5 de janeiro de 2007

Show de Chico reedita o refinamento do disco

Resenha de show
Título:
Carioca
Artista:
Chico Buarque
Local:
Canecão (RJ)
Data:
4 de janeiro

de 2007
Cotação:
* * * *

Moldado com o mesmo raro refinamento harmônico do disco que lhe inspirou e lhe deu nome, o show Carioca chegou, enfim, ao Rio. Claro que cercado de marketing e badalação pelo fato de Chico Buarque (à direita em foto de Patrícia Cecatti) não fazer temporada na sua cidade natal desde 1999. O show - a rigor, quase um recital de caráter contemplativo - se apóia na criatividade dos arranjos e na obra monumental do compositor. O roteiro encadeia com primor e poesia temas antigos com as músicas do (irregular) CD Carioca. A voz de Chico, embora afinada e sempre muito bem colocada, já perdeu parte do viço. Contudo, isso é detalhe ínfimo para um compositor que nunca pretendeu se impor como cantor.

Mesmo com alguns números mais cansativos (especialmente Leve e Bolero Blues), o linear show é sedutor. Emoldurado por um belo cenário de Hélio Eichbauer que retrata pontos do Rio em móbiles funcionais, Chico pouco se movimenta em cena. Só que conquista seu público. Em Morena de Angola, o charme está no fato de ele tocar kalimba, instrumento percussivo de madeira, de som similar ao de um chocalho. Em Grande Hotel, quem seduz é o baterista Wilson das Neves, desenvolto ao cantar sua parceria com Chico, que toca tamborim antes de fazer dueto com o músico. Já a valsa Imagina, entoada com o reforço vocal de Bia Paes Leme, não faz jus à beleza da melodia de Tom Jobim, letrada por Chico em 1983. Da mesma forma que o choro-canção Subúrbio passa batido pelo roteiro. Em contrapartida, Outros Sonhos cresce muito no palco.

Sempre que Chico tira da manga ases de seu belo repertório antigo (Mil Perdões, Eu te Amo, Palavra de Mulher, As Vitrines, Futuros Amantes), Carioca atinge os picos de encantamento. E aí já não importa nem a insegurança do artista com uma letra quilométrica como a de Bye Bye Brasil. Chico Buarque é Chico Buarque. Ou seja, um dos maiores compositores do mundo. Mesmo que seu pálido repertório recente não reedite o brilho do passado, não há quem já não tenha se rendido ao artista quando ele ataca no bis com sambas como Deixe a Menina e Quem te Viu, Quem te Vê. E vale ressaltar que o fim lúdico - com a valsa João e Maria - é perfeito anticlímax para um show pautado por intimismo lírico e poético.

15 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Como grande fã de Chico Buarque eu concordo com o Mauro, o Chico já não é o mesmo, a qualidade caiu.
Há algum tempo li um entrevista dele em que ele dizia que já não gostava tanto de musica quanto antigamente, que gostava mais de livros.
Pois é, quem abandona a musica não pode reclamar dela lhe abandonar tambem.

José Henrique

5 de janeiro de 2007 às 02:27  
Anonymous Anônimo said...

Vou me aproveitar do Alceu para saudar o grande CHICO:
"tu vens...eu já escuto os teus sinais..."

5 de janeiro de 2007 às 08:35  
Anonymous Anônimo said...

Pálido repertório recente, Mauro?
Meu amigo, o que não falta neste jovem senhor é hemoglobina. Chico jamais foi anêmico, tampouco pálido.
Espero que o Rio o receba com o mesmo calor e paixão dos paulistas, o que o fez falar no último show da temporada em SPaulo: 'já estou com saudade de vcs.'
Chico Buarque é o nosso baluarte.

5 de janeiro de 2007 às 10:12  
Blogger ................ said...

Oi Mauro,

Descobri seu blog olhando notícias sobre meu livro na internet (Travessia - a vida de Milton Nascimento) e desde então tenho acompanhado. Gostei muito da sua crítica ao meu livro, porque apontou o que achou de negativo com fundamento, sem atirar pedras à toa. E tenho visto que faz isso sempre, suas críticas são muito contundentes, coisa que às vezes falta nesse meio. Tentei encontrar um e-mail seu para enviar essa mensagem, mas, como não consegui, estou postando aqui. Parabéns mais uma vez.

Maria Dolores

5 de janeiro de 2007 às 10:54  
Anonymous Anônimo said...

