14 de dezembro de 2006

Reedição de 'Elis', de 1980, é realmente especial

Resenha de CD / DVD
Título:
Elis - Edição

Especial 2006
Artista: Elis Regina
Gravadora:
Trama
Cotação:
* * * *

Somente as arrepiantes versões a capella de O Trem Azul e Se Eu Quiser Falar com Deus - que reafirmam a categoria ímpar do canto de Elis Regina Carvalho Costa (1945 - 1982) - já seriam suficientes para tornar realmente especial esta reedição de Elis, álbum de 1980, o derradeiro da cantora. Mas há todo um cuidado na embalagem (em formato de DVD, com bonito encarte com fotos e letras) que faz com que a presente reedição da Trama supere, e muito, a produzida pela EMI em 2002, apesar das faixas-bônus que a EMI inseriu no CD com registros de gravações da Pimentinha em álbuns de colegas. Vale (até!) comprar de novo.

Elis foi o trabalho mais pop da cantora e, talvez por isso, resista bem ao tempo, ainda que seu repertório não seja tão irretocável quanto o de outros discos da artista. Elis estava cantando como nunca. Mais solta, menos carregada. Mais livre, menos presa aos cânones da MPB tradicional. Houve discos melhores e muito mais importantes nos anos 70, mas vale a pena reouvir Elis e constatar a grandeza da cantora. Seu mergulho pop pede uma reavaliação...

Às nove faixas originais, a Trama acrescentou Se Eu Quiser Falar com Deus (gravada para o álbum, mas excluída na última hora porque o autor Gilberto Gil ia registrar a música em seu próximo disco), os já citados registros a capella e versões instrumentais de Vento de Maio, Calcanhar de Aquiles e Só Deus É Quem Sabe (a canção de Guilherme Arantes que Mart'nália reviveu em seu disco Menino do Rio). As faixas instrumentais evidenciam os arranjos.

Outro bônus valoriza ainda mais a luxuosa reedição. Trata-se de de DVD com a entrevista concedida pela cantora em janeiro de 1982, dias antes de morrer, ao programa Jogo da Verdade, da TV Cultura. "A gente faz parte de um grande teatro", avisou Elis no início do papo mediado por Salomão Ésper com intervenções dos jornalistas Maurício Krubusly e Zuza Homem de Mello. Nem por isso, a ardida Pimenta deixou de expor as suas verdades em cena.

O alvo principal foi a indústria fonográfica. Na época, a cantora vivia entrando e saindo de gravadora. Fez dois discos na Warner entre 1979 e 1980, ano em que assinou com a EMI para gravar Elis. E planejava lançar pela Som Livre o LP que não teve tempo de fazer. "Hoje ficou mais difícil fazer um disco. A prepotência ganhou o nome de marketing. Não existe preocupação com a criatividade. A verdadeira mercadoria da gravadora é o artista, mas parece que há uma certa relutância em aceitar isso", disparou.

Contratidória, a Pimentinha incluiu o próprio nome no seleto time que gozava de alguma autonomia artística no mercado fonográfico da época para logo em seguida lamentar o limite dessa autonomia. "A gente já não tem a liberdade que tinha antes", reclamou. Entre elogios a Arrigo Barnabé (a grande novidade da música brasileira antes da explosão do rock), à geração de cantores e compositores dos anos 60 ("Tem muito pastel e feira, mas feijoada mesmo fomos nós que fizemos") e reclamações contra o alto preço do disco (mil cruzeiros, na ocasião), Elis Regina solta o verbo com a sinceridade e a intensa paixão que caracterizaram uma obra exemplar. É dez!!

24 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Elis, foi e é a maior cantora e intérprete que o Brasil já teve. Essa entrevista é tão moderna que serve perfeitamente para os dias de hoje. Podem até torcer o nariz, mas quem fez a feijoada, como ela disse, foi a geração dela mesmo. No pacote que vem Caetano, Gil, Bethania, Gal, Milton, Ivan, Gonzaguinha, Edu, Chico e Elis não existe termos de comparações com gerações mais novas, ainda que influenciadas por essa outra.
Hoje não sei se Elis teria gravadora ou ainda estaria traçando outros caminhos, como Gal, se isolando no exterior na sombra do peso e da mesmice, ou fazendo projetos e entrando de sola na mídia como Bethânia, ou se juntando a nomes mais novos pra não cair no esquecimento como Simone...
Mas, se ela estiver fazendo a festa com Vinicius e Cazuza já tá pra lá de bom!!!!!!

14 de dezembro de 2006 às 11:27  
Anonymous Anônimo said...

Bethânia tinha/tem a maior inveja de Elis por óbvios motivos . Elis era única e capaz de interpretar TUDO com maestria sem soar over . Pena que se foi ..
Salve Elis !

14 de dezembro de 2006 às 11:48  
Anonymous Anônimo said...

Ela arrasa em Mucuripe . Que é chata mas com ela não fica !

