10 de novembro de 2007

Alcione aprimora repertório em show ainda cru

Resenha de show
Título: De Tudo que Eu Gosto
Artista: Alcione
Local: Citibank Hall (RJ)
Data: 9 de novembro de 2007
Cotação: * * *
Show em cartaz até 10 de novembro de 2007

"Vocês trouxeram as giletes para cortar os pulsos?", já perguntou Alcione, marota, antes de fazer um bloco com músicas de dor-de-cotovelo que harmonizou Molambo, Desacostumei de Carinho (a canção de Fátima Guedes gravada por Nana Caymmi) e Ontem à Noite, da seara de Núbia Lafayette (1937 - 2007). O set de fossa é exemplo do upgrade dado pela Marrom em seu repertório em um bom show que estreou no Rio de Janeiro ainda cru, desarticulado, mas que nem por isso deixa de estar entre os melhores da cantora. Já ao entrar em cena, cantando a capella a toada do boi de Maioba Se Não Existisse o Sol, do Maranhão natal, Alcione mostrou que a voz estava em ótima forma - com um viço e um volume que já não apareceram em seus últimos CDs. Na seqüência, cantou As Forças da Natureza, o samba do repertório da amiga Clara Nunes (1942 - 1983) que a Marrom gravara no CD Claridade (1999). Foi outro sinal de que Alcione buscou aprimorar o repertório, mesmo sem dispensar as inevitáveis baladas derramadas que lhe garantiram o sucesso radiofônico nos últimos anos. Entre elas, A Loba, Faz uma Loucura por mim e Você me Vira a Cabeça (me Tira do Sério). É mal necessário para artista que satisfez os caprichos do mercado.

Alcione voltou à cena menos over, sem o tom trash de seu chato e lamentável show anterior, Uma Nova Paixão. Mas sem deixar de ser Alcione. Tanto que a estréia - num Citibank Hall frio e com lotação pela metade - contou com suas tiradas espirituosas e com tristes saudações a convidados que incluíam até atores de terceiro escalão. Em contrapartida, a Marrom pinçou deliciosos lados B de seu repertório dos anos 80. De Vamos Arrepiar!, disco de 1982, reapareceu Edital, belo manifesto de devoção ao canto. Do álbum Almas e Corações, de 1983, Mutirão de Amor lembrou tempos em que Alcione era mais próxima da obra de bambas como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Sombrinha, autores do samba. Aragão e Sombrinha foram bisados no roteiro com Novo Endereço, do LP Nosso Nome: Resistência (1987). E ainda houve Mesa de Bar, a música de Gonzaguinha que Alcione mostrou em 1985 no disco Fogo da Vida em dueto com o autor. Enfim, surpresas do baú...

Se o show ainda precisa de ajustes (a cantora demorou a entrar em Meu Ébano, errou a letra de Edmundo - tributo a Elza Soares, com direito a projeções de imagens antigas da Mulata Assanhada no telão - e pareceu mal-ensaiada), o roteiro precisa de uma costura mais firme. A pueril Obrigada, por exemplo, está deslocada entre dois sambas da Mangueira (o samba-rap Mangueira É uma Mãe e o samba-enredo da Estação Primeira para o Carnaval de 2008). Contudo, qualquer desajuste vira detalhe quando Alcione revive lindamente Camarim, a parceria de Hermínio Bello de Carvalho e Cartola. Neste número, a Marrom volta a ser a grande cantora que foi um dia. E que, felizmente, aparece eventualmente no roteiro e no tom mais comedido deste show que ainda vai ficar mais bonito quando estiver (bem) mais azeitado. Mas que já merece ser visto.

Shirle persegue fama em CD e DVD com Ramil

Intérprete segura revelada no Fama, programa de calouros da Rede Globo, a gaúcha Shirle de Moraes prepara CD e DVD com releituras de músicas de Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque, Milton Nascimento e do conterrâneo Vítor Ramil, o convidado da gravação (Ramil participa de Não É Céu, canção de sua autoria). Shirle deixou bela impressão ao lançar, em dezembro de 2005, seu primeiro disco, Nada Será Como Antes, calcado no repertório de Elis Regina.

Aos 60, Rita ganha 'Perfil' e o tributo de Crikka

Prestes a completar 60 anos, em 31 de dezembro, Rita Lee ganha coletânea na série Perfil, da Som Livre. Calcada em sucessos, a seleção das 16 músicas pouco diverge dos repertórios de compilações anteriores da cantora, mas inclui o mais recente hit da artista, Amor e Sexo, carro-chefe do ótimo CD Balacobaco (2003), último trabalho de inéditas de Rita Lee. Eis as 16 faixas de Perfil:
1. On the Rocks
2. Amor e Sexo
3. Lança Perfume
4. Mania de Você
5. Baila Comigo
6. Banho de Espuma
7. Caso Sério
8. Chega Mais
9. Saúde
10. Nem Luxo Nem Lixo
11. Agora Só Falta Você
12. Jardins da Babilônia
13. Doce Vampiro
14. Ovelha Negra
15. Bwana
16. Desculpe o Auê
Ainda por conta de seus 60 anos, a Ovelha Negra ganha tributo da cantora Crikka Amorim no CD Pirataria - Rita Lee por Crikka Amorim, editado pelo selo Sala de Som. Parceira de Rita no rock Pagu, Zélia Duncan assina o texto que apresenta o disco da colega. Eis as elogiosas palavras de Zélia Duncan a respeito de Pirataria:
Talvez, numa leitura mais precipitada, pareça mais fácil regravar Rita Lee, nossa mais importante compositora pop, do que lidar com um repertório todo inédito. Mas, justamente por isso, acaba sendo também um desafio muito interessante, no qual a cantora e compositora Crikka Amorim mergulhou com bastante coragem neste álbum intitulado Pirataria.
Bem Me Quer abre os trabalhos com levada blues, apostando na sensualidade da letra. Crikka se dá bem nessa praia, deita e rola no delicioso paradoxo sugerido na canção.
As épocas se misturam, vamos de Mamãe Natureza, grito de independência de uma Rita recém saída dos Mutantes, O Futuro Me Absolve (Babilônia), uma daquelas que nos dão vontade de ouvir em qualquer tempo de nossa vida e ainda Esse Tal de Roque Enrow, do clássico álbum feito com o Tutti Frutti, com direito a solo inspirado de Walter Villaça, bom como o acordeon de Marcelo Caldi em Menino Bonito, fundamental no interessante clima de realejo abolerado proposto no arranjo.
Aliás, Crikka Amorim, intérprete experiente, sabe muito bem que é sempre bom andar nas companhias certas e convocou músicos com características fortes como Élcio Cáfaro (Bateria), Marcelo Mariano (baixo), Jadna Zimmerman (percussão) e Cléo Boechat (teclado).
André Agra faz as guitarras e assina a produção musical, uma produção que oferece a delicadeza e a força necessárias para receber um repertório que já anda tanto na nossa memória emotiva.
Antes de mais nada, Crikka Amorim faz uma homenagem caprichadíssima a rainha pop brasileira, a pimentinha Rita Lee. Ela merece e nós também!
Zélia Duncan

