10 de março de 2008

Cantores nem sempre são bons compositores...

Em simpósio promovido pela revista americana Billboard sobre questões empresariais relativas à indústria da música, Clive Davis - importante executivo que, no comando da Arista Records, descobriu cantores como Whitney Houston - alertou para o fato de que intérpretes devem se concentrar na arte do canto ("o que sabem fazer de melhor", de acordo com Davis) em vez de buscarem se firmar como compositores. Davis tem toda a razão. Cantores não são necessariamente bons compositores. Exemplo brasileiro recente da questão abordada pelo executivo - hoje no grupo Sony BMG - é o primeiro CD da paulista Ana Cañas (foto), Amor e Caos. O álbum frusta as expectativas de quem já viu Cañas ao vivo e conhece sua força como intérprete. Mas ela decidiu apostar em repertório majoritariamente autoral sem ligar para o fato de que suas músicas não são tão boas quanto sua voz. Ainda menos conhecida do que Cañas, que já adquiriu aura cult na noite paulistana, a mineira Gláucia Nasser também comete o mesmo erro em seu terceiro disco, A Vida num Segundo. Cantoras como Mariana Aydar e Roberta Sá tiveram mais humildade e salpicaram uma ou outra música autoral em seus repertórios. Estão certas. Afinal, nem todo mundo é - como Milton Nascimento, para citar um exemplo na ala masculina - dotado de um talento excepcional de compositor e de uma voz igualmente especial. A ponderação de Clive Davis deve ser levada em conta. Inclusive por todos os compositores que se acham bons cantores.

30 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Concordo plenamente.
PS:E olha que, segundo Rita Lee falou em 2002, ela estava tentando incentivar Elis a botar na rua alguns escritos próprios, no início da pré-produção do trabalho que o 19 de janeiro de 1982 não deixou ser feito... talvez tenha sido melhor, talvez não. Mas aí já é um pouco de leviandade minha.

Felipe dos Santos Souza

10 de março de 2008 às 15:05  
Anonymous Anônimo said...

Cantores nem sempre são bons compositores... (2)

10 de março de 2008 às 15:21  
Anonymous Anônimo said...

eu concordo em parte com isso... realmente nem todos cantores são necessariamente bons compositores ou vice-versa, mas eu também acho que o artista tem que ter autonomia no seu trabalho e fazer o que ele julga ser o seu caminho, com a possibilidade de errar e acertar, só assim vem o amadurecimento... por isso, essa notícia me cheira a conservadorismo, acho que hoje em dia tudo é possível, os artistas erram e acertam, isso não quer dizer que se um artista não fez um bom disco de composições ele vai ser ruim a vida toda, eu levanto a bandeira da liberdade criativa e da liberdade de errar, cair e levantar-se...

10 de março de 2008 às 15:49  
Anonymous Anônimo said...

Ih, vai sobrar para o pobre do Chico Buarque. Essa afirmação do descobridor de Whitney Houston (!!!) só cola onde o recolhimento de direitos é profissional e transparente. No Brasil não cola.

10 de março de 2008 às 16:04  
Anonymous Anônimo said...

Chico Buarque não é bom cantor, mas é ótimo intérprete. Grande parte de suas músicas ficam muito melhores na sua voz que na de cantores mais tarimbados.

Compositores que nunca deveriam ter sonhado em cantar são Belchior (esse canta aprecendo que está em meio a uma crise de asma), Vander Lee, Baden Powell, Nélson Cavaquinho, Fagner....

10 de março de 2008 às 16:28  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,
não sei se vc já leu, mas caso ainda não o tenha feito, pegue a penúltima Rolling Stone americana (com a Britney na capa) e leia e excelente reportagem que fizeram com o Clive Davies.
Abraço,
Luiz Felipe Carneiro.

10 de março de 2008 às 16:37  
Anonymous Anônimo said...

E a Ana Canãs só deve ser boa cantora ao vivo, pq o CD é ruim demais!!! As músicas são tolinhas, tolinhas e a interpretação sussurrante demais..... Coisa de gravadora que quer ser chique apostando na voz "cool" das mocinhas bonitas de aulas de canto.
Enquanto isso deixam escapar pelos dedos verdadeiras cantoras, cheias de personalidade e que continuam nos recintos "b" da música brasileira. E só pra falar 2 nomes de diferentes lugares do Brasil, que procuram seu lugar ao céu: Verônica Ferriani e Regina Spósito.

10 de março de 2008 às 16:51  
Anonymous Anônimo said...

