando.

8 de maio de 2008 às 08:17  
Anonymous Anônimo said...

Simone é uma das mais belas vozes da MPB. Amadureceu bem, está mais contida, segurando as rédeas da sua carreira e não indo nas conversas de empresários e gravadoras. A Biscoito Fino tem a cara dela. ZD continua perambulando, sem se definir. Camaleoa como diz o Mauro. Está cansando essa ausência de perfil. Cenicamente precisa dar uma melhorada na postura. Nesse CD a gente também nota muitas falhas na emissão vocal, respiração fora de hora. ZD precisa investir mais nela própria. Melhorar, melhorar.

12 de maio de 2008 às 14:45  
Anonymous Anônimo said...

Anônimo 2:45, Concordo com ZD precisar investir mais nela própria, ela vive colocando azeitona na empada dos outros e ela não precisa disso. Simone também não precisa dessas azeitonas, já que já tem as suas de sobra. No entanto, ADOREI que elas fizeram algo em colaboração, com resultado único e diferente - musicalmente joia, com o plus de se ver que elas estão curtindo fazer música juntas. Isso me contamina de forma muito positiva.

Acho que falar de postura e timbre de voz é uma questão de gosto pessoal e divide opiniões, mas quanto a emissão vocal Zélia estava impecável, a respiração estava presente em timing correto em uma gravação que não foi retocada em estudio - justamente porque não precisou ser.

Acho o barato do trabalho as vozes juntas, pra mim é o que faz desse CD algo singular e maravilhoso.

13 de maio de 2008 às 18:05  
Anonymous Anônimo said...

Elas arrasaram em "Petúnia Resedá".

14 de maio de 2008 às 11:17  
Anonymous Anônimo said...

Esse papo de que ZD fez isso ou aquilo na carreira de Simone eh puro papo furado. Adorei o projeto AMIGO É CASA , mas estou mesmo eh esperando o NOVO de SIMONE sozinha, afinal a cigarra o]completa 35 anos (MAR2008).

8 de julho de 2008 às 22:23  

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