O quinteto carioca Casmurro desponta com EP

Quinteto de rock, formado há dois anos no Rio de Janeiro, Casmurro desponta na cena pop com bom EP (capa à esquerda) de quatro faixas. As músicas são A Noite Cai, Às 3 da Manhã (que já rendeu clipe filmado em 16 mm com a direção de Bruno de Carvalho e de Paulo Anomal - já veiculado no canal Multishow e em exibição no My Space), Um Pouco Mais e O Primeiro a Correr. São os cartões de visita do grupo carioca formado por Augusto Mello (voz), Daniel Sobral (baixo), Gustavo Ferraz (guitarra), o já citado Paulo Anomal (guitarra e sintetizadores) e Thiago Claro (bateria).

9 de novembro de 2007

Pedro Lima entra em campo com boa jogada

Resenha de CD
Título: Futebol Musical
Brasileiro Social Clube
Artista: Pedro Lima
Gravadora: Sala de Som
/ Brazilmúsica!
Cotação: * * * 1/2

O Brasil acaba de ser anunciado oficialmente como o país-sede da Copa do Mundo de 2014 e Pedro Lima - cantor projetado no grupo vocal Garganta Profunda - já entra em campo com um disco que é uma boa jogada. Futebol Musical Brasileiro Social Clube reúne onze músicas que têm como tema o esporte preferido da nação brasileira. Na seleção de Lima, há craques como Chico Buarque (O Futebol, tema regravado numa tabelinha vocal com Carol Saboya), Jorge Ben Jor (Ponta de Lança Africano - Umbabarauma) e Gilberto Gil (Meio de Campo, num bate-bola cheio de balanço entre o cantor e Nilze Carvalho).

O primeiro lance - regravar Um a Um, a música de Edgar Ferreira que foi sucesso na voz de Jackson do Pandeiro - não foi dos mais felizes. Faltou aquela pegada nordestina. Mas, à medida que o CD avança pelo meio de campo, o jogo e a voz de Lima crescem. Sua divisão em Geraldinos e Arquibaldos - o samba de Gonzaguinha, turbinado com a guitarra elétrica do produtor do CD, André Agra - é show de bola. Bom lance também foi convocar Zezé Motta para entrar em campo em O Que É... O Que É... - uma música de Moraes Moreira que tinha caído no esquecimento. Chutes certeiros foram também as inclusões de dois sambões que habitam o inconsciente coletivo das torcidas: Camisa 10 (parceria de Hélio Matheus e Luis Wagner que cita Zagallo e exibe a única letra mais datada do disco) e O Campeão (samba de Neguinho da Beija-Flor, regravado com a adesão do autor). Em contrapartida, Lima bate na trave em Aqui É o País do Futebol, o tema de Milton Nascimento e Fernando Brant que já ganhou belas gravações de Elis Regina e do próprio Milton. No todo, Um a Zero para Pedro Lima - como diz o título do choro de Pixinguinha e Benedito Lacerda, letrado por Nelson Ângelo. O esperto cantor carioca marcou um gol com o seu terceiro CD solo.

Margareth ingressa na MZA para regravar MPB

Margareth Menezes (foto) é a nova contratada da gravadora indie MZA Music, dirigida por Marco Mazzola. A cantora vai estrear efetivamente na nova casa em 2008. Os dois últimos álbuns da artista - Pra Você (uma mal-sucedida tentativa de dissociar a cantora baiana da axé music e trazê-la para o mundo pop) e Brasileira - Homenagem ao Samba-Reggae (registro ao vivo editado em CD e em DVD) - saíram com o selo da EMI Music. A idéia da MZA é fazer um projeto acústico ainda este ano, com regravações de sucessos da MPB, sem links com o axé...

Latino poderá gravar acústico na MTV em 2008

Latino poderá sentar no banquinho da MTV em 2008. A diretoria da Universal Music negocia com a emissora a gravação de um Acústico MTV do cantor. Alheio à negociação, Latino (à direita em foto de Marcos Hermes) pretende gravar por conta própria DVD baseado no repertório de seu último CD, Sem Noção, que foi distribuído pela Universal em meados do ano. Aliás, o artista cogita a possibilidade de filmar o DVD em show no réveillon do Rio de Janeiro. Latino corre atrás de autorização para a gravação.

Caetano leva Grammy que quase ignora o Brasil

A ausência de seis dos oito brasileiros vencedores nas categorias exclusivamente nacionais da 8ª edição do Grammy Latino - cuja premiação aconteceu em cerimônia realizada em Las Vegas (EUA) na noite de quinta-feira, 8 de outubro - sinaliza a importância bem relativa que o Grammy Latino tem para a classe artística musical brasileira. "Queremos participar da festa principal", reivindicou Daniela Mercury ao receber o troféu de Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras pelo CD Balé Mulato ao Vivo. Daniela e a cantora evangélica Aline Barros foram os dois únicos artistas brasileiros que foram receber seus troféus em Las Vegas.

