25 de março de 2008

Mendes recorre a clichês tropicais em 'Encanto'

Resenha de CD
Título: Encanto
Artista: Sergio Mendes
Gravadora: Universal
Cotação: * *

Pela capa do 39º álbum de Sergio Mendes, Encanto, nas lojas do Brasil a partir de 8 de abril, já dá para perceber que o pianista de Niterói (RJ) mais uma vez recorre aos clichês do país tropical para explorar o suingue da música brasileira no exterior. Encanto repete a fórmula de Timeless, o álbum que rejuvenesceu o som e o público de Mendes graças à intervenção do rapper will.i.am - o onipresente líder e mentor do grupo Black Eyed Peas. Soa exótico.
Pois o will reaparece em Encanto já na produção da primeira faixa, The Look of Love, clássico de Burt Bacharach e Hal David regravado com o vocal de Fergie, a loura do Black Eyed Peas. A introdução da faixa - com o piano de Mendes - faz supor nos primeiros segundos uma leitura mais convencional do tema, mas logo a gravação cai no baticum estilizado que domina o disco. É uma batida de samba à moda estrangeira, com eventuais vocais de rap. Enfim, uma miscelânea tropical que agrega nomes como Carlinhos Brown, parceiro de will.i.am em Funky Bahia e autor e convidado de Odo-Ya, exemplo da miscigenação artificial do CD. Sobre uma batucada afro-brasileira, Brown diz versos politizados.
Gravado entre Rio, Bahia e Estados Unidos, Encanto consegue empobrecer com seu baticum tropical até uma obra-prima de Tom Jobim como Águas de Março, apresentada em inglês com o vocal de Ledisi e em francês com a intervenção de Zapa Mama, grupo belga de world music. Compositor recorrente no repertório de Encanto, Jobim também é evocado em Somewhere in the Hill ( O Morro Não Tem Vez, com Natalie Cole nos vocais), Dreamer (Vivo Sonhando, em clima bossa-novista com a voz de Lani Hall - vocalista original do conjunto Brazil' 66 - e o sublime trompete de Herb Alpert) e Água de Beber (com o rap até bacana de will.i.am).
No samba do gringo doido, até o suingue de João Donato se perde entre tanto exotismo. Lugar Comum, parceria de Donato com Gilberto Gil, entrelaça o discurso do rapper italiano Jovanotti com o canto do grupo japonês Dreams Come. Já Y Vamos Ya (E Vamos Lá) ganha o vocal em espanhol do cantor colombiano Juanes. O encanto se perde pela tentativa de forçar tom tropical - como acontece em Morning em Rio (samba de Toninho Horta em que Mendes procura simular um clima carioca) e em Catavento e Girassol (com inadequada cuíca ressoando ao fundo). Até a assinatura personalíssima da música de Vanessa da Mata, que participa da regravação de Acode, se perde entre tanto clichê. Pode ser que Encanto seduza ouvidos estrangeiros interessados na imagem e no som tropical do Brasil, mas, dentro do universo nacional, tudo o que a audição do álbum não provoca é... encanto.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Até aí nenhuma novidade porque Sergio Mendes sempre viveu de clichês

25 de março de 2008 às 13:00  
Anonymous Anônimo said...

Deve ser uma porcária... mas está aí um cara para quem a crítica brasileira é completamente irrelevante. Faz seu dindin lá fora e, desde que foi para os EUA, nunca precisou de favores de ninguém daqui.

25 de março de 2008 às 14:24  
Anonymous Anônimo said...

Caro Mauro

Parabéns pelo conteúdo do blog e pela qualidade das informações.
Em relação à crítica ao álbum Encanto do Sérgio Mendes, tomo a liberdade de discordar de sua opinião.
Virou lugar comum criticar o Sérgio Mendes sob a ótica de sua leitura musical carregada de exotismo, etc, ainda que isto seja em parte verdadeiro.
Eu ouvi o disco com atenção e me surpreendi, pois achei muito bom e prazeroso de se ouvir.
A fusão de ritmos da faixa de abertura é boa demais, a versão de Catavento e girassol é tão boa quanto a da Leila Pinheiro - ainda que a letra tenha sido editada com a exclusão de um verso - e o dueto com a Vanessa da Mata é puro prazer. Sem falar na Gracinha Leporace que é uma contora adorável. Não entendi porque classificar como música para gringo.
Para concluir, acho este álbum muito melhor que o anterior, e tão bom quanto o álbum Brasileiro.

25 de março de 2008 às 14:53  
Anonymous Anônimo said...

Esse cara é oportunista...

Bruno.

25 de março de 2008 às 17:26  
Anonymous Anônimo said...

Acho uma pena. Sergio Mendes foi ótimo pianista na década de 60, fez discos de bom jazz como 'The Swinger from Rio' e 'The Beat of Brazil'. Mesmo 'Oceano' é perfeitamente audível, sobretudo as faixas com Hermeto Pascoal, nas quais o bruxo faz música de verdade, com começo-meio-fim, e não aquelas maluquices de assoprar chaleira.

25 de março de 2008 às 17:38  
Anonymous Anônimo said...

Só mesmo sendo gringo e ignorante em música brasileira pra gostar desse cara.

Jose Henrique

25 de março de 2008 às 19:33  
Anonymous Anônimo said...

Não ouvi o cd e nada posso opinar a respeito. Não duvido que Mauro tenha lá suas razões. Porém, não concordo com os comentários ácidos postados... a rigor, Sergio Mendes nunca fez (realmente) música brasileira. O que ele sempre fez foi uma música pop. É o que ele tem pra dar e nisso foi bem sucedido. Sérgio Mendes não chegou agora, está aí há décadas e é mais um patrimônio musical brasileiro. Mas não tem mesmo jeito, não é, minha gente? O que o Brasil merece? Calypso, Chiclete com Banana? Aiaiaiai... tsk, tsk.

25 de março de 2008 às 22:46  
Anonymous Anônimo said...

Fátima, como os Mutantes diziam.
O Sérgio Mendes não passa de um cantor de mambo.
Me admira vc, sempre tão criteriosa... :>)

Jose Henrique

26 de março de 2008 às 15:20  
Anonymous Anônimo said...

Não sejam tão preconceituosos!
Ouçam, de preferência, com atenção, antes de fazer comentários do tipo "Sérgio Mendes é um oportunista".
O cara é um grande músico, grande arranjador, com capacidade de agregar pessoas em torno da música que ele agredita que deva fazer.

1 de abril de 2008 às 14:49  

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