3 de novembro de 2006

Show do 'Rock in Rio 3' retrata Cássia no auge

Resenha de CD
Título: Cássia Eller ao

Vivo Rock in Rio
Artista: Cássia Eller
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * * *

Já exumaram demais a obra de Cássia Eller (1962 - 2001), mas, justiça seja feita, de todas as gravações que vieram à tona postumamente, a apresentação da cantora no Rock in Rio 3 é o retrato mais fiel e vigoroso da artista, com vantagem de flagrar Cássia no auge artístico. O registro do show da cantora no festival está sendo editado em CD (foto) e, na seqüência, em DVD (nas lojas em 20 de novembro). É o primeiro produto de série de gravações do festival, idealizada pela gravadora MZA Music em parceria com a Artplan, a empresa de Roberto Medina, o produtor do evento.

Cássia Eller não sabia, mas ao subir no Palco Mundo do Rock in Rio 3, em 13 de janeiro de 2001, teria menos de um ano de vida. Pela maneira visceral com que cantou o roteiro de 13 números, até parece que intuía que, em 29 de dezembro daquele trágico ano, ela sairia precocemente de cena após alcançar explosivo sucesso comercial com ótimo CD e DVD na série Acústico MTV.

A releitura demolidora de Partido Alto - música do repertório de Chico Buarque que Cássia gravaria em seguida no acústico da MTV - já exemplifica a energia da cantora no show. Intérprete exata, a artista sabia valorizar as letras que cantava com detalhes como o riso de descrença na providência divina que ela deixava escapar após o verso "Diz que Deus dará". O registro igualmente nervoso de E.C.T. - mais pesado do que o registro original e com forte camada percussiva - corrobora a potência de Cássia no consagrador show.

"Vamos tocar uma música do Cazuza", anunciou Cássia antes de iniciar Obrigado (Por Ter se Mandado) em andamento hardcore. A ironia dos versos desta parceria de Cazuza e Zé Luiz - gravada pela cantora no álbum Veneno Antimonotonia (1997) - foi perfeita para Cássia mostrar toda sua sabedoria de intérprete.

"Vamos fazer uma música do Nando Reis", emendou a artista para, então, apresentar O Segundo Sol, número mais zen (assim como a versão voz & violão de 1º de Julho que abriu o show) de roteiro endiabrado que inclui ainda Infernal, outra música de Nando, turbinada com diabólicos solos de guitarra. "Cássia Eller é a maior cantora do Brasil", saudou, não sem razão naquele momento, Fábio Allman, o Fabão, depois de dividir com a artista Faça o que Quiser Fazer, música do grupo carioca A Bruxa, integrado na época pelo cantor, e que já tinha sido gravada pela roqueira no disco Veneno Vivo (1998). O dueto começa bluesy e descamba para o hardcore. Da mesma forma que Malandragem até começa suave, com uma pegada quase folk, e vai ganhando (muito) peso.

Ao se apresentar no Rock in Rio 3, Cássia Eller já formatava seu Acústico MTV. Por isso, Quando a Maré Encher, do repertório da Nação Zumbi, foi anunciada como "uma música do disco novo" depois da releitura - cheia de improvisos e citações - de Coroné Antonio Bento, dividida com Márcio Mello, anunciado por Cássia como "um roqueiro baiano da pesada". A Nação Zumbi - que dá depoimento no DVD sobre seu encontro com Cássia - encheu a Maré com seus tambores depois de tocar em Come Together, o clássico dos Beatles acoplado a Corpo de Lama, música da Nação.

O fim apoteótico foi com Smells Like Teen Spirit, hino do Nirvana. O público já estava totalmente nas mãos da garotinha. E ela deu show naquele 13 de janeiro de 2001, sem o tom mais comportado de seu espetáculo seguinte, Acústico MTV, com o qual a artista rodaria o Brasil naquele ano em bem-sucedida turnê. O show do Rock in Rio 3, de certa forma, foi o último grande momento em que Cássia Eller foi realmente Cássia Eller... Daí a sua importância.

2 Comments:

Anonymous Horácio said...

cássia partiu cedo

16 de dezembro de 2009 às 17:09  
Blogger ADEMAR AMANCIO said...

grande voz e intéprete,graças a Deus não era cool.

9 de abril de 2012 às 17:06  

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