Em premiação bem burocrática que consagrou previsivelmente Juan Luis Guerra, contemplado com seis troféus por conta de seu CD La Llave de mi Corazon, as vitórias de Caetano Veloso e do maestro John Neschling impediram que o Brasil fosse totalmente ignorado nas 41 categorias principais. Com o CD , o baiano foi o grande vencedor na categoria Melhor Álbum Cantor Compositor. Neschling faturou o Grammy de Melhor Álbum de Música Clássica com Beethoven Abertura Consagração da Casa Sinfonia Nº 6, da Osesp. No todo, a música do Brasil continuou à margem numa festa concebida para valorizar a música dos países de língua espanhola que, em escala mundial, dominam o (rico) mercado de música latina. Eis os principais vencedores do 8º Grammy Latino:


Categorias Gerais
* Gravação do Ano - La Llave de mi Corazon (Juan Luis Guerra)
* Álbum do Ano - La Lllave de mi Corazon (Juan Luis Guerra)
* Canção do Ano - La Llave de mi Corazon (Juan Luis Guerra)
* Melhor Álbum Pop Vocal Masculino - MTV Unplugged Ricky Martin (Ricky Martin)
* Melhor Álbum Pop Vocal Feminino - Yo Canto (Laura Pausini)
* Revelação - Jesse & Joy
* Melhor Álbum de Rock Vocal Solo - El Mundo Cabe en una Canción (Fito Paez)
* Melhor Álbum de Cantor Compositor - Cê (Caetano Veloso)
* Melhor Álbum de Merengue - La Llave de mi Corazon (Juan Luis Guerra)
* Melhor Canção Tropical - La Llave de mi Corazon (Juan Luis Guerra)
* Melhor Canção Alternativa - Me Llaman Calle (Manu Chao)
* Melhor Álbum de Música Alternativa - Oye (Aterciopelados)
* Melhor Álbum de Música Urbana - Residente o Visitante (Calle 13)
* Melhor Álbum Instrumental - The Enchantment (Chick Corea & Belá Fleck)
* Melhor Álbum em Engenharia de Gravação - La Llave de mi Corazon (Juan Luis Guerra)
* Melhor Videoclipe - Ven a mi Casa Esta Navidad - Voz Veis (Direção: Luis Miguel Leal)
* Melhor DVD - MTV Unplugged Ricky Martin (Direção: Manny Rodriguez)
* Produtor do Ano - Sebastian Krys

Categorias Brasileiras
* Melhor Álbum de Música Cristã em Língua Portuguesa - Caminho de Milagres (Aline Barros)
* Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro - Lenine Acústico MTV (Lenine)
* Melhor Álbum de Rock Brasileiro - Lobão Acústico MTV (Lobão)
* Melhor Álbum de Samba / Pagode - Zeca Pagodinho Acústico MTV 2 Gafieira (Zeca Pagodinho)
* Melhor Álbum de Música Popular Brasileira - Ao Vivo (César Camargo Mariano & Leny Andrade)
* Melhor Álbum de Música Romântica - Eternamente Cauby Peixoto 55 Anos de Carreira (Cauby Peixoto)
* Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras - Balé Mulato ao Vivo (Daniela Mercury)
* Melhor Canção Brasileira - Não me Arrependo (Caetano Veloso)

8 de novembro de 2007

Coletânea relaciona 20 'números 1' de Wonder

Stevie Wonder já não freqüenta as paradas, mas pôs muitas músicas no topo delas. A (boa) coletânea Number Ones, editada no Brasil esta semana pela major Universal Music, relaciona 20 gravações do artista que galgaram os primeiros lugares das listas - nem que sejam as paradas específicas de soul e de r & b. Eis a seleção, que abrange o (áureo) período 1965 - 1985, com exceção de fonograma de 2006:

1. Fingertips Pt. 2 (1965)
2. Uptight (Everything's Alright) (1965)
3. Blowin' in the Wind (1965)
4. I Was Made to Love Her (1967)
5. Signed, Sealed, Delivered I'm Yours (1970)
6. Superstition (1972)
7. You Are the Sunshine of my Life (1972)
8. Higher Ground (1973)
9. Living for the City (1973)
10. You Haven't Done Nothing (1974)
11. I Wish (1976)
12. Sir Duke (1976)
13. Master Blaster (Jammin') (1980)
14. That Girl (1982)
15. Ebony and Evory - com Paul McCartney (1982)
16. I Just Called to Say I Love You (1984)
17. That's What Friends Are for - com Dionne Warwick, Elton John e Gladys Knight (1985)
18. Part-Time Lover (1985)
19. Overjoyed (1985)
20. So What the Fuss (2006)

Dá para sentir que MC Leozinho quer ser pop...

Resenha de CD
Título: Sente a Pegada
Artista: MC Leozinho
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * 1/2

MC Leozinho teve lá os seus 15 minutos de fama em 2006 fora do circuito dos movimentados bailes da pesada - com direito a um duo com Roberto Carlos no especial natalino do cantor. Tudo por conta de Ela Só Pensa em Beijar, hit do primeiro CD do funkeiro. No segundo disco, Sente a Pegada, (bem) produzido por Leozinho de forma independente e distribuído pela EMI, o MC tenta prolongar esses 15 minutos com um batidão palatável. Até o Negro Gato da Jovem Guarda perde sua tinta original e entra no tom funk pop do álbum. Há um clima de Rio ensolarado em Solta o Batidão que remete a alguns hits de Claudinho & Buchecha. Não é por acaso que um dos sucessos da dupla, Quero te Encontrar, ganha releitura de Leozinho turbinada com rap de Ben Lammar e a voz do próprio Buchecha. Já na faixa-título, um cavaco aproxima o funk do pagode mais populista. E, fechando a tampa, Leozinho transpõe Taj Mahal - o tema sempre irresistível do Jorge Ben - para o batidão dos bailes cariocas. Mas a pegada jamais soa tão incendiária quanto a do próprio Ben Jor. No todo, o CD deixa a impressão de que MC Leozinho só pensa em emplacar um novo sucesso que extrapole o universo do funk. Vai ser difícil. Nem as cordas que introduzem Sexta-Feira e tampouco o fato de Negro Gato estar miando forte na trilha da novela Duas Caras parecem suficientes para tirar o MC de seu habitat natural.

