8 de maio de 2008

Ao vivo, Rufus está mais para Elton do que Judy

Resenha de show
Título: Release the Stars Tour
Artista: Rufus Wainwright
Local: Sala Cecília Meirelles (RJ)
Data: 7 de maio de 2008
Cotação: * * * *
Turnê de Rufus Wainwright pelo Brasil:
São Paulo (SP) - 9 de maio, Via Funchal
Belo Horizonte (MG) - 11 de maio, Freegells Hall
Brasília (DF) - 13 de maio, Auditório Planalto
Rufus Wainwright dá pinta em cena, mas - no palco - quando senta no piano para desfiar suas canções de assumido espírito gay, está mais para Elton John do que para Judy Garland. É fato que baixou a Judy no cantor e compositor americano em números como If Love Were All e Over the Rainbown, o standard que encerrou o primeiro bis do show realizado por Rufus para o entusiasmado público que compareceu à sala Cecília Meirelles para conferir a apresentação do artista em solo carioca. Contudo, Rufus nunca foi over em cena. Foi, sim, ligeiramente exótico - como fez questão de mostrar ao entrar em cena com sombrero mexicano na cabeça!!!!!

Falante e gaiato, o cantor fez piada com seus erros – ao piano, ele se atrapalhou com a parte instrumental da belíssima Nobody's Off the Hook, um dos números, aliás, em que é difícil não lembrar de Elton John – e dedicou o show a Caetano Veloso pelo fato de o compositor baiano ter adiado o show Obra em Progresso, cuja data da estréia coincidia com a do único show feito por Rufus no Rio de Janeiro em sua miniturnê pelo Brasil. Gracinhas à parte, a música de Rufus é para ser levada a sério. Já no segundo número, Maker Makes, o astro destilou puro sentimento em tema que soa com a força de um hino gospel. Sua música tem (fina) exuberância.

Na primeira parte do show, Rufus se acompanhou ao piano em canções como Grey Garden e Beauty Mark. A partir do quarto número, Sanssouci, que teve seu ritmo marcado com palmas pela platéia, o artista se alternou no piano e nos violões. Ele acreditou estar tirando um “som brasileiro” ao se acompanhar ao violão em músicas como Peach Trees. Mas, na sua viagem pela América do Sul, ele somente conseguiu aportar na Argentina porque Matinne Idol tem leves contornos de tango. Quem chegou mais perto do Brasil foi sua mãe, a pianista Kate Mc Garrigue, que lançou mão de um esforçado português para entoar Manhã de Carnaval, o clássico universal de Luiz Bonfá e Antonio Maria pelo qual se apaixonou ao ver o filme Orfeu Negro uma “dúzia de vezes”, como contou em cena. O número, simpático, foi muito aplaudido.

Mesmo errando, Rufus parece se garantir mais ao piano. Ao violão, ele pode até se sentir a própria Judy Garland, mas o fato é, em números como Gay Messiah, seu timbre vocal evoca John Denver, aquele falecido cantor que entoava Sunshine on my Shoulders. Nada que desmereça Rufus... O show foi excelente, beirando o sublime em números como Going to a Town. Ora mais densa (como em Zebulon), ora mais light (como em California), a performance familiar de Rufus – aberta por sua irmã, Martha Wainwright, sedutora ao apresentar repertório próprio que destacou When the Day Is Short – cativou o público que foi conferir ao vivo hits como Hallelujah (da lavra de Leonard Cohen, mas já associado ao repertório do astro) e Cigarettes & Chocolate Milk, estrategicamente reservados para o fim. Rufus Wainwright deu a esperada e habitual pinta, mas deu também um ótimo show.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

onde mais ele se apresenta?

8 de maio de 2008 às 08:27  
Anonymous Anônimo said...

Elas todas querem ser Judy Garland, mas se nem Liza Minelli conseguiu...

8 de maio de 2008 às 15:55  
Blogger Flávio Voight said...

Rufus é ótimo, gostaria de ter ido assistir. O último CD da Martha, 'I know you're married', também é muito bom.

8 de maio de 2008 às 16:18  
Anonymous Anônimo said...

Oi Mauro, acompanho seu trabalho há tempos, acho o blog ótimo.

E, mesmo sendo fã de MPB, me parece incrível que um post sobre os projetos de gosto duvidoso de Zizi Possi renda comentários mais numerosos e efusivos que a crítica do primeiro show de Rufus Wainwright no Brasil. Saí da Sala Cecília Meireles com aquela sensação de que ainda nos falta muito arroz com feijão pra compreender um artista tão genial. Se George Gershwin, Jerome Kern (ou Elton John) estivessem vivos, estariam fazendo o que Rufus faz hoje, sabe-se lá se com a mesma desenvoltura e sofisticação.

Num post acima, alguém reclama que o Caetano canta música cafona do Wando e ninguém critica, porque ele é Deus aqui no Brasil. É quando a gente lê esse tipo de estupidez saindo do público que tem que louvar o empenho do baiano em apontar nosso provincianismo para tentar superá-lo. Claro que não é um fenômeno só brasileiro, mas tem tanta gente querendo ver/ouvir apenas o que confirme sua perspectiva de mundo, não é? Como já dizia o General De Gaulle, esse país não deve mesmo ser sério.

Fica meu desafio pra quem tá em SP, Brasília ou BH: vá ao show do Rufus e depois discorde de mim.


Abraços,
Gustavo R. Amorim

9 de maio de 2008 às 11:04  
Blogger Flávia C. said...

* Ei, Gustavo, Elton John está vivo! (Não está???)

* Chapéu mexicano??? Ele faz isso sempre, ou foi uma "homenagem" ao Brasil?

* Quanto ao texto, acho que o título está ambígüo. Quer dizer, não é nem ambígüo, está com outro sentido (parece que Rufus e Judy estavam competindo para ver quem está mais para Elton John, e ele ganhou. :P). Não ficaria repetitivo acrescentar mais um para ("Ao vivo, Rufus está mais para Elton do que para Judy"), mas se a questão é o espaço, eu sugeriria "Ao vivo, Rufus está mais Elton e menos Judy" (ou "... menos Judy e mais Elton").

Desculpe ficar pentelhando com esses detalhes, hehehe.

Gostei do texto, me animou a conhecer mais a música do rapaz.

9 de maio de 2008 às 12:08  
Anonymous Anônimo said...

Pronto! Mataram Sir Elton John. Quem vai herdar as perucas ?

9 de maio de 2008 às 15:59  
Anonymous Anônimo said...

Realmente, é preciso ter espaço para todos. Mas me surpreende como tem gente que gosta de cantores com repertório deprimido.

9 de maio de 2008 às 21:45  

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