Zeca

Kalimba tem som similar a um chocalho? Eita!

5 de janeiro de 2007 às 11:52  
Blogger Mauro Ferreira said...

Oi, Maria Dolores, fico feliz que tenha entendido meu ponto de vista. E seja bem-vinda a esta espaço jornalístico e muito musical.

5 de janeiro de 2007 às 15:35  
Anonymous Anônimo said...

Claro que Chico não é mais o mesmo ! Nem Caetano. Nem a música, nem o Brasil ! Os tempos mudam, e quem quer ouvir a Gal cantar Meu nome é Gal, no mesmo tom que ela peitava a guitarra nos anos 80, vai se decepcionar, claro.
Mas pra quem aceita e percebe as mudanças de cada um, cada momento pode ser sempre muito interessante.
Comprei o DVD HOJE ao vivo, da Gal, e nos recados há um de Chico Buarque dizendo e pedindo assim :
Gal , grava minhas músicas !!!!
Não é uma beleza ? rs rs
Esta semana no orkut, li uma frase muito interessante que dizia :
Se Elis Regina estivesse viva, estaria muito chateada em ter que procurar exaustivamente canções para gravar, a altura de sua categoria !
Os tempos mudaram ! Cabe a nós reclamarmos e enviar nossas opiniões para todas as mídias, ou sentar no sofá e assistir o Faustão e o Big Brother 2007.

Edu abc

5 de janeiro de 2007 às 16:09  
Anonymous Anônimo said...

Cheio de inveja , daquelas positivas , do bem ...
Nao assisti o show , To fora do RJ
Que pena . Chiquinho e interessante ate calado !
Amo , amo ...
Primeiro comentario do ano !
Cahto diaz

5 de janeiro de 2007 às 16:31  
Anonymous Anônimo said...

EWmnanuel Andrdae disse

Sobvre Chico>:
Grandee Mauro, vc de tudo Chico é Chico, um dos maores compostrores dom mundo. Em veza de slguns comentariastas atiraem pedras por contas das regravações, devia se aprofundar na outra face do cancioneiro deste artista q

5 de janeiro de 2007 às 17:57  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade disse...

Mauro é isso mesmo: "Chico é Chico, um dos maiores compositores do mundo". O pessoal que gosta de atirar pedras nas mesmas coisas de sempre, devia se afogar na outra face poética do artista, ou seja, aquelas canções que ninguém fala.
Exemplo: "Amando sobre os jornais", que está no disco Mel de Bethânia. É um arraso, não é pra qualquer compositor. Até queria que Chico tirasse essa da cartola em seus shows.

Travessia: Aproveitando a presença de Dolores, queria o e-mail dela se possível, para tentar uma entrevista sobre seu projeto do livro.

emanueljor@bol.com.br

5 de janeiro de 2007 às 18:01  
Anonymous Anônimo said...

Caro Mauro,

Gostaria de saber se você tem notícias se o 13º Dvd lançado posteriormente às 04 caixas da série será vendido separadamente. (Diga-se de passagem uma sacanagem da gravadora com quem as comprou) Eu fui um dos "trouxas" que compraram as 04 caixas e gostaria de ter o dvd "bônus". Te agradeço desde já. Um abraço.
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

5 de janeiro de 2007 às 20:09  
Blogger Mauro Ferreira said...

Marcelo, o 13º DVD é uma colagem de material dos outros 12. Nada traz de inédito.

6 de janeiro de 2007 às 07:04  
Blogger ................ said...

Obrigada, Mauro, pela receptividade. E Emanuel, meu e-mail é maroloproducoes@gmail.com. Estou à disposição para falar com você sobre meu livro.

Maria Dolores

6 de janeiro de 2007 às 12:46  
Anonymous Anônimo said...

rosemberg

não assisti ao show, mas adoro o chico.
ja postei isso antes, mas torno a repetir, acho que a obra de chico buarque de holanda deveria ser matéria obrigatória nas salas de aula de todo o brasil.
ele é um gênio e orgulha esse pais.

memoria_pele@hotmail.com

6 de janeiro de 2007 às 18:21  
Anonymous Anônimo said...

O evento foi tão badalado que até Oscar Niemeyer compareceu .
Queria ter ido ao show , mas ...
Como disse o Mauro , Chico é Chico ( tal Roberto Carlos ) as emoções são as mesmas . Ótimas por sinal !

7 de janeiro de 2007 às 05:05  

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