Ione Papas se equilibra na linha indie do samba

Resenha de CD
Título: Na Linha
do Samba
Artista: Ione Papas
Gravadora: Dabliú Discos
Cotação: * * * *

Várias linhas cruzam o (vasto) emaranhado do samba. Ione Papas se equilibra (bem) em linha mais indie neste segundo álbum - o primeiro desde Noel por Ione (2000). Projetada nos bares de Salvador (BA), a cantora baiana traça interessante painel da produção de um samba que nunca se pauta pela obviedade. "O samba é o som", prega Ione Papas em verso de O Samba É Bom, do baiano Péri. A propósito, Ione canta seus conterrâneos longe dos numerosos clichês que identificam o samba da Bahia. Se as águas do Recôncavo banham Infinita Beleza, de Doda Macedo, o folião Pérolas do Carnaval, de Mário Leite, está mais para bloco carioca do que para trio elétrico. Assim como Vestido de Malha, de Tuzé de Abreu, parece evocar os Carnavais de outros tempos. Ainda no time baiano, há um Batatinha clássico (Foguete Particular) e um Tito Bahiense irônico em O Enterro do Samba. Ironia (fina...) que Ione sublinha com citação de Não Deixe o Samba Morrer, sucesso inicial de Alcione. E a segura cantora não morre na praia carioca. Pesca um Oswaldo Pereira à moda de Noel Rosa (As Árvores, bela faixa-título do segundo CD do compositor) e apresenta um Moacyr Luz inédito e quase inspirado (Saudades de Quem te Ama). Tudo valorizado por uma concepção elegante, idealizada pela artista e bem resolvida pelo produtor Alexandre Fontanetti. Nada é óbvio. Tanto que até a evocação do universo do hip hop feita no Samba Rap que aparece no fim do disco - aberto e encerrado com Som Sagrado, de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro - soa mais como um comentário espirituoso do que opção estética. A linha direta de Ione Papas com o samba indie prescinde do cruzamento com ritmos contemporâneos para soar moderna. Já é atemporal.

'Agenda do Músico 2008' sai com quatro capas

Já está nas livrarias a Agenda do Músico 2008, uma excelente idéia da... Idéia Pop Editora. Trata-se de agenda incrementada com cifras e (cerca de) 250 citações com frases e curiosidades sobre compositores, cantores, músicos e bandas. De quebra, há uma lista de telefones e de endereços virtuais de gravadoras, editoras musicais e de instituições ligadas ao universo dos acordes. Idealizada pelo músico Maurício Gaetani, a agenda chega ao mercado com quatro modelos de capas: Clássica (acima à direita), Jazz, MPB e Pop-Rock. Fica a dica de presente de fim-de-ano aos interessados.

7 de novembro de 2007

'Dylan' compila Bob em edições simples e tripla

Dylan - a compilação de Bob Dylan que a Sony BMG lança no mercado brasileiro neste mês de novembro - teve o seu repertório selecionado pelos fãs do compositor de Like a Rolling Stone. A coletânea vai chegar ao Brasil numa edição simples, com 18 faixas, porém pode ser encontrada também em luxuosa edição tripla que reúne 51 gravações e libreto de 40 páginas. Eis o repertório dessa edição tripla (as músicas assinaladas com * estão no CD simples):

CD 1
1. Song to Woody
2. Blowin' in the Wind *
3. Masters of War

4. Don't Think Twice, It's All Right
5. A Hard Rain's A-Gonna Fall
6. The Times They Are A-Changin' *
7. All I Realy Want to Do

8. My Back Pages
9. It Ain't me, Babe
10. Subterranean Homesick Blues *
11. Mr. Tambourine Man *
12. Maggie's Farm *
13. Like a Rolling Stone *
14. It's All Over Now, Baby Blue
15. Positively 4th Street *
16. Rainy Day Women #12 & 35 *
17. Just Like a Woman *
18. Most Likely You Go Your Way (And I'll Go Mine)
19. All Along the Watchtower *

CD 2
1. You Ain't Goin' Nowhere
2. Lay, Lady, Lay *
3. If Not for You
4. I Shall Be Released
5. Knockin' on Heaven's Door *
6. On a Night Like This
7. Forever Young *
8. Tangled up in Blue *
9. Simple Twist of Fate
10. Hurricane *
11. Changing of the Guards
12. Gotta Serve Somebody
13. Precious Angel
14. The Groom's Still Waiting at the Altar
15. Jokerman
16. Dark Eyes

CD 3
1. Blind Willie McTell
2. Brownsville Girl
3. Silvio
4. Ring Them Bells
5. Dignity
6. Everything Is Broken
7. Under the Red Sky
8. You're Gonna Quit me
9. Blood in my Eyes
10. Not Dark Yet
11. Things Have Changed *
12. Make You Feel my Love *
13. High Water (For Charley Patton)
14. Po' Boy
15. Someday Baby *
16. When the Deal Goes Down

Diogo quebra expectativa ao se espelhar no pai

Resenha de CD e DVD
Título: Diogo Nogueira ao Vivo
Artista: Diogo Nogueira
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * 1/2

Aos 26 anos, Diogo Nogueira estréia no mercado fonográfico com uma precoce gravação ao vivo. É natural que o rapaz se espelhe no pai, João Nogueira (1941 - 2000). Mas o reflexo da figura de João parece ter sido ardilosamente pensado para alavancar a carreira de Diogo. Nada menos do que sete das 20 músicas do DVD (são 14 no CD) são da lavra nobre de João. Se o dueto virtual em Espelho emociona, pela maestria da letra sob medida para unir gerações e pela emoção que transparece nos olhos de Diogo, a desnecessária inclusão de sucessos do saudoso compositor - como Batendo a Porta - soa como mero oportunismo. Ainda que Nó na Madeira traga o rap de Marcelo D2, bisando a boa intervenção iniciada em outro samba de João, Do Jeito que o Rei Mandou. De todo jeito, Diogo parece um clone do pai - e não um artista com luz própria.