14 de dezembro de 2006 às 11:55  
Anonymous Anônimo said...

Já começaram as acomparações... Bethânia é isso... Elis é aquilo...
êta gente chata e desocupada...

14 de dezembro de 2006 às 12:30  
Anonymous Anônimo said...

" a sinceridade e a paixão que caracterizaram sua vida e obra." disse tudo Mauro .
Salve Elis !!!
Todos os envolvidos autorizaram esse dvd menos a mesma ...

14 de dezembro de 2006 às 13:55  
Anonymous Anônimo said...

Elis é sensacional, mas não acredito que Bethânia tenha inveja dela. Guardadas as devidas proporções, intérpretes diferentes não quer dizer necessariamente quer uma seja pior que a outra. Elis era tecnicamente perfeita. Mas Bethânia, quando acerta (e quase sempre acerta, a não ser que cometa bobagens como regravar "Romaria", uma canção que na voz de Elis ganhou uma versão isuperável), arrepia... Que bom que vivemos num país que tem Elis, Bethânia, Chico, Caetano, Nana, Mônica Salmaso, Rita Lee, entre outros...

14 de dezembro de 2006 às 14:34  
Anonymous Anônimo said...

segundo consta não era exatamente a bethania quem se roía de inveja.
no phono 73, elis quebrou o camarim ao ouvir os apupos da platéia ao receber bethânia no palco.
ambas são cantoras maravilhosas mas, apesar dos pesares, bethania teve (e tem)uma estrutura emocional bastante superior a pimentinha.
para meu gosto pessoal nada se compara a voz de elis mas bethania me emociona mais e me seduz a cada trabalho que apresenta.

14 de dezembro de 2006 às 17:03  
Anonymous Anônimo said...

Não entendo como tem sempre um maluco q coloca o nome da Salmaso no meio de discussões sobre cantoras..... Essa mulher é um engôdo brabo, não canta nada e ainda por cima é peluda!
E salve ELIS!!!!!! Sempre a maior!!!

14 de dezembro de 2006 às 20:37  
Anonymous Anônimo said...

Elis foi um cantora e tanto, mas problemática, pra dizer o mínimo. As encrencas que arrumou com Nara Leão, Bethânia e até Cláudia, entre outros, confirmam isso. Não sei se para alguém firmar o seu talento precisa sair derrubando e esculhambando os outros. Reconheço seu grande talento, mas essas coisas diminuem minha admiração.

Flávio

14 de dezembro de 2006 às 22:52  
Anonymous Anônimo said...

Bom, se Bethânia tem ou não inveja de Elis, eu não sei. Também não me interessa saber. Acho Bethânia espetacular. O foda é comparar qualquer uma com Elis. A baixinha tem uma história única na MPB. Veio sozinho, fez tudo o que tinha que fazer só. Contruiu um movimento sem o apoio de qualquer panela. Mudou estética. Quebrou bairreiras. E cantava com a precisão de uma Sarah Vaughan, com as divisões de uma Ella, com a paixão de uma Piaf, sendo Elis. Mesclou a emoção com a técnica de uma maneira ímpar, de uma maneira que eu ainda não ouvi em nenhuma outra cantora popular. É por isso que existe esse holofote imenso em cima da Pimenta. Pra mim, justíssimo. Salve Elis, a maior das maiores.

15 de dezembro de 2006 às 01:06  
Anonymous Anônimo said...

Concordoooooo com o comentário acima.
Mas, ja disse na história da Elis e da Bethânia insistem em dizer que a Pimentinha que se roia. Mas o bola fora inicial histórico na falta de sensibilidade foi da Betha que bebeu umas e outras e começou a opinar...Só por isso? É só por isso. Vai colocar a mão na jaula do leão!
De qualquer forma, o comentário acima espelha o meu pensamento em tudo!
Viva Elis!

15 de dezembro de 2006 às 08:17  
Anonymous Anônimo said...

Sempre levantam aqui a história da entrevista de Bethânia para o Pasquim, regada a uísque. Mas com ou sem uísque o que Bethânia falou demais. Pelo que eu me lembre falou que Elis era sempre perfeita, mas não fazia o estilo dela, não era o tipo de cantora que a tocava. Isso é tão grave! O fato da Elis ser uma cantora fantástica gera a obrigação de que todo mundo seja louco por ela, que se aprove tudo que ela tenha cantado. E todas as provocações lançadas contra a Nara Leão. Elis, da mesma forma, tinha o direito de não gostar de sua voz, de seu canto, mas nunca de faltar com o respeito com a mulher e a artista que foi Nara Leão merecia e merece. Tanto quanto Elis.

Flávio

15 de dezembro de 2006 às 10:32  
Anonymous Anônimo said...

O 11:06 disse tudo.

15 de dezembro de 2006 às 11:32  
Anonymous Anônimo said...

Comparar já é feio e inútil.Viva com morta é baixaria.Falta de respeito com as duas!