Qual será o grande achado da assertiva de que "cantores nem sempre são bons compositores"? Comentário totalmente dispensável e boboca, assim como o fato de que "compositores nem sempre são bons cantores", "bons cantores nem sempre são bons intérpretes", etc. Vindo de um descobridor da Whitney Huston, tal comentário não surpreende e é no contexto mercadológico que este tipo de discurso surte efeito.

10 de março de 2008 às 16:51  
Anonymous Anônimo said...

De uns tempos pra cá cantora que compõe virou uma praga! de Marisa Monte a Vanessa da Mata... Única exceção da atualidade: Joyce.

Elizeth, Elis, Nara, Bethania, Gal, Zizi nunca precisaram "mostrar seu trabalho". Diziam (e dizem) tudo que tem pra dizer no canto e com a força de suas escolhas interpretativas. Isso é arte, não juntar três acordes com uma melodia banal e um texto idem e se chamar de compositora.

Viva Maysa e Dolores Duran!

10 de março de 2008 às 16:59  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,

Muito interessante (e importante) você ter colocado em pauta esse assunto que não é muito comentado. As composições da Ana Cañas, por exemplo, são tenebrosas. Mas ela arrasa ao vivo como cantora.

10 de março de 2008 às 18:12  
Anonymous Anônimo said...

Muito bom e super oportuno o seu comentário, Maurão!
Eu assino embaixo com muita convicção.

10 de março de 2008 às 19:56  
Anonymous Anônimo said...

GOSTO DE TODOS OS COMENTÁRIOS: DO MAURO E DOS DEMAIS. DIFÍCIL LEVANTAR ESTA BANDEIRA E TER UMA OPINIÃO DEFINITIVA.

LAMENTO, CONTUDO, QUE ANA TENHA SEGUIDO A CARTILHA AUTORAL (COMPOSITORA). SUA VOZ É MUITO BACANA, SUA PRESENÇA CÊNICA IMPACTUA MAS - DOU A MÃO AO MAURO -O REPERTÓRIO NÃO ACOMPANHA. E FAZ FALTA NUMA CANTORA COM SUAS QUALIDADES.

EM SP ESTÁ EM CARTAZ UMA NOVA CANTORA BAIANA, MÁRCIA CASTRO, QUE TB TEM PERSONALIDADE E UM REPERTÓRIO SACADÍSSIMO, CRIATIVO, QUE JUSTIFICA A REALIZAÇÃO DE UM CD. E OLHA QUE, COMO CANTORA, ELA NÃO CHEGA A SER UMA CAÑAS.

10 de março de 2008 às 21:25  
Anonymous Anônimo said...

Concordo plenamente, há muito tempo reclamo com os amigos dessa mania que assola a MPB. Esse comentário deveria ser lido (e muito bem guardado) por Marisa Monte, Céu, Ana Carolina (que além péssima compositora também decidiu ser péssima cantora). Espero que Roberta Sá (mesmo tendo feito em parceria com Pedro Luiz a música mais bonita do seu último CD) resista à essa tentação. Ser reconhecida como ótima cantora já está de bom tamanho. Viva Maysa, Dolores e também Sueli Costa, Marina, Fátima Guedes, Ro Ro. Essas, sim!

10 de março de 2008 às 23:01  
Anonymous Anônimo said...

Qualquer atividade na área da música (cantar, compor, tocar, arranjar, produzir) para quem a encara com seriedade, exige ou deveria exigir um preparo grande e um talento específico. E há quem os tenha para tudo, mas são raríssimos. Joyce é um bom exemplo, toca, compõe e canta magníficamente. Existem outros. Dori, Egberto, Milton. Deveria fazer parte das inúmeras escolhas que um artista tem que fazer, a opção por desenvolver aquilo que tem de melhor. Guinga, compositor e instrumentista descomunal, por exemplo optou por cantar menos. Aqueles que se aventuram e não são privilegiados pelo talento, e são muitos, deveriam ser tratados assim, como "aventureiros". E é muito legal o Mauro colocar esse assunto em pauta. Aliás isso daria uma ótima matéria de jornal.

11 de março de 2008 às 08:39  
Anonymous Anônimo said...

Egberto canta? Onde? Quando? Essa foi boa... Egberto cantando, ha ha ha.

11 de março de 2008 às 10:26  
Blogger Flávia C. said...