Como mostra na abertura, feita com a trilogia Minha Missão / O Poder da Criação / Súplica, Diogo divide parecido com o pai (um grande mestre na divisão) e não canta mal - embora nunca brilhe realmente como intérprete. Se ainda lhe falta chão para encarar tema mais sinuoso como Violão Vadio, número enobrecido pelo violão de Marcel Powell, Diogo Nogueira já parece mais à vontade na apresentação de sambas de sua própria lavra. O rapaz entoa os versos dolentes de Laço Desfeito com a mesma desenvoltura com que relaciona nomes de bambas como Candeia na letra de Samba pros Poetas, número de tom calangueado, trunfo da safra inédita.

Fora da lavra própria, Diogo se aproxima muito perigosamente do pagode mais sintetizado em Fé em Deus. Em contrapartida, o belo rapaz segura a peteca no ótimo dueto feito com Xande de Pilares na contagiante Cai no Samba. "Eu sou a semente mais pura que papai plantou", sentencia, ao cantar um verso do mediano samba Do Jeito que Sou. É essa fixação - tão natural quanto forçada - na figura ilustre de seu pai que pode atrapalhar a caminhada de Diogo Nogueira na estrada do samba. Sua precoce gravação ao vivo não justifica a expectativa depositada em seu jovem promissor nome.

DVD documenta o legado da modinha em Goiás

Gênero que influiu na formação da canção brasileira, na virada do século 19 para o 20, a modinha ainda resiste em Goiás e serve de referência para a criação de compositores da região. Essa é a original idéia defendida pelo documentário Modinhas de Goiás, que foi dirigido por Juliana Saenger e por Roberto Corrêa a partir de estudo feito por Corrêa - um violeiro e pesquisador - sobre o tema. Curta-metragem de 30 minutos, o filme está sendo editado em DVD dirigido a escolas, instituições culturais e profissionais da música. Cantores e compositores locais participam da produção.

Flávio homenageia Musselwhite em CD ao vivo

Gaitista projetado há 20 anos no grupo Blues Etílicos, Flávio Guimarães apresenta o quinto disco solo - o primeiro ao vivo - pelo selo Delira Blues, braço da gravadora Delira Música. O álbum é tributo ao bluesman Charlie Musselwhite, a quem Flávio acompanhou em 2006 em longa turnê pelo Brasil. O próprio homenageado canta e toca violão na faixa Darkest Hour. Eis as 12 faixas do CD Vivo, editado com tiragem de mil cópias:

1. Wild Wild Woman (Johnny Young)
2. River Hip Mama (Charlie Musselwhite e Jones)
3. Just your Fool (Walter Jacobs)
4. Last Night (Walter Jacobs)
5. Bad Boy (Eddie Taylor)
6. Big Boss Man (Al Smith e Willie Dixon)
7. Bright Lights Big City (Jimmy Reed)
8. It Ain't Right (Walter Jacobs)
9. If I Should Have Bad Luck (Charlie Musselwhite)
10. Blue Stu (Robben Ford)
11. Darkest Hour (Charlie Musselwhite) - com Charlie Musselwhite
12. Madcat's Groove (Flávio Guimarães e Peter Madcat Ruth) - com Peter Madcat

6 de novembro de 2007

Disco de Bethânia e Omara poderá render show

O disco gravado por Maria Bethânia com a cantora cubana Omara Portuondo no Rio de Janeiro, em janeiro deste ano, poderá ter seu lançamento - programado para 2008 pela Biscoito Fino - badalado por show novo, dividido pelas duas intérpretes. Tudo depende da harmonização das agendas das cantoras, mas há mobilização para viabilizá-lo. No CD, gravado com sigilo total, Bethânia (em foto de Beti Niemeyer) e Omara entoam músicas antigas do Brasil e Cuba.

Com bossa, Emílio lança CD à altura de sua voz

Resenha de CD
Título: De um Jeito
Diferente
Artista: Emílio Santiago
Gravadora: Indie Records
Cotação: * * * * 1/2

Emílio Santiago sempre foi um dos maiores cantores do país das cantoras. Mas nem sempre foi reconhecido como tal por conta de discografia que teve sua irregularidade acentuada com a série de CDs Aquarela Brasileira, projeto de covers que elevou as vendas do artista na mesma medida em que diluiu seu status no mercado. Sorte é que, vez por outra, Emílio lança disco à altura de sua voz aveludada, de afinação e de emissão impecáveis. Foi assim em 1995 com Perdido de Amor - lindo tributo ao repertório de Dick Farney (1921 - 1987) - e em 2000 com Bossa Nova, álbum em que se refugiou nos standards do gênero que batizou o disco. É assim em 2007 com este disco sintomaticamente intitulado De um Jeito Diferente, nome da parceria inédita de João Donato e Lysias Ênio que abre um repertório chique que vai soar como novo, pois foi (parcialmente) extraído de pouco ouvidos discos de Mart'nália (Minha Cara, de 1995) e de Marcos Valle (Contrasts, de 2003).

Escorado na produção eficiente do guitarrista Ricardo Silveira, o cantor aborda em tom cool repertório arranjado com balanço que evoca tanto a suavidade da Bossa Nova como o suingue do samba-jazz dos anos 60. Água de Coco - turbinada com um piano Rhodes tocado pelo autor Marcos Valle - é um exemplo da leveza suingada que molda o canto de Emílio no CD, seja entoando sedutoramente música de Rosa Passos (Desilusión), clássico da canção americana (My Foolish Heart) ou standard de Tom Jobim (Dindi, em uma de suas mais belas gravações). Até Nana Caymmi dosou a intensidade de seu canto para entrar no clima suave do disco e fazer comedido dueto com Emílio em Olhos Negros, a balada de Johnny Alf. Já o encontro com Mart'nália em Não me Balança Mais, um tema da própria cantora, é pautado mais por um suingue exibido também nas outras duas músicas da compositora (Contradição e Calma).