15 de dezembro de 2006 às 13:54  
Anonymous Anônimo said...

Engraçado na época do lançamento a crítica meteu o pau nesse disco.Foi chamado de descartável,coisa de cumprimento de contrato,longe do padrao habitual da Elis.No entanto hoje tão insensado.Mas sempre foi o meu preferido!

15 de dezembro de 2006 às 14:18  
Anonymous Anônimo said...

Lia, vc falou tudo o que eu diria a respeito. Assim não vale...rs

15 de dezembro de 2006 às 15:34  
Anonymous Anônimo said...

Mano Freire disse...

Rita Lee perguntou lá atrás o que aconteceu com a MPB, naquele rock de rimas fáceis e babacas.
Mas como compositora ninguém derruba Rita não. E com isso quero dizer que ninguém pergunta mais o que aconteceu agora com a MPB. Acredito que Deus chamou ELis porque se ela tivesse nesse plano esburacado daqui debaixo, teria se matado porque as grvadoras iam fazer ela cantar com gato e cachorro. Duvido que ela não estivesse recebendo Sandy, Júnior, Ivete, etcc. O mercado é e está cruel. Não sei se ela ia aturar também o pessoal do rock como o Cazuza não!!!
Parece que isso vai ficar pra Maria Rita que é bela, mas vai até pra baile funk e assiste o insuportável Falcão ( feito especialmente pra idiota daquela atriz global).Acudam-me. Deixem Elis continuar descansando em paz.

15 de dezembro de 2006 às 20:26  
Anonymous Anônimo said...

Se você ler a biografia da nara leão você vai ver que a Elis teve mesmo um treco quando a revista manchete marcou um encontro com Nara.E Nara diz que não entendeu nada, pois como sempre, ela estava na dela. Foi a Elis que teve um ataque e foi embora dizendo alguma coisa. Mas a questão da entrevista da Bethânia, pode não ter sido mesmo assim tão! alguma coisa.Mas feriu.E teve suas consequências.Você pode até achar que seja pouca coisa, mas se o artista tem como objetivo emocionar, e você diz não esse nnao me emociona apesar do figurino em dia e o cabelo...Bem!
A Bethânia não falou demais era jovem e deu um bola fora. Que digamos não ajudou em nada a história. Mas já foi.
Cada uma fez e faz a sua estrada. E não tem tanta importancia assim. Eu que sou curioso e gosto de saber, me surpreendi quando li aquela entrevista no Pasquim(no site da Bethânia)e como o Pasquim na época era uma publicação de ponta, é evidente que teve lá suas consequencias. mas isso é história, e não condeno nem uma nem a outra.E também não teria nenhuma importancia(quem sou eu pra isso?) Maravilhosas sempre foram.Não torço nem prá uma nem pra outra. Ouça sempre.Mas nem uma das duas é fácil. melhor assim, pois brigaram pelo espaço que conseguiram, e merecem todo respeito e admiração.Mas o fato histórico fica.E artistas são animais estranhos!Beijos

16 de dezembro de 2006 às 08:59  
Anonymous Anônimo said...

Elis e Bethânia: dois ícones deste país. Qualquer nação sentiria orgulho de artistas deste porte.

Maravilhosas. Incomparáveis.

16 de dezembro de 2006 às 10:23  
Anonymous Anônimo said...

Bom Dia, Mauro,

Você sabe alguma coisa, sobre uma edição que viria com o programa do show trem azul e mais o cartaz? Ou é essa mesma que você resenhou ou farão uma outra elis 80 super ou algo assim?Pergunto, pois o João Marcelo deu uma entrevista e foi citado isso.Porém, não era muito claro.
Se você tiver alguma informação poderia me esclarecer essa dúvida?
Obrigado
Humberto

19 de dezembro de 2006 às 08:27  
Blogger Mauro Ferreira said...

Humberto, de fato, João falou isso em entrevista. Nesta edição, existe a imagem do cartaz numa das contracapas(com aquele texto que diz Agora eu sou uma estrela), mas o programa, não.

19 de dezembro de 2006 às 08:34  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,
Obrigado pela resposta. Relendo a entrevista parece mesmo que farão uma caixa com esses itens do trem azul, porque o J.M diz também " e com outros mimos", deve algo como a que fizeram para a serie grandes nomes ou algo assim.
Todo de Bom
Humberto

19 de dezembro de 2006 às 13:16  
Anonymous Anônimo said...

ESTRELAS INCOMPARÁVEIS,UNICAS,ABSOLUTAS E EXTRAORDINÁRIAS!!!

P.S.-COMPARAR É MUITO POBRE...

11 de dezembro de 2007 às 09:52  
Blogger ADEMAR AMANCIO said...

Eu acho esse disco lindo e pop sim,mas aquele de 71 produzido pelo nelsom motta era bem pop e talvez o melhor de sua carreira.Ser pop no caso da Elis só confirma sua musicalidade múltipla.

13 de setembro de 2012 às 13:26  

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