Nunca ouvi Ana Cañas, mas acho que Chico Buarque deve seguir cantando (e compondo, claro), afinal "grande parte de suas músicas ficam muito melhores na sua voz que na de cantores mais tarimbados." (é isso aí, Anônimo 4:28). E Marisa Monte poderia parar de compor. :P

11 de março de 2008 às 11:23  
Anonymous Anônimo said...

Outro de exemplo de ótimo compositor que canta lindamente: ZÉ RENATO.

11 de março de 2008 às 15:51  
Anonymous Anônimo said...

Zé Renato é tudo de bom mesmo, assim como Djavan que arrasa no charme, na voz, nas composições.

11 de março de 2008 às 17:07  
Anonymous Anônimo said...

Há pessoas que se destacam quando falam como Maria Bethânia que parece ser cultíssima, mas que escreveu poucas letras e ainda assim aquém de sua fala. Nem sempre ter algo interessante a dizer numa entrevista significa expressar bem numa composição. Cantora-Compositora de mão cheia de fato foi Maysa, que era tão boa numa seara quanto noutra. Talvez Joyce seja um dos poucos talentos nesse sentido multifuncional; Cantora-compositora-instrumentista. Ângela Rorô talvez seria tudo isso se quisesse, mas está meio presa a mesmice...repertório batido e Mc Cord nos teclados...cansa...
Gosto muito das composições da Fatima Guedes, da Marina, da Sueli Costa, mas nem sempre são boas cantoras. Dizem que a Marisa Monte compõe...mas geralmente são 3 ou 4 figuras na mesma música, que de repente a paticipação de cada um é por uma virgula no lugar, e a sensação é que ainda assim, a virgula está errada, pq as letras são fracas... Calcanhoto é boa compositora e promissora cantora, tem também a Rosa Passos que compõe pouco, mas geralmente com qualidade...
Enfim... que surjam novas/os que se arrisquem, mas que saibam o preço que terão de pagar pelo que fizerem.

11 de março de 2008 às 17:31  
Anonymous Anônimo said...

Bom mesmo era na Era do Rádio, que Ary Barroso, Noel Rosa, João de Barro, Lamartine Babo, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, Assis Valente e Custódio Mesquita corriam atrás de Francisco Alves, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Carlos Galhardo, Carmen Miranda, Sílvio Caldas e Dalva de Oliveira para que gravassem suas músicas. Hoje em dia temos um monte de canções boas cantadas por compositores que são cantores fracos (Vander Lee, Chico César...) e um monte de grandes cantoras sem repertório (Mônica Salmaso, Jussara Silveira...). E o pior de tudo é que a culpa é da Bossa-Nova, quando cantores de pouca voz (mas ainda assim cantores) passaram a gravar e todo mundo achou que podia ser como João Gilberto. Só que ninguém é como João Gilberto.

11 de março de 2008 às 18:21  
Anonymous Anônimo said...

Acho que vai de cada um. Se quer lançar suas composições, mesmo que não boas que o faça, isso faz naturalmente parte do processo de cada um. Essa de classificar; cantor; compositor, ou qualquer outro tipo, não corresponde com o que se passa com os artistas, mas corresponde mais ao mercado das majors.Um tempo existiam os autores contratados para fabricar hits(acho que ainda existem), mas hoje isso corresponde somente ao mercado, e não a arte.Essa garota, que não conheço, pois nunca ouvi seu trabalho,vive um processo pessoal de decisão sobre o pròprio trabalho e sua maneira de apresentà-lo.Talvez no pròximo ela sinta outras necessidades.Mercado, meu bem, mercado.
Humberto

11 de março de 2008 às 18:24  
Anonymous Anônimo said...

Ana Cañas tem charme, estilo, carisma, uma voz deliciosa, mas tem se revelado até aqui uma compositora muito primária.
Estive no Bourbon Street em seu show um mês atrás e constatei seu talento cênico. Constatei, igualmente, sua deficiência na seara das composições. Quando canta canções de maior qualidade o faz como gente grande. Intensa. Vai pras cabeças.

Amo Fátima Guedes cantando sua lavra. Idem ao Chico Buarque, Paulinho da Viola, Suely Costa e, exceção à regra que cultua Caetano como grande cantor, o aprecio cantando SUAS composições. Como intérprete, não me revira os olhos.

maria

11 de março de 2008 às 18:52  
Anonymous Anônimo said...

Sem dúvida, desta ninhada garotas bem nascidas incensadas na Vila Madalena com sua levada cool e seus modelitos desencanados, Ana é, de longe, a melhor.