Entre as músicas (realmente) inéditas, o destaque absoluto é Um Dia Desses - a parceria de Carlinhos Brown com João Donato que banha a Bahia de Brown com a latinidade característica da música de Donato. Uma delícia! Mesmo inspirada (levando-se em conta o honroso histórico dos autores), mas também interessante, é Até o Fim, primeira histórica parceria de Carlos Lyra com Marcos Valle.

Depois de excelente fase inicial, em que gravou discos de MPB que pouco ou nada venderam, Emílio Santiago cederia às pressões do mercado. Upgrade em sua discografia, De um Jeito Diferente é, de certa forma, uma volta às suas origens. Ainda que em outro tempo e em outra bossa. Trata-se de álbum sofisticado que realça e dignifica o canto límpido de Emílio Santiago. E que assim seja!...

Fundo colhe frutos antigos em seu bom quintal

Resenha de CD / DVD
Título: O Quintal do Samba
Artista: Fundo de Quintal
Gravadora: LGK Music / EMI Music
Cotação: * * *

O melhor quintal do samba carioca deu poucos frutos em 2007. Após excelente disco de inéditas (Pela Hora, 2006), o Fundo de Quintal voltou a se refugiar à sombra das regravações ao vivo, por exigências mercadológicas. Editado em CD e em DVD, com o registro do show feito pelo grupo em 25 de agosto no Canecão (RJ), o Quintal do Samba tem baixo teor de novidade. Mesmo os dois ótimos sambas que serão tidos como inéditos - Boca Miúda e Não Sou de Caô - já foram, a rigor, gravados por Jorginho China em disco de 2005 (China é sambista de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, fundador do grupo Pirraça). No mais, há passeio até certo ponto óbvio por sambas de Candeia (Testamento de Partideiro), Paulinho da Viola (Coração Leviano, No Pagode do Vavá, Devagar Miudinho), Dona Ivone Lara (Tiê), Martinho da Vila (Ex-Amor) - com direito, no final, à paradas nas estações da Bahia e de São Paulo. Enfim, O Quintal do Samba é quase projeto de covers, disfarçado pelo roteiro (razoavelmente) amarrado de Túlio Feliciano, diretor do show. Funciona? Sim, até funciona porque o Fundo ainda exibe a melhor cozinha do samba e porque a gravação é calorosa. O grupo comandou o público na palma da mão. Quase literalmente. E ainda tem a reunião de Zeca Pagodinho e Almir Guineto no partido Mole que nem Manteiga. Mesmo em período de entressafra, os velhos frutos do quintal do samba ainda não perderam o sabor. Apesar do mofo do mercado.

Radiohead vai pôr In Rainbows nas lojas via XL

(Menos de) um mês depois de disponibilizar seu sétimo CD, In Rainbows, para inovador download de preço decidido pelo consumidor, o quinteto britânico Radiohead anunciou parceria com a XL Recordings - a gravadora que lançou The Eraser, disco solo de Thom Yorke, o vocalista da banda - para viabilizar a edição física convencional do álbum, oferecido na rede desde 10 de outubro. Ainda não há previsão para a chegada de In Rainbows nas lojas.

5 de novembro de 2007

Beth se renova ao pisar firme no terreiro baiano

Resenha de CD e DVD
Título: Beth Carvalho Canta o
Samba da Bahia ao Vivo
Artista: Beth Carvalho
Gravadora: Andança / EMI Music
Cotação: * * * *

Referência de boa qualidade no samba carioca, Beth Carvalho pegou a ponte aérea em 1993 para gravar a produção dos bambas de São Paulo. Editado pela Velas, o disco Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo sepultou a frase infeliz de Vinicius de Moraes de que Sampa era o túmulo do samba. Treze anos depois, em agosto de 2006, a artista saiu novamente de seu quintal e foi à Bahia - em tese, o berço do samba - para gravar a produção de compositores baianos em dois shows restrito a convidados. Lançados neste início de novembro, o CD e o DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia ao Vivo renovam o repertório da artista, que vinha degastando sua discografia nos últimos anos com redundantes registros de shows.

Para cantar com ela a maioria das 34 músicas, dispostas no DVD em 30 faixas (o CD reúne 22 músicas em 18 faixas), a intérprete arregimentou estelar time de convidados que abrange cantores (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Danilo Caymmi, Carlinhos Brown), bons compositores de atuação normalmente confinada aos bastidores (Roberto Mendes, Edil Pacheco, Riachão, Nelson Rufino, Walter Queiroz) e o baticum do Olodum, que dá suingue peculiar a dois sucessos mais contemporâneos, Verdade e Samba pras Moças, popularizados no toque informal de Zeca Pagodinho.

A direção do vídeo - a cargo de Lula Buarque de Holanda - nunca justifica a grife hype da Conspiração Filmes. A única contribuição menos trivial do diretor foi entremear os números com imagens em sépia da velha Bahia. Imagens à parte, Beth seduz ao cantar o samba da Bahia. Não tanto quando reverencia Dorival Caymmi (O Samba da Minha Terra, João Valentão e Maracangalha), mas - sobretudo - quando ela recebe emblemáticas cantoras da terra do compositor de Oração de Mãe Menininha, que encerra o show no clima religioso que, afinal, permeia boa parte do samba da Bahia. Daniela Mercury mostra ótima divisão em Chiclete com Banana (Gordurinha e Almira Castilho, 1959). Dona de iluminada presença cênica, Ivete Sangalo exibe bom samba no pé e o habitual carisma, dividindo Brasil Pandeiro (Assis Valente, 1941) com a anfitriã. Já Margareth Menezes não exibe toda sua força em Dindinha Lua e em Filho da Bahia. Neste samba, Beth jamais consegue reeditar a levada contagiante da gravação que projetou nacionalmente Fafá de Belém em 1975. Na seara de Fafá, Beth se sai melhor em Siriê, revivida com o autor Edil Pacheco. Por sua vez, Mariene de Castro se revela graciosa em Raiz, sublime parceria de Roberto Mendes com Jota Velloso que Gal Costa lançou em 1992 e que a própria Mariene já regravara em seu belo primeiro CD, Abre Caminho.

