22 de dezembro de 2006

Retrô 2006: Casuarina revirou o baú do samba

Cria da Lapa (RJ), celeiro de novos sambistas, o quinteto carioca Casuarina (foto) foi uma das gratas revelações de 2006 na área do samba. Seu primeiro e ótimo disco, Casuarina, saiu em janeiro, com edição da gravadora Biscoito Fino, mas o grupo existe desde 2001. E neste fim de ano - a propósito - o Casuarina já começa a pensar no segundo CD, cujo repertório será formado basicamente por inéditas de autoria dos músicos (entre elas, Certidão, samba do vocalista João Cavalcanti com o bandolinista João Fernando). Mas foi revirando os baús dos bambas que o conjunto se destacou.

À primeira audição, Casuarina, o CD, pareceu mais um disco de mais um grupo formado na Lapa por uma rapaziada que descobriu o samba a partir da revitalização do bairro, dos mais tradicionais da boemia carioca. Aos poucos, o álbum de estréia do quinteto foi conquistando o ouvinte por conta do tom bem descontraído das interpretações e, sobretudo, pela bela pesquisa de repertório feita por Gabriel Azevedo (voz e percussão), Daniel Montes (violão e vocais), João Fernando (bandolim e vocais), João Cavalcanti (voz e percussão) e Rafael Freire (cavaquinho e vocais). Houve toques inusitados como a inclusão - entre sambas e partidos de autores tradicionais - de preciosidade da lavra do grupo Novos Baianos, Swing de Campo Grande, rebobinada com graça ao lado de Teresa Cristina (ela também é cria de bares e de casas de samba da Lapa).

Exceto pela faixa de abertura, Pranto de Poeta (clássico de Nelson Cavaquinho com Guilherme de Brito), a seleção do Casuarina fugiu completamente do óbvio, o que aumentou o valor do álbum. Foi um prazer ouvir - com os vocais joviais da turma - músicas pouco conhecidas de Zé Kétti (400 Anos de Favela), Adoniran Barbosa (Já Fui uma Brasa, em que o compositor paulista satirizava, com a habitual verve, o domínio da Jovem Guarda nas rádios da década de 60), Ataulfo Alves (Laranja Madura, à altura de suas melhores criações) e Nelson Sargento (Falso Moralista). Fato: somente uma turma que entende mesmo de samba pescaria pérola como Minha Filosofia, gravada por Alcione em seu disco de 1981 (o último na antiga Philips). O grande samba é de autoria de Aluísio Machado. E o que dizer de partidos de alto quilate como Na Intimidade meu Preto (do sempre inspirado Nei Lopes) e Formiga Miúda (Wilson Moreira e Sérgio Fonseca), lado B do terceiro obscuro LP de Zeca Pagodinho, Boêmio Feliz (1989)? São simplesmente irresistíveis.

Aliás, o cantor João Cavalcanti tem um quê de Zeca Pagodinho na forma informal, meio suja, com que interpreta os sambas. O unico senão do disco foi a incursão do Casuarina pela música nordestina. Pot-pourri com hits de Jackson do Pandeiro e um tema clássico de Gordurinha (Súplica Cearense) - em gravações apenas corretas - sinalizaram que a praia deste quinteto carioca é mesmo o samba...

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

certidão é uma grande disco desse grupo bamba

6 de julho de 2008 às 10:58  

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