Há compositores que prescindem de qualidade vocal para cantar suas músicas. São deliciosos. Ouçam Cartola, Batatinha, Chicão Buarque, Gonzaguinha. Conferem uma veracidade a alguns temas de sua autoria, inalcançáveis as vezes por excelentes "intérpretes". Que dizer de Ivone Lara?

Por outro lado, Marisa Monte canta gostoso mas é uma compositora bem mediana. Paulinha Toller, mesma coisa. Se se restringissem a cantar não comprometeriam em nada o cancioneiro tapuia.

E não conheço ninguém que cante composições de A. Calcanhoto e A. Carolina com a mesma veracidade que elas mesmas. Bethânia tem o borogodó mas "Vou Deixar A Rua me Levar" com Ana e Seu Jorge, dá de 10. O mesmo para "Eu Que Não Sei Nada de Mar" que poderia ter sido o único hit de Pirata se a baiana tivesse dado a força da compositora.
Ana é frequentemente over, excessivamente prolixa na maioria das vezes, mas quando acerta faz belíssimas canções. Quase todas bem melhor em sua interpretação visceral.

11 de março de 2008 às 21:01  
Blogger Ju Oliveira said...

legal essa discussão. não tenho nada a acrescentar. tudo que eu diria já foi dito. Resumindo: Joyce é a maior, as composições da MM são um horror. É isso aí!

Agora, Mauro, falando em Glaucia Nasser, comprei o primeiro cd dela baseada na sua opinião (já me dei bem fazendo isso outras vezes), mas dessa vez, meu amigo... O cd é terrível, detestei do começo ao fim. Mas tudo bem. Acontece nas melhores famílias. Você ainda tem crédito comigo.

11 de março de 2008 às 21:26  
Anonymous Anônimo said...

Para o Anônimo das 10:26.
Não meu querido, Egberto não pode ser considerado um cantor, apesar de fazê-lo esporadicamente, e bem. Mas ele compõe, toca uma penca de instrumentos, arranja como poucos e produz os seus próprios trabalhos e os de outros artistas. Não me parece pouco. Me referi no meu comentário a artistas multifacetados, que exercem as várias atividades que se pode ter dentro da música, não só a cantores ou compositores. Não me parece que você saiba disso, mas pode-se fazer outras coisas na música além de cantar ou compor. Se não houvessem arranjadores, produtores, instrumentistas, você provavelmente não estaria ouvindo música. Egberto é um ótimo exemplo de um artista que, mesmo não sendo um cantor, soube explorar os seus muitos talentos. Assim como Dori, Joyce, Milton, Zé Renato, Guinga,e pouquíssimos outros.

11 de março de 2008 às 21:49  
Anonymous Anônimo said...

Adorei a lembrança do Zé Renato. Fez meus dias melhores na década de 80. E Agora pra completar o charme virou sambista.

12 de março de 2008 às 08:20  
Anonymous Anônimo said...

Marisa Monte não é mesmo grande compositora, mas, os dois últimos discos dela têm boas letras.
Principalmente o de samba.

Jose Henrique

12 de março de 2008 às 14:00  
Anonymous Anônimo said...

Todo artista quer mais do que seus críticos gostariam.Isso é uma das coisas que faz dele um artista.

12 de março de 2008 às 23:51  
Anonymous Anônimo said...

A liberdade no campo da arte sempre vem em primeiro lugar para o próprio artista. Se ele não tentar, jamais vai conseguir. E cabe ao público gostar ou não. E tenha certeza de que ele vai sacar se o público gostou, e não vai perder seu tempo lendo críticas tão negativas na internet. Eu me ponho no lugar deles, ao ler uma frase como "As composições de MM são um lixo"... Sei la, não acho nem um pouco legal esse lado das pessoas. Viva e deixe viver. Nanda

26 de março de 2008 às 14:08  
Anonymous Anônimo said...

será gente? não concordo muito com estes vereditos("cantores nem sempre são bons compositores").A convite de um amigo assisti a Gláucia Nasser no Bourbon street e vou discordar de você, gostei gente , gostei mesmo.Suas músicas casam com letras que trazem algo a mais do que tenho visto por aí.Percebi talento nesta mineira que parece estar chegando pra tocar mesmo as pessoas que a ouvem.A ousadia dela em colocar as canções de sua autoria já soma pontos.A MPB se renova com artistas assim.Muitos grandes artistas que vieram pra ficar na nossa estória tiveram um dia a coragem de fazer isso.Repensem estas idéias , estes clichês, por favor.

9 de maio de 2008 às 00:18  

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