Nem tudo é samba da Bahia. A inclusão de Desde que o Samba É Samba se justifica somente pela autoria ilustre de Caetano Veloso - a despeito de toda a beleza do samba e da presença de Caetano, que une vozes com a anfitriã e com a mana Maria Bethânia - esta com a habitual imponência - em De Manhã, samba de Caetano que Bethânia gravou em 1965. É um número de alto valor histórico. Mas Beth acerta sobretudo quando evoca as tradições do samba de roda ao lado de Gilberto Gil, das baianas do Gantois e do Grupo Nicinha de Samba de Roda. A animada turma revive nove temas tradicionais do gênero que é a grande matriz do samba da Bahia. Com desenvoltura, Gil também participa de Mancada, o samba de seu primeiro álbum (Louvação, 1967) que Beth revive numa das melhores surpresas do repertório - a rigor, muito mais calcado em sucessos do que em temas que definem o caráter do samba baiano.

A presença de compositores clássicos como Riachão - elétrico em Cada Macaco no seu Galho e em Vá Morar com o Diabo - legitima a incursão de Beth Carvalho pelo samba baiano. Fica claro no DVD que as estrelas da terra recebem a artista carioca com verdadeira hospitalidade. A admiração genuína pela obra de Beth transparece nos depoimentos do making of. Já o documentário Quero Ver as Cadeiras Bulir careceu de roteiro mais bem amarrado. Há cenas e depoimentos que procuram explicar a gênese (e as tradições) do samba de roda, mas fica a sensação de que o material colhido não foi aproveitado da melhor maneira possível. Talvez tenha faltado uma narração que costurasse os depoimentos. Ou um fio condutor que tivesse ordenado as cenas de forma mais clara. Ainda assim, o filme valoriza a pisada firme de Beth Carvalho no terreiro baiano.

Solo, Siouxsie monta seu cabaré em 'Mantaray'

Resenha de CD
Título: Mantaray
Artista: Siouxsie
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Aos 50 anos, Siouxsie Sioux - a eterna musa do punk gótico - não perde o bom da história em seu primeiro CD solo. Foi-se a banda The Banshees, mas ficaram a bela voz e a criatividade da cantora. Escorada na antenada produção de Steve Evans e Charlie Jones, que não deixaram a diva soar datada, Siouxsie flerta com o indie rock (em Into a Swan e em About to Happen) e monta seu cabaré ao longo das dez músicas do álbum, apresentadas em pouco mais de 41 minutos. O clima de cabaré aparece sobretudo nas músicas Here Comes That Day e em If It Doesn't Kill You, porém Siouxsie extrapola rótulos em seu bom solo. Sea of Tranquility e Heaven and Alchemy - aliás, belo fecho para o álbum - são composições impregnadas de uma estranheza bela e justificam a audição do CD Mantaray. Siouxsie há muitos anos não soava tão interessante.

Leci canta no segundo disco solo de Sapucahy

Leci Brandão faz participação especial no segundo CD de Leandro Sapucahy (foto) - inicialmente intitulado Morro de Amor pelo Samba. Leci pôs sua voz em samba de Arlindo Cruz. Sapucahy grava músicas de Almir Guineto e de seu amigo Serginho Meriti, o autor das faixas Mano Guta e Fui Bandido. A major Warner Music cogitou a possibilidade de editar o segundo disco de Sapucahy ainda em 2007 - no embalo da projeção alcançada pelo artista como produtor do terceiro CD de Maria Rita, Samba Meu - mas o lançamento deverá ser em 2008. O primeiro álbum de Sapucahy, Cotidiano, foi editado em 2006.

Victor & Leo são aposta sertaneja da Sony BMG

Dupla nova formada por dois irmãos das Geraes, nascidos em Ponte Nova (MG), Victor & Leo são a nova aposta sertaneja da Sony BMG - gravadora que já tem em seu elenco as duplas Zezé Di Camargo & Luciano e Bruno & Marrone. Depois de reeditar o terceiro CD de Victor & Leo, gravado ao vivo e lançado de maneira independente, a major já põe nas lojas mais um registro de show da dupla, hoje já radicada em São Paulo (SP). Ao Vivo em Uberlândia sai simultaneamente nos formatos de CD e DVD (o primeiro de Victor & Leo). O tom caloroso da gravação - na qual a dupla apresenta três inéditas de Victor (Fotos, Tem que Ser Você e Sem Você) - sinaliza que a fila está andando no mundo sertanejo.

4 de novembro de 2007

Caldato põe ordem na Nação em 'Fome de Tudo'

Resenha de CD
Título: Fome de Tudo
Artista: Nação Zumbi
Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * *

Fez dez anos em fevereiro que a Nação Zumbi perdeu o seu líder e mentor Chico Science (1966 - 1997) em acidente de carro. Contra todos os prognósticos pessimistas, a Nação não se desarticulou sem Science e atravessou bem a década. Fome de Tudo - o oitavo álbum da banda (incluindo um registro ao vivo, Propagando, também editado em CD), o quinto sem Science e o primeiro na Deckdisc - mantém o grupo bem na foto da cena pop.

