11 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - À meia-voz, Marina voltou inteira

Em 2006, Marina Lima fez - enfim - um registro à meia-voz que foi bem recebido por crítica e por (parte do) público. Estreado em São Paulo em fins de 2005, no Auditório Ibirapuera, com refinada atmosfera teatral concebida pela diretora Monique Gardenberg, o show Primórdios gerou bom disco de estúdio - Lá nos Primórdios, gravado no início do ano por Marina de maneira independente e editado em agosto com distribuição da EMI - e em 2007 vai render DVD, filmado em novembro no mesmo Auditório Ibirapuera numa apresentação restrita a convidados da cantora e de um patrocinador. A moderna teatralidade tirou o foco da voz...

Foi um 2006 de saldo bem positivo para uma artista que somente vinha errando. Em 2003, dois anos depois de ter lançado inéditas no esmaecido CD Setembro, Marina Lima fez o jogo da indústria fonográfica e tentou voltar às paradas com Acústico MTV que, de tão inapropriado, foi dos poucos da série que não aconteceu no mercado. Gata escaldada aos 50 anos, a cantora procurou (e enfim encontrou...) tom mais pessoal e chique em Lá nos Primórdios.

A decepção foi certa para quem buscou no disco - produzido pela própria Marina com Renato Alsher - a compositora de seus áureos tempos, a autora de um pop redondo. Não havia hits instântaneos em Lá nos Primórdios. A voz também continuava sem o viço de outrora, mas não soou insuficiente dentro da atmosfera do CD. No estúdio, Marina formatou sonoridade crua e rascante, urdida com um canto eventualmente falado e com sons de sintetizadores e de guitarra. Uma ambiência eletrônica envolveu repertório formado por cinco inéditas, três recriações de lados B da obra da artista e incursões pelos repertórios de Chico Buarque e Laurie Anderson. Das inéditas, o tango pop Três e o indie rock Entre as Coisas foram os destaques. Anna Bella - inspirada na artista plástica Anna Bella Geiger - chamou mais atenção por verso questionador ("Por que as mulheres também não podem ter sua sauna gay?") do que pela melodia pouco inspirada. A balada Que Ainda Virão - a faixa mais intimista do disco e única inédita que ainda não tinha sido exibida no show Primórdios - também não foi das melhores criações de Marina. Já Valeu cresceu no remix de DJ Dolores, que acentuou a batida da ciranda apenas insinuada na mediana gravação original.

As três recriações da própria lavra da compositora estiveram em sintonia com o sotaque cru do álbum. Difícil (de Todas, álbum de 1985) é a do verso "Sexo é bom!", marco na época por ser ouvido na voz de uma mulher. $ Cara veio do repertório de A Próxima Parada, disco de 1989 cujo resultado final desagradou Marina. Por fim, Meus Irmãos era de O Chamado, bom álbum de 1993. O toque mais experimental ficou por conta de Vestidinho Vermelho, abusada versão de Alvin L para Beautiful Red Dress, tema lançado em 1989 por Laurie Anderson, cantora e compositora americana, identificada com a vanguarda. De clima underground, a bela faixa apareceu também em remix feito para as pistas por DJ Zé Pedro. A outra incursão de Marina Lima fora de sua seara autoral foi Dura na Queda, o samba composto por Chico Buarque em 2000 para peça baseada na vida da cantora Elza Soares. Marina ralentou o ritmo do samba, numa modernosa releitura que nunca empolgou.

Lá nos Primórdios foi arranjado (com rara unidade) por Marina com os músicos que tocaram no show quente e sexual que gerou o disco e que chegou ao Rio de Janeiro em 1º de setembro, em três apresentações que não chegaram a lotar o Canecão. Mas, nem por isso, Marina Lima pareceu menos feliz em cena. Ao realçar sua forte personalidade musical, a artista se redimiu dos fracos discos anteriores e mostrou que continua inteira, ainda que à meia-voz...

11 Comments:

Anonymous Anônimo said...

muy bueno!

11 de dezembro de 2006 às 08:33  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, faço minhas todas as suas palavras. No alvo.

11 de dezembro de 2006 às 10:05  
Anonymous Anônimo said...

Embora eu ache bem razoável este CD da Marina, gosto mesmo é dos mais antigos. Sem comparação em todos os sentidos.

11 de dezembro de 2006 às 11:02  
Anonymous Anônimo said...

Marina já era! Ela só fez algo muito legal até o disco Fullgás... depois foi ladeira abaixo! Não sei como as gravadoras permitem q ela grave tanta porcaria e ainda por cima sem voz nenhuma.
Por favor...

11 de dezembro de 2006 às 12:20  
Anonymous Anônimo said...

nossa, dessa vez o colunista abusou de frases de efeito... em vez de crítica, vira "literatice"!!!

11 de dezembro de 2006 às 12:55  
Anonymous Anônimo said...

rosemberg

não vi o o show, mas pelo que li não foi um grande sucesso de publico, por isso minha pergunta:
mauro vc acha válido registrar em dvd um show que não aconteceu

11 de dezembro de 2006 às 14:33  
Anonymous Anônimo said...

Ana Bella, é linda!Adoro.
Mas Marina 1° 2° 3°! e 5° meus preferidos!

11 de dezembro de 2006 às 15:20  
Blogger Mauro Ferreira said...

Rosemberg, acho válido registrar todo show belo e importante para a trajetória do artista. Primórdios foi sucesso de público em SP. No Rio, não aconteceu tanto. Mas é bacana, sofisticado, até ousado.

11 de dezembro de 2006 às 18:12  
Anonymous Anônimo said...

Ouvi falar que Marina apresentou este show, ou parte dele, em San Francisco, California.

18 de dezembro de 2006 às 09:46  
Anonymous Anônimo said...

Tive dois trabalhos:

1) baixar o album todo
2) deleter o album todo

Show de horrores.

28 de janeiro de 2009 às 03:15  
Blogger Andrea said...

Melhor álbum de Marina, na minha opinião. Acho incríveis a criatividade, a ousadia, a personalidade e o talento para compor dessa artista. A voz pode ter perdido potência, mas o timbre é o mesmo e é marca registrada. No atual cenário da música brasileira, e há muito tempo, não conheço ninguém melhor do que ela. Abraço.

23 de janeiro de 2016 às 01:23  

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