Coube a Mario Caldato Jr. - produtor que tem no currículo discos de Marisa Monte, Beastie Boys, Marcelo D2 e Jack Johnson, entre outros nomes - pilotar o CD e organizar as múltiplas referências da Nação sem diluir a força percussiva da banda. E Caldato deu conta do recado, corrigindo erro cometido pelo grupo no anterior CD de estúdio, Futura (2005), em que os tambores de Pupillo, Gilmar Bola 8 e Toca Ogam foram soterrados por guitarras e (excessivos) efeitos psicodélicos. Em Fome de Tudo, os tambores não voltam a ficar em primeiríssimo plano como nos álbuns iniciais da Nação. Contudo, há maior equilíbrio entre guitarras, percussão e aditivos eletrônicos, como já sinalizara Bossa Nostra, boa música que abre o álbum e que foi eleita o primeiro single. Nem todas as outras 11 inéditas estão no mesmo nível. Falta melodia e falta brilho à voz de Jorge Du Peixe. No entanto, no caso da Nação Zumbi, letras e melodias parecem ser mero veículos para a confecção de climas, grooves e levadas. Estas ainda sustentam o som da Nação Zumbi.

A intenção parece ter sido fazer álbum mais claro e mais palatável. Quase pop. Sem abrir mão das referências plurais do grupo. Tanto que o trabalho concilia os metais de Ademir Araújo - o maestro da Orquestra Popular de Recife assina o arranjo de Nascedouro - com o clavinete de Money Mark, tecladista do Beastie Boys, convidado da faixa Assustado. O disco conta ainda com os (discretos) vocais de Céu em Inferno e com a adesão de Junio Barreto - o compositor pernambucano que alcançou (alguma) projeção em 2005 quando Gal Costa e Maria Rita disputaram sua música Santana - em Toda Surdez Será Castigada, faixa de textura psicodélica. Mesmo há dez anos sem Chico Science, a Nação Zumbi continua com seu apetite aberto, disposta a digerir novos sons e tendências. Embora já não mantenha a aura revolucionária dos anos 90, quando conectou os ritmos de sua terra ao bit dos computadores e criou o movimento nacionalmente conhecido como Mangue Beat. E isso já é História.

CD revive o romantismo de Claudette na Odeon

Projetada já nos anos 50 como a Princesinha do Baião, Claudette Soares transitou pela Bossa Nova na década de 60. Mas ao chegar à gravadora Odeon em 1973, pelas mãos de Dick Farney, a cantora já priorizava músicas românticas em seu repertório. É esta fase de Claudette que a coletânea Você - editada pela EMI neste mês de novembro - recupera através de 14 gravações selecionadas pelo pesquisador Thiago Marques Luiz. Detalhe: a compilação tomou emprestado o título Você do primeiro dos cinco álbuns lançados pela artista na Odeon entre 1974 e 1978. A música-título, aliás, é canção de Roberto e Erasmo Carlos. Eis o repertório da coletânea:

1. Você (Roberto e Erasmo Carlos) - 1974
2. Fraqueza (César Costa Filho e Paulo César Pinheiro) - 1974
3. Seu Carinho (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Barros) - 1974
4. Vê (Antônio Adolfo) - 1975
5. O Tempo (Reginaldo Bessa) - 1975
6. Preciso Aprender a Só Ser (Gilberto Gil) - 1974
7. Adeus Maria Fulô (Sivuca e Humberto Teixeira) - 1974
8. Eles Querem Amar (Jorge Ben) - 1975
9. Beijo Sideral (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) - 1975
10. Corpo e Alma (Francis Hime e Ruy Guerra) - 1975
11. Meiga Presença (Paulo Valdez e Otávio) - 1975
12. Vestido de Bolero (Dorival Caymmi) - 1974
13. Sonho e Saudade (Tito Madi) - 1976
14. Você (com Dick Farney)

Selo de Baleiro reedita último disco de Sampaio

Zeca Baleiro continua a recuperar a rara obra de Sérgio Sampaio (1947 - 1994). Depois de inaugurar seu selo Saravá Discos em março de 2006 com a edição de Cruel, o disco que Sampaio gravou em 1994 mas não chegou a lançar, Baleiro vai reeditar no início de 2008 o último dos três LPs do compositor do hit Eu Quero Botar meu Bloco na Rua. Sinceramente (capa à direita) foi lançado de forma independente em 1982, quando o compositor já sofria com o rótulo de maldito. Inédito em CD, o belo álbum foi remasterizado por Baleiro para a primeira e bem-vinda reedição. Eis as 11 músicas de Sinceramente, todas assinadas apenas por Sampaio (a exceção é Cabra-Cega, parceria com Sérgio Natureza):

1. Homem de Trinta
2. Na Captura
3. Tolo Fui Eu
4. Só para o seu Coração
5. Essa Tal de Mentira
6. Meu Filho, Minha Filha
7. Cabra-Cega
8. Sinceramente
9. Nem Assim
10. Doce Melodia
11. Faixa Seis

Antes de editar Sinceramente em CD, Baleiro lança por seu selo - ainda em novembro - Balançou no Congá, tributo ao falecido compositor maranhense Lopes Bogéa, produzido por Zeca Baleiro com as participações de Alcione, Beth Carvalho, Genival Lacerda e Rita Ribeiro, entre outros. Bogéa era sambista e morreu em 2004.

Max Sette oferece 'Párabolas ao Vento' na rede

Integrante da vasta Orquestra Imperial, o cantor, compositor e trompetista Max Sette optou por disponibilizar seu primeiro disco individual - Parábolas ao Vento - para download no seu site oficial. Tudo de graça. Gravado entre 2003 e 2004, com a produção de Sette e de Rubinho Jacobina, o CD teve a ótima música-título composta por Jorge Mautner e Nelson Jacobina para o cantor. E os autores participam da faixa. O repertório inclui a releitura de Panorama Ecológico - belo tema de Roberto e Erasmo Carlos, lançado pelo Tremendão em 1978 - porém é basicamente da lavra de Sette. O artista assina músicas como Gomalina, Fazer Neném e Vacilow. http://www.maxsette.com.br/ é o endereço da página do artista, mas o cover do sucesso de Erasmo Carlos não foi disponibilizado.